![]() Autor português de Ficção Científica e Fantástico, galardoado em 1991 com o Prémio Editorial Caminho de Ficção Científica.
Em Curso Leitura de Contos para a futura antologia Pompeias Anunciadas Publicações Conto «As Variações Eucarióticas», in Dúzia (2025) Artigo «Breve Tratado sobre os Terrores do Gado», in O Fim do Mundo em Cuecas (2023) Conto «Crónica de uma Morte Implacável», in Assim Falou a Serpente (2022) Conto «Epidermia», Orion 7. (2021) Conto «Epidermia», CLFC. (2021) Conto «Herr Prosit Lê o Cardápio», FLUP. (2020) Conto «A Queda de Europa», Orion 5 Conto «Não É o Que Ignoras o Motivo da Tua Queda Mas o Que Pensas Saber» in Contos Estraños, v. 12 - Visitantes de alén da Lúa, Urco Editora. Conto «Ai, Mouraria 2.0», Orion 3/4 Organizador de O Resto é Paisagem, Editorial Divergência. Artigo «Em Busca do Velo Que Antevia o Futuro - Parte II: As Agruras da Colecção Argonauta» in Bang! nº16, Ed. Saída de Emergência. Artigo «Em Busca do Velo Que Antevia o Futuro - Parte I: As Glórias da Colecção Argonauta» in Bang! nº15, Ed. Saída de Emergência. Conto «In Falsetto» in Mensageiros das Estrelas organização de Adelaide Serras, Duarte Patarra e Octávio dos Santos, ed. Fronteira do Caos Artigo «Os Livros das Minhas Vidas» in Bang! nº12, Ed. Saída de Emergência. Organizador, com Luís Corte-Real, de Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, Ed. Saída de Emergência Entrevista a respeito de Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa in Bang! nº11, Ed. Saída de Emergência. Conto «A Queda de Roma, Antes da Telenovela» in Assembléia Estelar organização de Marcello Branco, ed. Devir Brasil Colaboração em Mensageiros das Estrelas - Colóquios de Ficção Científica e Fantasia, Centro de Estudos Anglísticos, Faculdade de Letras, Lisboa. 2 a 5 Novembro. Co-organizador, juntamente com Gerson-Lodi Ribeiro, de Vaporpunk - Relatos Steampunk Publicados Sob as Ordens de Suas Majestades, Editora Draco (Brasil). Tradução: O Verdadeiro Dr. Fausto (Jack Faust) de Michael Swanwick, ed. Saída de Emergência. Conto «Dormindo com o Inimigo» in Dagon! organização de Roberto Mendes. Conto «Não É o Que Ignoras o Motivo da Tua Queda Mas o Que Pensas Saber» in Brinca Comigo! organização de Miguel Neto, ed. Escrito'rio. Conto «A Casa de Um Homem» in Imaginários 2 organização de Tibor Moricz, Eric Novello e Saint-Clair Stocler, Editora Draco. Conto «Dormindo com o Inimigo» in Galeria do Sobrenatural organização de Sílvio Alexandre, Terracota Editora. Conto «Deste Lado de Cá» e entrevista in Dagon n.º 0 organização de Roberto Mendes, e-zine. Tradução: A Guerra é Para os Velhos (Old Man's War) de John Scalzi, ed. Gailivro. Prefácio ao livro As Atribulações de Jacques Bonhomme de Telmo Marçal, ed. Gailivro. Membro do júri do Prémio Bang! de Literatura Fantástica promovido pela Saída de Emergência. Tradução: «A Ficção, por Henry James e Roberts Louis Stevenson», de Dan Simmons, in Bang! nº5, Ed. Saída de Emergência. Artigo: «Antologias, Fantasia & Odisseias», in Bang! nº4, Ed. Saída de Emergência. Novela: «Aqueles Que Repousam na Eternidade», in A Sombra Sobre Lisboa, Ed. Saída de Emergência. Tradução: As Crónicas da Espada - O Encontro, de Fritz Leiber, Ed. Saída de Emergência. Poema: «Sonhos de Planetas e Estrelas», in Linhas Cruzadas, Ed. Portugal Telecom. Romance, com João Barreiros: Terrarium, Editorial Caminho. Romance: Vinganças (A GalxMente II), Editorial Caminho. Romance: Cidade da Carne (A GalxMente I), Editorial Caminho. Conto: «O Mundo Distante», in O Atlântico Tem Duas Margens, Editorial Caminho. Colectânea: O Futuro à Janela, Editorial Caminho. A Ler Online A Recordação Imóvel (conto, 1996) [link] Textos em inglês Prime Station cycle |
um blog de Luís Filipe Silva Encontra-se em modo de arquivo. Para ler os textos mais recentes, clique em Página Inicial. 26 Abril 2010Possivelmente, Ainda Não Saberão, mas a antologia pulp que estou a organizar encontra-se a ser divulgada aqui.24 Abril 2010Confesso Um Saudosismo pelos debates públicos de antigamente, em que cronistas se degladiavam, cada qual no seu espaço próprio de jornal ou da rádio, trocando opiniões, insultos velados e galhardetes, comentando o comentário do outro sobre um anterior comentário do primeiro. Uma literatura em hipertexto, mas diferido no tempo e que nos obrigava a sair à rua e comprar o jornal de modo para clicarmos na hiperligação. Opinar, por sua vez, implicava escrever uma missiva e enviá-la à redacção. Era um processo mais pausado, naturalmente; por outro lado, isto permitia alguma reflexão, e mesmo que as posições fossem incendiárias, ao menos havia uma noção de texto literário, aquela responsabilidade de escrita a que só a palavra impressa obriga.Daí que encare as caixas de comentários como algo de certa forma acessório, embora convidativo à participação; destinado a informações breves e pequenas conversas, mas não apropriado ao debate. O debate sério deve ser conduzido no espaço mais nobre do post, tentando evitar o fenómeno da resposta instantânea que normalmente conduz a resultados infelizes, sabendo-se que, nesta era de hiperligações e googlismo, é muito difícil a mais tímida frase conseguir esconder-se durante muito tempo no mais recôndito dos sítios Web. Ainda assim, se este blogue não tem actualmente comentários, foi tão somente por uma questão técnica. Não sendo suportado por tecnologia proprietária, mas por um sistema de content management pessoal (cada qual com a sua mania) que vai sendo desenvolvido com esforço na obra e graça dos tempos livres - os quais há meses que não me visitam - significa que a funcionalidade regressará mas ainda sem data marcada. Uma regra vai manter-se: a aprovação dos comentários para que se tornem visíveis. Isto não está relacionado com questões de anonimato mas de decência e pertinência. Tal como em casa, gente rude e maltrapilhos sem educação ficam à porta. E se querem afixar publicidade gratuita, tenham a gentileza de pedir «por favor» e «com licença» ao dono, ou no mínimo apregoar produtos que sejam do interesse dos leitores do sítio. Sejam criativos, inesperados, inteligentes, irónicos, sarcásticos, irreverentes, informativos, mas acima de tudo, adultos. O dia que amanhã se comemora trouxe-nos um novo tipo de Liberdade há algumas décadas, parido com suor e lágrimas. Infelizmente, há quem não perceba que até a liberdade tem Manual de Utilizador. E se a gente rude e mal-educada tiver mesmo necessidade de expelir o conteúdo intestinal que lhes sai da boca, é perfeitamente livre de criar os blogues e fóruns gratuitos que queira - mas longe daqui, para que não se sinta o cheiro. Creio que esta posição aborda a preocupação da resposta a esta reacção. O Rogério explica melhor (algo que não era obrigado a fazer, mas a que generosamente se voluntariou) os critérios que orientaram a sua escolha dos livros portugueses na mostra internacional. Tem razão quando afirma que há pouca FC nacional na passada década e foi pertinente lembrar-se da disponibilidade das editoras. Infelizmente, este rigor nos critérios não foi seguido pelos restantes participantes e acabou-se num resultado desigual, surgindo Portugal como um dos que teriam menos a oferecer. Por vezes, nestas coisas, é preferível pecar por excesso, e ir além dos limites da pergunta. Diga-se de passagem que, a nível de Espanha, por ser o outro mercado que acompanho com alguma regularidade, estou convicto de haver um bom par de exemplos que muito dificilmente teriam interesse aos leitores anglo-saxónicos... Bem, haverá certamente outras ocasiões. Fica o apelo à reflexão ou debate sobre clássicos e FC, que tenho a certeza que não vai acontecer. Existe uma grande apetência para discussões acesas sobre temas generalistas, muito pouca sobre livros em concreto. Passar da fase do «gosto/não gosto» para a da interrogação sobre a pertinência do tema, a integridade da estrutura, a boa ou má caracterização dos personagens. É com grande pena que não encontro vontade para estes debates nos fóruns, e talvez a principal razão pela qual não contribuo. Creio que ainda não é desta que vamos saber se, na mente dos leitores, Os Caminhos Nunca Acabam será o primeiro grande clássico da FC portuguesa... 23 Abril 2010Está Online O Conto que acompanhou o excelente artigo de Maria Leonor Nunes, «A Invenção do Futuro» no JL, sobre os desafios da criatividade num mundo de contínua evolução tecnológica. Uma peça bastante modesta, como aliás, já aqui se tinha referido.22 Abril 2010É Como Se Nesta Era guardar memória fosse um hábito decadente e o passado, algo de que nos envergonhamos. Refiro-me à atitude da nossa civilização a tudo o que cheire a bolor, que fique no báu demasiado tempo. Nesta era, aos livros não se permite a dignidade de se desfazerem em folhas soltas de lombada partida, fruto do manuseamento e testemunho do Tempo, as margens não amarelecem, as capas não se apagam lentamente ante a exposição prolongada ao sol numa montra que nunca muda, qual polaroid às avessas. Nesta era, os livros não são como o vinho, não repousam nas livrarias a aguardar que o leitor nasça e cresça e finalmente os descubra, vinte anos depois, arrumados num canto - não acontecerá esta história de descoberta, esta vivência do amor de dois seres que estavam destinados.Nesta era, os livros são transformados em polpa por causa do número que aparece numa linha própria de um outro livro feito de números. Todos sabemos que as palavras são esguias, enquanto que os números são disciplinados. As palavras vivem das sombras e das curvas, os números vão directos à questão. Um livro feito de palavras não é páreo para um livro feito de números. As palavras podem cantar, mas os números berram e fazem-se ouvir. A beleza que existe nos números não é a beleza estética das palavras; se num mundo justo ambos poderiam brilhar, neste mundo tortuoso e complicado travam um combate desigual. Em particular se a pessoa que os avalia tem também números a pesar-lhe na alma. Que os livros não esperem por nós, é um incumprimento da natureza do livro. Que nos seja negada, pelas circunstâncias da nossa civilização, a oportunidade de descobri-los como antigamente, é uma perda na nossa vida. E depois esta sensação de algo irrecuperável que vemos afastar-se, como se lançado à forte corrente. O que se afasta somos nós. Aquilo que fomos. Aquilo que fizemos. Quando esta descoberta não acontece, a experiência de vida não acontece. A ausência de memória torna-se na memória da ausência. Se o livro não está na prateleira, não o compramos. Se não o compramos, não o lemos. Lemos o próximo, lemos o livro ao lado, mas não lemos aquele. E porque o livro não volta, nesta época que rejeita a figura da coisa antiga, lentamente desaparece, desvanesce-se, nunca se ouviu falar. Não se escreve sobre. E por isso, não existiu. Entende-se que a tendência do esquecimento tenha influenciado as escolhas limitadas. Que o ritmo diário e a pressa de responder tenham abreviado a reflexão. Ninguém é infalível, leituras são subjectivas e gostos não se discutem. Talvez se desconheça inclusive até que ponto outras obras preencheriam os requisitos adicionais de destaque na imprensa (o que se entende por destaque e qual a imprensa em causa?) e de best-seller (como medir best-sellers em diferentes épocas?). Em particular se as recomendações que acabaram sendo apresentadas são irrepreensíveis, todas as duas. Mas depois não se entende - o destino é falar de clássicos, e clássicos, em eras de antanho, costumavam abranger décadas que não a presente. O truísmo de que há pouca FC em Portugal não deixa de ser incompleto, ao não informar que na década anterior, e nas décadas antes dessa, o fantástico que havia era quase exclusivamente FC. A ausência de informação vai tornar-se na informação da ausência. Ao ombrear com listas que remotam ao início do século XX e ostentam inúmeros galardões literários (ainda que, se formos esmiuçar as recomendações estrangeiras, possamos chegar à conclusão que a recomendação nacional terá sido, correctamente, mais exigente no cumprimento dos critérios pedidos), resta uma inadvertida mas infeliz sensação de pobreza de exemplos, de uma cultura figurativamente menos expressiva. A esta sensação mistura-se um certo desconforto pessoal - estará na suspeita de quem lê e não faz sentido negá-lo. Ainda que não tenham sido pedradas no charco - longe disso -, há obras do próprio que mereceriam ser incluídas, pois aconteceram na aridez que sempre caracterizou o género neste país. E muito antes destas, mandando devidamente o próprio à fava, ainda que não se quisesse incluir o tal calhamaço de referência a quatro mãos, existiriam uma Pedra de Lúcifer, um Limites de Rudzky, um Veleiros do Tempo Cósmico... Perguntarão: quer-se assim dizer que tem de haver uma lista mandatória de obras a mencionar em todas as ocasiões, e se não for cumprida comentários como este vão imediatamente surgir, qual prima-dona apupada em palco? A resposta imediata é não. Excepto talvez no caso em que a resposta imediata é sim. Em que somos embaixadores da História do país no palco das Histórias de muitos países. Lágrimas de Luz (para falar do concreto e do conhecido) é um livro cheio de falhas que marcou a geração de 1980 em Espanha. Temos equivalente? Diria: Os Caminhos Nunca Acabam. Cheiinho de falhas, é verdade, mas é nosso, é um marco, merece destaque, e precisamos de aceitá-lo. E como a este, outros. Não pretende isto ser mais do que um comentário cordial, que, antes da publicitação do feito, talvez surgisse em conversa privada. É algo que está longe de ser importante, perante a vontade partilhada de desenvolver o Fantástico nacional - e reconheça-se neste âmbito a tal incrível e muito admirável capacidade em reunir e incluir as mais diversas franjas do Fantástico nacional, inclusive contra trabalhosas e inesperadas resistências do dentro do próprio meio. Mas ainda assim é um comentário que não podia deixar de acontecer. Talvez o que valha a pena seja perceber questões mais profundas. Existem clássicos do Fantástico português? Temos todos consciência dos mesmos? Variam por pessoa, por faixa etária, por preferência de género, por experiência de leitura? É fácil definir um «clássico»? E será exequível apontar sem falhas o que se considera por Fantástico nacional? Fica o desafio à reflexão. 19 Abril 2010Mais Do Que Todas as políticas de protecção do livro, mais do que uma reviravolta na eficiência da indústria livreira, mais do que fusões e aquisições destinadas a reduzir o custo de produção e obter economias de escala para colocar exemplares em mais pontos de venda a melhor preço, mais do que um aumento brutal da qualidade das traduções, mais do que uma estratégia bem sucedida do livro de bolso, mais do que livrarias com cafés e música para atrair clientes, mais do que capas inovadoras com relevo e prateados, mais do que expositores altos ostentando personagens enigmáticas, mais do que promoções e pacotes de descontos, mais do que reportagens na imprensa e espaço nobre no telejornal, mais do que passar palavra em blogues, mais do que criar booktrailers, mais do que falsear polémicas para chamar a atenção, mais do que inventar dias de festa temática e feiras locais, mais do que andar a vender de porta em porta e à entrada do metro, mais do que qualquer esforço nacional, o Eyjafjallajökull será, com grande probabilidade, o principal contribuidor para o crescimento que este ano se irá verificar na procura de livros de edição portuguesa, pelo simples facto de impedir que as habituais edições estrangeiras, encomendadas por particulares ou pelas distribuidoras, cheguem por via aérea ao nosso país, retidas na origem ou nos hubs europeus de distribuição do correio internacional situados na Holanda e Alemanha. A par do que já contribuiu para a redução das emissões de carbono e do consumo de petróleo graças a todos os vôos não realizados.Há duas formas pelas quais podemos inscrever o nosso nome no grande mecanismo do progresso: sermos excepcionalmente eficientes e criativos para que se desenvolva e cresça de forma inédita, ou sermos abismalmente obtusos e «empatas» quando chega a nossa vez de contribuir de modo que nada avance até que nos venham pedir (e oferecer) favores. A Islândia, sem prever, terá encontrado o seu lugar na História. Actualização: surgiram dúvidas perfeitamente razoáveis de que os meus comentários poderiam estar a referir-se a um recente debate sobre a natureza da edição da FC em Portugal, agora e no passado. Nada poderia estar mais longe da verdade, inclusive porque, por afazeres pessoais, não dediquei o tempo necessário a ler e ponderar os extensos argumentos apresentados e logo nem sequer o tinha em mente quando escrevi isto. O referido acima aborda o mercado livreiro nacional como um todo de forma generalista, e não a FC ou posturas e opiniões pessoais. Apenas queria deixar aqui este esclarecimento. 18 Abril 2010Uma Colecção de Referências e acontecimentos dos últimos quinze dias:
14 Abril 2010Não Se Trata De Destaque o facto de colocar aqui excepcionalmente um apontamento para a tristeza anónima do primeiro da sequência de comentários (e efectivamente, se é para alvitrar tristezas em público, então que sejam anónimas) mas aproveitar a ocasião e o exemplo (pois com tanto anonimato escreveu-se precisamente onde se queria lido) e mostrar-vos que também no meio irrisório e patético da FC nacional se encontra este tipo de triste gente. E se bem triste é esta triste gente, tanto mais triste se torna por nutrir invejas ou ressentimentos no patético e irrisório meio da FC nacional.Este meio não vai habitualmente à televisão, não entra nas Correntes de Escritas nem Literaturas em Viagem, não faz telenovelas nem é convidado a escrever colunas insossas para os semanário da praça ao preço do diamante; e se integra colunas de revistas ou jornais nacionais é no papel do totó da aldeia, que vem falar de totozices para os demais totós, que é para não se sentirem excluidos da compra dos ditos jornais e revistas. Alguma vez o totó participa no debate do que Realmente Interessa à gente da Literatura? Alguma vez o totó opina sobre os Bolaños de ocasião e ajuda a encher os bolsos e egos de todos os penduras locais das modas ditadas por Nova Iorque? Até diz que não quer, que não precisa, agarrado a uma pretensa marginalidade de um género que torna milionária muita boa gente lá fora. Mas depois depara-se com a triste gente e vira rei. Afinal, só um rei tem seguidores e ressabiados. E se os seguidores podem ser mais ou menos fieis, a verdade é que os ressabiados são do público mais atento que existe. Escutam todas as palavras, decifram os significados escondidos de cada semântica, vão aos dicionários conferir ortografia e aos compêndios validar a gramática. À procura daquela falha, desta escorregadela, dessa incongruência. São o público dedicado que o país não tem, que a cultura não permite. É imaginá-los horas e anos e vida e energia dedicados a esta senda. É imaginá-los a fumegar ante afirmações certeiras, quais caniches de Pavlov - dá-se-lhes um choque eléctrico e saltitam no ar, a latir, irritadiços, com a cauda curta chamuscada, daquela forma pequenina e divertida que lhes é tão própria. Auf, auf, auf! No final, o que fica? A validação de um estrelato, o orgulho de pertencer à douta companhia dos demais mencionados no fôlego, e o divertimento secreto de notar que, com tanto anonimato apregoado, esqueceram-se que a forma pessoal da escrita, meus caros, é cá uma linguaruda... 07 Abril 2010Em Tempos Que Já Lá Vão, a simpática Sarah Adamopoulos publicava no jornal Independente uma referência a um comentário meu na revista Ler, em que eu mencionava a possibilidade de (citação obtida de memória, não será textualmente exacta) «(...) o livro electrónico substituir o livro impresso e outras parvoíces, que se perdoam quando se lê O Futuro à Janela.» Obviamente que chegámos a 2010, quase vinte anos passados,e o livro tradicional não só não foi substituido, como a facilidade de produção artesanal com elevada qualidade, através do print-on-demand e desktop publishing, elevou a edição a níveis incomportáveis para a apreciação individual. Chegará o dia em que haverá livros editados sem terem um único comprador nem um único leitor, levados na enxurrada como pirilampos de vida breve...Mas se o objecto livro não corre riscos de ser ultrapassado para já - enquanto se acertam e desacertam os aparelhómetros de leitura electrónica -, o que acontecerá à criatividade perante a evolução das redes sociais, das tecnologias colaborativas e da própria capacidade de interpretação sintática e sintagmática dos programas informáticos, à medida que estes se tornam aptos a descodificar e analisar as regras da linguagem natural? Eis o desafio que a jornalista Maria Leonor Nunes me colocou há semanas, no decorrer da preparação de um artigo sobre a influência da tecnologia no processo artístico. Para complementar a visão científica com a do escritor. E devo dizer que foi o mais interessante desafio jornalístico dos últimos tempos. O dossier foi publicado hoje no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias e recomendo a todos, pela excelência do tema e da escrita. Um dossier como há muito não encontrava, recordando-me os textos extensos de opinião do suplemento literário do Público dos meus vinte e poucos anos, em que o João Barreiros e o José Manuel Morais iam apresentando os temas actuais e clássicos da FC. A acompanhar este dossier (do qual está publicado online apenas uma amostra), encontrarão um mini-conto inédito meu (era suposto ser apenas um par de frases em jeito de introdução ao tema, mas cresceu...) e outro do João Ramalho Santos, sobre possibilidades do futuro. O meu foi escrito a pensar em grande medida no público do jornal, pelo que apresenta um escritor a sentir na pele os efeitos imediatos de um Grande Irmão de secretária (que para qualquer escritor, será naturalmente o crítico literário) - se para o público em geral será um conto inócuo e divertido, desconfio que para os escritores tradicionais, protectores das suas palavras e decisões literárias, verão nele um terror com grande probabilidade de acontecer... Uma nota final sobre a representação da Ficção Científica neste artigo, que não poderia ser mais positiva. Fala-se de futuro e possibilidades, de mudança face ao presente, consideram-se as tendências actuais na equação do devir. Em suma, vê-se a Ficção Científica em acção, a fazer o que sempre fez de melhor: recorrer as técnicas de extrapolação e colocar-nos numa realidade que, não sendo a nossa, não é de todo impossível de suceder. Mais do que apresentar autores em traços gerais e não os livros que escreveram, mais do que reproduzir desilusões e apatias e deixar uma memória vaga em quem lê de algo desinteressante e acabado, afirmaria que este é sem dúvida o melhor artigo sobre a apresentação das potencialidades da FC publicado num jornal nacional nos últimos anos. E sem dúvida que para isso contribuiu a entrevista e inclusão de cientistas, quiçá mais apostados num futuro glorioso que (pasme-se!) os defensores da FC cá da casa, em que me incluo. Uma lição para todos aprendermos. 04 Abril 2010Ficções Gratuitas. O género fantástico vai, semana a semana, sendo enriquecido com textos disponibilizados na internet pelos autores lusófonos. Destaque para as últimas contribuições de que tive conhecimento. Quem quiser participar, deverá anunciar-se no Twitter com a etiqueta #contosfc. Só serão considerados textos integrais em blogues e revistas online (fóruns não contam, e publicações em série apenas quando cada parte se apresentar completa).
03 Abril 2010DIAS DE POLPA (I). O número 72 de Tenebras apresentava já os sinais de decadência próprios de uma revista em vias de terminar: a periodicidade passara de semanal para quinzenal, o número de páginas reduzira-se e o conteúdo era quase completamente composto por material republicado ou reaproveitado da congénere espanhola (cuja banda desenhada inclusive chegaria a publicar no castelhano original).Foi, como muitas outras, uma revista para rapazes que chegou e partiu sem grande furor, tendo no entanto conseguido o feito de apresentar ao público nacional pranchas do mítico Tarzan, desenhadas por Foster e Hogarth - algo que, por sinal, acabaria em entrar em concorrência directa com o Diabrete, de mais saudosa e permanente memória, o qual se antecipara a incluir nas suas páginas as histórias desenhadas do herói de Burroughs. No entanto, o Tarzan de Tenebras acabaria por seguir os moldes da versão espanhola, algo que agradava à censura de então, pois tudo o que mostrasse um pedaço de pele a mais era devidamente coberto a mando dos censores franquistas, tão ou mais acérrimos que os nossos (embora não tão fundamentalistas quanto os italianos, que não permitiam sequer que o Tarzan mostrasse a peitaça...) - e, num aparte, como por vezes as histórias não chegavam a tempo à editora espanhola e esta via-se obrigada a recorrer a desenhadores da casa (Iranzo, Blasco, Alfonso Figueras), os leitores portugueses eram presenteados (em igual desconhecimento de causa que os leitores do país vizinho) com sequências de aventuras de que nem o público norte-americano tinha conhecimento... O grau de amadorismo da publicação, comparada com os exemplos mais interessantes e populares do Diabrete e Mosquito, que alcançaram tiragens na ordem dos milhares,^acabaria por aliar-se a dificuldades na distribuição e afastar Tenebras do público potencial, vetando a revista ao fracasso. Ainda assim, conseguiria assegurar a inclusão de autores nacionais, entre eles Fred Kartas (a ubíqua Anne Sophie von und zu Hadegg) com os primeiros contos do Espectro da Noite, e principalmente Tiago Rosa, o malogrado jornalista e escritor dos anos 20/30 cuja obra, hoje praticamente desaparecida, foi sendo salva esporadicamente do oblívio por republicações clandestinas, como a deste número de Tenebras. No caso particular de o «Inconsciente», terá sido o editor-assistente, um certo jovem de nome Farias de Oliveira (de quem apenas sabemos que terá ingressado como moço de recados no Diário Popular aquando da inauguração deste em 1942, logo rapidamente solicitado para dar uma ajuda adicional às revistas populares da tipografia, não obstante a sua absoluta inexperiência editorial), a recuperar o texto de um exemplar da revista anti-Modernista O Sapo de Fraque que existia ainda na biblioteca do pai. Como do Sapo de Fraque não há mais memória (em particular da paródia negra ao Homem Invisível em terras lusas, também da autoria de Tiago Rosa), ficaria o «Inconsciente» para a posteridade como o primeiro exemplo das histórias tenebrosas que se tornariam no apanágio deste autor...
...o qual poderá (re)ler n'Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, em breve numa banca perto de si. 02 Abril 2010Estes Bizarros Seres Com As Suas Bizarras Obsessões sobrevivem em condições miseráveis, dependentes das migalhas que o mundo lhes lança depois de se ter consumido numa orgia de moda, carros, sexo, dinheiro, conflitos e demagogias - situação que não é estranha aos escritores de Ficção Científica. Sim, o LHC pode ser um projecto esotérico e caro, mas há objectivo mais vital para a perpetuação da raça humana, no longo prazo, que o de entender como funciona o universo? É preciso mendigar por atenção? Esta semana fomos testemunhas de que conseguimos gerar energias e dar luz a partículas (e quem sabe, outros nano-universos) que só surgem, normalmente, em condições específicas e extremas do espaçotempo. Conseguimos entender o que isto significa? Infelizmente, os nossos cérebros reptilianos não conseguem evitar a reacção primitiva ao brilho das moissanitas da civilização - e o progresso científico, que requer funções mais elevadas da mente, fica assim para trás, o diamante em bruto de uma cultura que não existiria sem a sua contribuição. Ao menos existem uns seres que, em jeito de subversão, disseminam as histórias e os fantasmas associados a estes feitos... | ![]()
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