01 Setembro 2024
Temos esta mania de marcar recorrências no calendário, pois não há maior angústia que a de não se poder regressar ao onde por onde passámos, não obstante o facto de existirmos num universo que isso nos nega categoricamente (pois avançamos em torno do sol que avança em torno do centro galáctico que avança por esse vácuo fora, e até o próprio vácuo se expande - e daqui, a constatação de que aquele local, aquela coordenada, nos escorre pelos dedos como todos os segundos de todas as horas). Mas é desta mania que se aviva a memória e se criam (artificiais) linhas narrativas entre o que fomos (e deixámos de ser) e o que (um dia) seremos. O último dia de Agosto assinala aparentemente esta espécie em extinção que se chama weblog, que em portuga se pode verter em ruminações verborreicas, talvez não tão nutritivas quanto outras ruminações mas sem dúvida mais sadias do que as chispalhadas das redes sociais. E como há que saudar estas discretas celebrações, segue aqui o nosso erguer de champanhe, de um blogue (termo aportugamentacizado) que entretanto se tornou (suspeitamos) um serviço de inutilidade social, a quem ainda por aqui resiste:Um viva a outros que teimam ainda, e um aguardar pelas prometidas novidades.
Outro viva a quem fazia falta e discretamente regressou, com a sua visão indispensável.
Um terceiro brinde a quem não desanimou, demonstrando a potencialidade desta plataforma para perpetuar o formato crónica, outrora imprescindível nos jornais (e tanto que estes perderam).
Um quarto louvor às notícias além-Atlântico, outro dos blogues imprescindíveis do nosso burgo.
Entrámos em passo de corrida acelerado no decair de mais um verão, que será em breve o final de mais um ano. Ao envelhecermos, o tempo acelera, ora bem. Os presentes ventos frescos não querem obedecer aos ditames do aquecimento global (estará avariado? Ou será pela falta de garantia que nos livraremos de um infernal destino?). No Porto, apregoam-se livros, ide comprá-los. Por aqui, uma chamada ao filme Furiosa, que muitos detestaram (sinal de que levam demasiado a sério o que, já na sua época, tinha ar de adaptação de banda desenhada pós-apocalíptica, sem paradoxalmente esta existir). Porque ia à cautela (e ir à cautela não é a mais saudável saudação a uma obra de arte), entranhou-se-me à força, e porque se me entranhou à força, criou respeito. Foi um regressar ao Mad Max 3, no sentido em que a história está muito consciente da sua própria mitologia, a que anteriormente criara (cada filme tem uma abordagem narrativa distinta, o que torna esta saga muito apelativa para a análise crítica), e portanto, permite-se exagerar, simplificar, distorcer, contradizer, escudar-se da perfeição - e sendo uma história-de-origem, evitar um final em absoluto. Afinal, nunca se entendeu porque é a gasolina mais procurada do que a água, em paisagem ermas.
E por falar nestas, fiquemo-nos com visões de outras, que possivelmente jamais habitaremos, embora a FC continue a crer que sim (esta iludida Humanidade!), não esquecendo que também aqui é domingo, quinze minutos no passado.