Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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28 Junho 2009

Além Da Alienação Das Gentes Com Fios Brancos dependurados das orelhas, afastadas do momento e lugar presentes como quem lê um livro, o iPod, aparelho anódino de uma empresa que só não dominou o mercado informático devido à sua eterna postura de encarar o computador como algo no qual ninguém podia mexer (diga-se o que se disser da Microsoft, a verdade é que a visão «um PC em cada secretária» foi absolutamente revolucionária - tratar o computador como plataforma de trabalho universal e não como outro electrodoméstico), trouxe também a facilidade (efectivamente permitida pelo iTunes, mas isso são pormenores técnicos...) de poder descarregar-se ficheiros áudios publicados periodicamente por determinadas fontes - assim nascia o podcast.

Por meio de feeds, que é como quem diz instruções que informam de forma normalizada os restantes computadores e aplicativos do tipo de conteúdo de determinado sítio, a colocação regular destes ficheiros áudio tornou-se no equivalente de programas de rádio emitidos em determinados dias, a determinadas horas. Bastaria à pessoa interessada «subscrever» a referida publicação - para todos os efeitos, controlar automaticamente a existência de novos ficheiros e descarregá-los assim que estivessem disponiveis - e ir ouvindo, tranquilamente, os novos programas. O mecanismo estava montado: havia criadores e havia ouvintes.

A adopção foi bastante rápida - uma  rapidez que começa a ser habitual nos nossos dias, como se estivessemos já preparados para a nova forma de utilizarmos a tecnologia existente (o terrível choque do futuro de que se falava há umas décadas torna-se progressivamente no delicado embate de uma pena do futuro). De novo, a internet permitiu que qualquer criador atingisse qualquer ouvinte sem a intermediação das estações de rádio, deixando funcionar a meritocracia da qualidade e do interesse. Os podcasts abundam, actualmente - tanto que, tentar segui-los a todos, ainda que numa humilde área como a Ficção Científica, seja impossível nas poucas horas de lazer do dia. Há podcasts de divulgação, podcasts de debate, podcasts de ruminações pessoais. Há podcasts que oferecem a leitura de contos e romances, aquilo que se conhece como audiolivro, ou promovem folhetins radiofónicos (um formato do meu grande apreço que graças a este meio está a renascer).

Nem todos são bons - se a organização do texto é importante para a palavra escrita, a qualidade da voz, do som e da leitura são imprescindíveis para uma emissão áudio. Aliás, a grande maioria resultam de esforços pessoais, por quem ainda está a dar os primeiros passos neste meio. O que interessa aqui ressalvar é que a tecnologia está ao dispor de todos, e com perseverança e algum engenho, consegue-se sair do anonimato e acabar nas páginas do New York Times, como aconteceu ao Scott Siegler (um autor mediano que teria dificuldades em ser publicado e a seguir teria desaparecido nas prateleiras de uma qualquer livraria, não fosse a forma original como decidiu edificar uma audiência - colocando capítulo a capitulo a leitura dos seus romances e a seguir promovendo-se até à exaustão).

Claro que ao «dispor de todos» tem um senão - há que saber inglês. E há que conseguir ultrapassar alguns dos sotaques e alguma terminologia específica dos países de que estes criadores são oriundos. Neste caso, como em muitos, a adopção pela língua portuguesa, àparte as ocasionais experiências na área do humor por profissionais que também têm presença na rádio e na televisão, ainda é um deserto.

Felizmente que, como é regra nos desertos, nem todos os oásis são miragens, e foi com prazer que descobri o que talvez seja o primeiro podcast de fantástico em língua portuguesa chamado Papo na Estante. O título denuncia imediatamente a origem além-mar, e embora só o tenha descoberto recentemente, já se encontra na 11ª emissão, a última dedicada a vampiros tupiniquins (leia-se: histórias de vampiros escritas por autores brasileiros) demonstra a potencialidade deste veículo para a divulgação do fantástico, de uma forma leve, divertida e bem-humorada. A produção é de Thiago Cabello, Ana Carol, Eric Novello, Alfredo Monte e Ana Cristina Rodrigues (actual presidente do Clube de Leitores de FC brasileiro).

Desejamos-lhe vida longa e ficamos a aguardar por mais exploradores arrojados, de qualquer parte do mundo lusófono.

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14 Junho 2009

O Fenómeno dos Buracos Negros - a singularidade criada pelo colapso gravitacional de uma estrela da qual nem a própria luz, e logo o tempo, se escapa - é possivelmente uma das mais fascinantes descobertas teóricas do século XX, e alimento para uma série infindável de histórias de Ficção Científica. Entre estas, o romance Gateway, de Frederik Pohl, publicado entre nós com o título de A Porta das Estrelas na colecção Argonauta - a saga de um explorador de artefactos da misteriosa raça Heechee que andava sem sorte, até a sua equipa (onde se encontra a amada) acabar presa nas suas garras gravíticas de um buraco negro durante a última missão; como o pobre coitado é o único a escapar-se, volta para casa cheio de remorsos e roído pela culpa, e nem todos os milhões de dólares que recebe como único sobrevivente da expedição o aliviam deste pesar. É então que a teoria relativistica intercede e lhe lembra que a dilatação temporal quando se cai para um buraco negro implica que, mesmo tendo-se passado décadas, os amigos ainda não morreram, a queda ainda continua a acontecer, de forma cada vez mais lenta, dando ao homem a possibilidade de tentar um salvamento. O livro é muito interessante e um dos melhores de Pohl. Infelizmente, o autor decidiu dar-lhe continuação numa série de outros romances e contos de menor qualidade - embora acabem por revelar que os Heechee possivelmente desapareceram para o interior de um buraco negro massivo.

O grande destaque da edição portuguesa desta saga ficará contudo para sempre com a criativa tradução do título do segundo volume, de nome Beyond the Blue Event Horizon no original. Perceber o título requer uma explicação técnica, que avisamos desde já, é feita por um amador na matéria e deverá ser confirmada por leituras de quem conhece realmente o assunto... O «horizonte de eventos» é o que se chama à zona limítrofe entre a singularidade e o espaço comum, a partir da qual nada escapa - nem a luz, nem a matéria nem qualquer outro «evento» cósmico. Existe contudo, a possibilidade de que um buraco negro em rotação, principalmente por via do princípio de incerteza quântica aplicada ao efeito quântico de túnel no vácuo (criação de pares de particulas virtuais em que um dos elementos do par consubstancia-se numa partícula real por via da atracção gravítica do buraco negro sobre o outro elemento antes de ambos terem tempo de se aniquilarem mutuamente), emita partículas, ou seja, tenha uma temperatura, com desvio espectral para o azul. Ora, esta capacidade de «fuga» de um buraco negro rotativo é fundamental para o nosso caro protagonista socorrer a equipa e a amada, e livrar-se do sentimento de culpa, e logo o título, ao falar de um «horizonte de eventos» que é «azul» e prometer que iremos viajar «para lá de» está a criar desde logo uma expectativa no leitor e a explicar de que trata afinal o romance.

O tradutor português não entendeu nada disto, ou alguém na editora não quis entender. Foi assim que «Para Além do Horizonte de Eventos Azul» foi traduzido no lírico Para Além do Acontecer...

Tristes tristezas, sem dúvida.

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12 Junho 2009

Um Vídeo Perturbante passado em Lisboa. Aparentemente isto foi completamente ignorado pela imprensa portuguesa. Nele podemos ver a estrutura da Ponte sobre o Tejo a derreter ante a acção de um feixe de calor extraterrestre. A qualidade da imagem não deixa perceber o feixe nem a nave (que se situaria algures sobre o Tejo) mas o testemunho é inabalável. As explosões ao fundo contribuiram para o espanto generalizado, mas felizmente que ocorreram acima da superfície pelo que não houve danos de maior, e até a ponte se safou. As pessoas estavam demasiado atordoadas para reagir. Após este encontro do terceiro grau, os alienígenas desapareceram na atmosfera. Havia quem dissesse que os tinha visto abastecerem-se de cerveja na 24 de Julho no início da noite... Até os extraterrestres tomam atitudes vergonhosas quando estão bêbados...

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11 Junho 2009

Apenas Para Avisar que o segundo desafio do Passatempo Kate Wilhelm já está no ar. Aguardamos as vossas participações. As respostas ao primeiro desafio ultrapassaram as nossas expectativas.

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07 Junho 2009

São Já Conhecidos os contos destacados da primeira semana do passatempo Kate Wilhelm. Confiram os resultados aqui. De referir que começo a ter a sensação, após as participações deste concurso, do Pulp Fiction à Portuguesa e de outras circunstâncias, que os novos autores portugueses de fantástico preferem o formato conto, ao invés do formato romance - ao contrário do que seria de esperar, dada a fraca tradição contista da nossa literatura (comparativamente a outras). O domínio de tema e unidade dramática que normalmente está ausente dos textos mais longos é normalmente atingido nas pequenas ficções. Não deixa de ser um fenómeno curioso...

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Melhor Que Qualquer das Prequelas enquanto explicação da Guerra das Estrelas é este simpático «George Lucas in Love», curta que adquiri há uns anos e que finalmente posso partilhar graças ao YouTube. Além de ser um trabalho de respeito pela obra mais conhecida da FC popular, acaba, no decurso da brincadeira, por a contextualizar como o conjunto de delírios da juventude que aparenta ser, ao invés da fantasia madura e consistente em que muitos tentaram desnecessariamente torná-la.

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06 Junho 2009

Pulp, Pulp e Mais Pulp. Há seis meses que terminou o prazo de submissões para o Pulp Fiction à Portuguesa e desde então temos estado calados. É compreensível que isto enerve alguns entusiastas. Em particular nesta época em que, no meio de tanta agitação editorial e primeiras obras publicadas à pressa, não existam espaços de tertúlia fiáveis e honestos que permitam aos novos autores jogarem-se de braços abertos à ferocidade da crítica e sairem de lá transformados e mais capazes de distinguir a boa da má prosa. No meu tempo, a tertúlia chamava-se DN Jovem, e garanto-vos que ajudou imenso. Entrava-se à custa do mérito, e ainda que conheça quem não concordasse com alguns critérios editoriais aplicados (embora não entenda porquê, uma vez que os textos lá publicados eram de extrema qualidade - e obviamente que não falo das minhas humildes tentativas), servia como rito de iniciação, motivo para encontros, e um prazer enorme em saber que o nosso nome tinha sido levado, naquela terça-feira, a todos os pontos do país. É compreensível, assim, que qualquer oportunidade de publicação sirva como forma de justificação do autor. Ainda bem que assim é, e ainda bem que existe o interesse. Como aliás se pode comprovar pela centena de participações que recebemos, beyond our wildest dreams, de todos os géneros e feitos, sendo a maioria de participações lusitanas. Por todas elas, e pelo vosso interesse, os meus profundos agradecimentos.

Em que ponto se encontra o projecto, então? Bem, considerem que os contos são levados a campeonato e têm de chegar às finais. A primeira etapa de selecção já aconteceu, e os nitidamente desenquadrados (houve quem enviasse histórias intimistas sem um pingo de acção contrariando o espírito da coisa) e os de prosa perturbada (que é como quem diz, desconhecimento do português) não fizeram parte das selecções iniciais. A seguir começaram os jogos de pontuação, e quase num paralelo com um campeonato, nesta fase os contos ganham pontos numa análise mais estreita, e em competição entre si. As eliminações que ocorrem são já de um nivel profissional - o enredo não está bem estruturado, ou a situação não é credível, ou a abordagem contradiz-se no decurso do texto, ou é demasiado previsivel,  ou a história acaba por não ter um fim. Não é obviamente uma selecção totalmente taxativa, mas algo é certo: se após duas ou três leituras um conto ainda nos deixa na dúvida, é porque quase certamente não se enquadra.

Chegamos assim aos oitavos-de-final, e aqui as eliminatórias já começam a acontecer. O número de participantes reduz-se, e os contos serão comparados entre si. Não é um processo fácil, pois o processo de escolha é mais delicado. Procura-se encontrar as qualidades do conto entendendo primeiramente se os que nos apraz e o que nos afasta dele são qualidades intrínsecas e reconhecidas por outros, e não derivadas somente de gostos pessoais. Não que se prometa uma selecção completamente objectiva - afinal, os autores e os editores querem-se pela sua subjectividade, pela sua forma particular de ver o mundo. Mas quem selecciona tem de estar consciente que os seus gostos pessoais podem interferir e impedir que o livro se revele no seu pleno, pois quem manda são as histórias.

Felizmente, há contos que atravessam, por vezes velozmente, todas estas barreiras, e prometem ser bons candidatos para as finais. Deste processo demorado, resultarão uma dúzia, mais ou menos (o número dependerá da dimensão dos contos e do tamanho final do livro) de galardoados para constarem da primeira antologia assumida de Pulp Fiction à Portuguesa.

Por isso, não desanimem e aguardem mais um pouco. A demora que experimentam não é mais do que a consequência de haver pouca capacidade de profissionalização neste mercado. O negócio dos livros do lado de quem escreve neste género não é suficiente para pagar aquelas contas que nos chegam todos os meses, e portanto a vida intromete-se nos prazos, que é o mesmo que dizer que acaba por ser um acto de paixão. É difícil para todos, em particular para vocês, público fiel que vai seguindo as nossas obras e contribuindo para o nosso crescimento. Mas no conjunto ainda somos poucos, e como qualquer movimento que depende dos números, é preciso espalhar a palavra. Não deixa de ser uma honra saber que são as nossas palavras que saciam a vossa sede. Mas falta ainda transformar o vosso familiar, amigo, vizinho, desconhecido da rua em ânfora. Só assim o oásis poderá cobrir o deserto.

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03 Junho 2009

I Have Seen The Future e foi uma experiência de dissonância cognitiva. Não há melhor modo de datar um filme que pela tecnologia retratada.

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