Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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31 Julho 2007

A «SOMBRA» AINDA MEXE, neste caso pela mão do Rui Baptista, que lhe dedica uma breve apreciação. E constitui mais um exemplo de como a imprensa escrita pouco anda atenta ao nosso género fantástico, uma vez que as críticas ao livro (ou seja, comentários de leitores efectivos, e não crónicas generalistas, como, por exemplo, a dos «Meus Livros», na qual, não obstante o merecido valor da divulgação e dos autores destacados, se percebia que o jornalista não lera uma única página do livro - ou se lera, não mostrou tal na reportagem) aconteceram primordialmente no espaço bloguista nacional, as quais se deveram principalmente ao entusiasmo dos respectivos autores (que não são pagos para informar o público leitor, ao contrário dos referidos jornalistas) e sem os quais teria o livro teria mais uma vez passado completamente despercebido. 

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POSSIVELMENTE UM DOS PIORES livros de FC jamais escritos e publicados em Portugal (João Barreiros dedicou-lhe um magnífico artígo demolidor chamado «As Cores do Disparate», infelizmente indisponível online), As Cores do Espaço de Marion Zimmer Bradley - versão original - encontra-se agora disponível online de graça, em versão áudio e texto. Para fanáticos absolutos da autora.

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28 Julho 2007

LEITURAS DE LEITURAS DE VERÃO. Não sabe que livros poderão distraí-lo na praia dos berros dos putos, do buço crescente da esposa, das glândulas mamárias da loura falsa ao lado que tem o namorado ciumento e irascível, dos altifalantes a tocar Tony Carreira e anunciar novos produtos contra o pé de atleta, dos adolescentes a tocar rap português em altos berros, do senhor de meia-idade e cabelo grisalho impecavelmente penteado a dizer em bom som ao amigo que está a pensar trocar o Mercedes por um Saab antes de enviar os miúdos para estudar em Inglaterra? Então aceda à revista de críticas Some Fantastic para algumas interessantes recomendações, e esqueça-se por uns minutos desta triste realidade consensual.

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A VIDA É EFÉMERA se em cada segundo se desperdiça a possibilidade de um ano. Então, aguardar numa fila de supermercado é um sacrifício generoso em prol das gerações vindouras, que herdarão os artigos. Então, é angustiante contemplar um pacote de leite cuja data de validade é superior à expectativa de vida. Então, escolher o que realmente nos interessa fazer (agora) é bem mais intenso e livre de culpa e igualmente aleatório. Um dia estaremos todos nesta situação. Um dia terá a última manhã, nascerá incompleto, partirá sem nós. Se este dia fosse toda a nossa vida, eis a proposta de Heather Lindsley, em «Mayfly», que podem ler ou ouvir.

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25 Julho 2007

O QUE ANDO A ESCREVER. Segurou-se às amarras mais próximas. O animal aproximou-se rente à superfície das ondas, uma abordagem lenta e surpreendentemente delicada para tamanho porte. O pescoço articulado adiantou-se. No extremo deste segurava-se uma cabeça esguia e um par de olhos destacados, negros.

O ser ergueu-se, passou a rasar por cima deles, volteou no ar, desceu, e fez nova passagem. O pescoço articulado permitia que a cabeça se mantivesse fixa e estável sobre um alvo, mesmo em movimento, compensando os movimentos rotativos das manobras. Durante todo o tempo os olhos mantiveram-se postos no viajante.

Finalmente voltou a ganhar altura, apresentando a bolsa da cauda ao vento, que a insuflou. Seguiu pelo caminho que eles também percorriam, em direcção ao porto, à cidade.

O viajante encarou desconfiadamente os companheiros de viagem. Estes devolviam-lhe a atenção com um misto de curiosidade e divertimento. Sabiam o que tinha acontecido.

Aqueles pássaros deviam ser olhos do grande colectivo. Escutas aéreos para recolher informação.

Se abrigara o desejo, mesmo por instantes, de chegar incógnito ao porto de Boston e assim entrar num dos poucos pontos de contacto do território ocupado e oculto das Américas com o mundo exterior, essa possibilidade tinha acabado de expirar. Os Angst sabiam que chegara. E se um deles sabia, em breve todos saberiam.

A história tinha início.

(Estreia em Novembro)

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24 Julho 2007

GOSTARIAM DE HABITAR NUMA CIDADE-REDOMA pimba? David Louis Edelman apresenta 20 razões para tal. Imaginem a versão à portuguesa, com feijão e arroz de cabidela à fartazana, música incessante do Quim Barreiros e do Tony Carreira, longas e intermináveis filas de espera nos serviços públicos onde dez empregados encostados à parede supervisionam o mais lento de entre eles empilhar cuidadosamente os cinquenta formulários necessários por cada inscrição na piscina... o bom é que trabalhar significaria, nesse futuro brilhante, somente premir alguns botões ao longo do dia e passear de um lado para o outro a queimar tempo... embora a nível da política tivessemos de aguentar com «an all-powerful government headed by a charismatic but dim figurehead that operates under a set of hazily defined rules, insists you not question its judgment, and takes care of insurrection by dragging people off to some remote facility nobody’s allowed to see for vague and undocumented punishment.»

Fantástico como estamos tão longe deste estado de utopia.

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23 Julho 2007

TAMBÉM HÁ FICÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL, o que é um título incorrecto, uma vez que no Brasil o fandom encontra-se activo, existem dúzias de sites dedicados a escrita criativa e/ou colaborativa, incluindo a publicação de livros (dos quais destaco o Intempol e o Projecto Slev), e com uma dinâmica que da nossa parte sempre considerámos invejável. Só assim se entenderia a existência de um Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica que todos os anos tem vindo a ser editado, e que, como se nota na apreciação do Roberto Causo, o habitual sumário português da autoria de Jorge Candeias bastava para nos retratar (que pena não estar disponível na internet...). É uma pena este abismo do oceano e dos mecanismos da língua, que dificultam a nossa apreciação mútua. Mereciam mais atenção do que actualmente lhe conseguimos dar, e bem mais divulgação pelas livrarias. Basta para isso ler alguns dos bons autores editados entre nós (Bráulio Tavares, Gerson Lodi-Ribeiro, o próprio Causo - todos na Caminho). Não é à toa que o André Carneiro é conhecido e divulgado nos Estados Unidos. Não é à toa que uma académica norte-americana (Elizabeth Ginway) lhes dedicou recentemente um estudo extenso (Brazilian Science Fiction: Cultural Myths and Nationhood in the Land of the Future, crítica aqui, com edição em português pela Devir do Brasil).

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22 Julho 2007

EIS UM POSSÍVEL MOTIVO DA QUEBRA de sucesso da Ficção Científica? Esqueçam por instantes a arrogância patente na escrita deste artigo, apesar de o autor tentar mais adiante disfarçá-la com sorrisos e um just kidding . Esqueçam que está mais preocupado com as roupas que os autores vestem do que com as ideias que veiculam, tanto que nem se digna a apresentar devidamente uma única destas ideias («And there are several grown men apparently untroubled by the fact that they’re wearing backpacks to a social event, yet troubled to the point of madness and eczema by pretty much everything else», como se o propósito da reunião dos Escritores Americanos de FC&F fosse discutirem as últimas tendências da moda... argumento que o parágrafo seguinte, no qual percebo um grande nível de sarcarmo, não redime: «Not that there’s anything wrong with that. This is, after all, a gathering of fiction writers, and if fiction writers were good at going to parties, well, most of them wouldn’t be fiction writers. Fiction is a job for people with Big Ideas, not a flair for small talk—and with the exception of Tom Wolfe, they’re generally too concerned with topics like the human condition and the fate of the world to worry about their appearance.») Esqueçam por momentos que este senhor só conhece Verne e Wells e Shelley e Crichton, todos eles demasiado antigos ou marginais ao género actual para descrever a complexidade que actualmente o caracteriza. Esqueçam o pressuposto cabotino de que os escritores de FC têm como função obrigatória prever o futuro, como se algum humano nascesse com poderes divinos de antecipação, bem como o facto de ignorar que se trata de um exercício intelectual supostamente para proporcionar prazer e entendimento e não visões do porvir («If your goal is to persuade and be believed about the truth of a particular point, then what would possess you to choose to work in a genre whose very name, fiction, explicitly warns the reader not to believe a word she reads?»). E atentem somente nesta citação:

«The world is speeding up, you may have noticed, and the rate at which it’s speeding up is speeding up, and the natural human curiosity that science fiction was invented to meet is increasingly being met by reality. Why would I spend my money on a book about amazing-but-fake technology when we’re only a few weeks away from Steve Jobs unveiling a cell phone that doubles as a jetpack and a travel iron? As for the poor authors, well, who would actually lock themselves in a shed for years to try to predict the future when, in this age, you can’t even predict the present?

But the science fiction writers—not only of America, but of the world—should not beat themselves up. If, through their talent and imagination, our species has progressed to the point that it no longer requires their services, then that should be a source of pride, not shame, and the rest of us should be honoring these obsolete souls, not making fun of their beards and backpacks in snarky, supposedly humorous commentaries [...]

Let everything but the truth be “Fantasy,” I say, and let the truth—the searing, unmanageable, discombobulating truth of the lives we have invented for ourselves in a world it took artists to imagine—be Science Fiction.»

E desta citação, a pergunta, para ponderar, que já formulei em outras ocasiões: se o grande problema da falta de seguidores do género se traduz na ausência de um futuro inspirado, concreto, consensual? Nos anos 40 e 50 todos queríamos chegar à Lua e aos planetas, colonizá-los, disseminar a estrutura da família-padrão com maior ou menor controlo do Estado consoante a tendência política do autor. Todos nós conhecíamos o futuro, fossemos leitores de FC ou não. Mas que futuro é comum a todos nós, actualmente? Como é possível de facto estabelecer uma meta de sociedade quando não sabemos que forma vai assumir o mundo no mês seguinte? Algum espanto que os leitores se virem para o conforto medieval da fantasia, sempre estática, e que se afastem da FC?

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APROPRIAR-SE DE ACONTECIMENTOS DO QUOTIDIANO para fins literários é uma faca de dois gumes: se por um lado mostra uma cultura capaz de ficcionar a sua própria experiência e guardar dela memória, por outro lado exige um rigor e uma responsabilidade de abordagem acrescido - na apresentação dos factos, na dissecação dos pormenores, e mais importante, na subtil atribuição da culpa inerente a qualquer processos narrativos -, uma vez que se torna difícil a pesquisa, o vencer da relutância de falar sobre os acontecimentos, a completa isenção das testemunhas ante um caso tão recente. Gostaria de ver nesta notícia um sinal de que caminhamos progressivamente, à semelhança da cultura anglo-saxónica, para a fixação em romance da nossa história recente - para quando uma grande, corajosa e assumida história sobre a Guerra Colonial? - e de certa forma um sinal de respeito da sociedade ante o acontecimento, por não deixar que seja esquecido, e contudo, a acreditar no artigo (e na extrema irresponsabilidade de frases-feitas de o «escritor pode permitir-se tudo» quando aplicadas a obras inspiradas em factos verídicos, em particular quando sabemos que este argumento não tem grande validade em tribunal) receio que a abordagem tenha sido afinal outra, que o escalpelo tenha sido aplicado não ao de leve mas à machadada, em suma, resultado de uma breve recolha de frases de jornalistas, uma colagem com pontuações, inícios de capítulo e preposições, juízos de tasca, e pronto, temos livro de ocasião...

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21 Julho 2007

UM PAR DE COMENTÁRIOS interessantes sobre a saga do jovem feiticeiro e da sua não tão jovem mas agora muito mais rica mãezinha. O primeiro do João, o segundo do David (e estamos de acordo com o facto de este relatar um episódio bem «mais aterrador»). Quanto a mim, que tive há pouco na mão um hardcover em inglês a quase trinta euros de escrita mediana e enredo (para mim) sem interesse, o episódio Potter tem sido seguido à distância, mais fascinado pela completa obsessão dos miúdos que de olhos brilhantes nos canais televisivos exprimem a emoção apaixonada pela vinda do novo livro (fossem assim os meus leitores...), e pelo completo delírio dos meios de comunicação que bebem até à última gota do cálice da banalidade (mas ajudam a vender livros, falassem eles assim dos meus...). Creio que o momento mais revelador foi, para mim, de sentar-me num café em Barcelona no início da década, quando o fenómeno ainda estava fresco, e observar um rapazinho (com os seus nove, dez anos?) completamente imerso nas respectivas páginas. Devorando-as com voracidade, com um prazer que, creio, só naquelas idades se sente. Se Rowling tinha alguma varinha mágica em casa com que abençoou a escrita banal, ainda bem que o fez. Aquele rapaz poderá nunca ler mais nada na vida, mas aquele momento de intensa entrega nunca o abandonará. Rowling terá uma audiência fiel até ao fim da vida - como o têm os Rolling Stones, os Pink Floyd, os Doors, os Queen... estão a ver o paralelo? Na verdade, trata-se de uma pergunta: se nesta época de excesso de oferta cultural e de tentativa de manipulação mediática para nos levar a comprar obras que não têm a mínima qualidade, o Harry não se terá revelado como um farol de sinceridade e força narrativa que cativou muito simplesmente a atenção do público? O problema do excesso de oferta é que o bom (que é pouco) dilui-se no ruído do mediano e do mau (que são avassaladores) e conduz à pobreza da escolha, e mesmo à sua desmotivação. Todos temos actualmente a capacidade de saber que este escreve como aquele, que escreve como o outro, ou que este livro sobre a segunda guerra foi comprado por alguém que comprou o outro livro sobre o Iraque... o que escolher, então, entre tantas mãos levantadas? Porque havemos de confiar na opinião daquele crítico, se pode estar influenciada pela pressão dos anunciantes ou por snobismo intelectual? Não é preferível seguir os comentários dos outros leitores na Amazon, supostamente desinteressados? Mas, esperem!, os leitores da Amazon já não são tão desinteressados assim, alguns procuram obter reconhecimento, outros são veículos de promoção do livro por parte das editoras... em quem confiar? Em quem confiar? Voilá, no pequeno feiticeiro. Voilá, nos Beatles. A razão está em descobrir e gostar? Eventualmente até se gosta - mas mais importante ainda, todos os outros gostam. Todos os outros falam. Todos os outros pergunta, Então já leste? Em tempos, em muito, mesmo muito tenra idade, fui compelido a assistir a um episódio do Homem-Aranha, RTP2, de que não gostava particularmente, em detrimento do dos Marretas, RTP1, que adorava, e que por pouca sorte eram transmitidos à mesma hora no domingo... No dia seguinte, falar-se-ia de isso na escola, e estava a ficar farto de não participar nas conversas. É possível que este tenha sido um momento decisivo na forma como condicionaria futuramente as minhas escolhas, pois não senti que participar na conversa e estar no grupo fosse tão recompensador quanto o prazer de assistir a algo que valia a pena... e dali em diante voltei a escolher os Marretas em todos aqueles (distantes, diferentes) domingos. Por isso entendo, mas não aceito totalmente, o seguir atrás da manada. Mas sei que muitos não pensam assim. As modas são um fenómeno compulsivo para os fracos de escolha. Ler é um acto solitário, a não ser que seja em voz alta. E Rowling, percebendo o facto, refugiou-se de forma discreta no espírito de autora e conduziu a obra (pelo menos, aparentemente) ao seu modo. Não teve receio de matar personagens no fim. Mas segundo me disseram, não mata o protagonista, para que possa regressar daqui a uns bons anos, quando os próximos livros não forem capazes de obter o mesmo nível de vendas e a editora a pressionar para voltar à saga. O dinheiro fala muito alto. O que admiro nela, no entanto, é a extraordinária capacidade de escrever ante a responsabilidade e a exposição. Porque tanto depende dela - tantos empregos, tantas apostas empresariais, tanto dinheiro empatado em grandes tiragens - e tantos gostariam de vê-la falhar, que é fabuloso como um simples bloqueio de escritor não lhe toma conta do braço. Escrever já é complicado quando somos pouco conhecidos... Veremos o que fará a seguir.

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