Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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24 Abril 2007

APENAS UMA MENÇÃO NÃO CRÍTICA, mas que teve o seu impacto (vários foram os amigos que me telefonaram a dar os parabéns), no programa Com os Livros em Volta, da TSF.

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TUDO COMEÇOU COM UM MANIFESTO DE OPINIÃO do actual vice-presidente da SFWA (Associação dos Escritores de FC Americanos), Howard V. Hendrix, na qual chamava de fura-greves («scabs») os autores que começavam a disponibilizar gratuitamente na internet partes das suas obras, ou mesmo obras completas, comprometendo a acção dos restantes que tentavam obter maiores e melhores direitos de autor junto das casas editoriais. Infelizmente misturado com um pendor a tender para o tecnófobo, o manifesto, ou melhor dizendo, o desabafo, concluia a argumentação com estas frases que despoletaram a polémica (vale a pena seguirem os links propostos, desta vez):

I'm also opposed to the increasing presence in our organization of webscabs, who post their creations on the net for free. A scab is someone who works for less than union wages or on non-union terms; more broadly, a scab is someone who feathers his own nest and advances his own career by undercutting the efforts of his fellow workers to gain better pay and working conditions for all. Webscabs claim they're just posting their books for free in an attempt to market and publicize them, but to my mind they're undercutting those of us who aren't giving it away for free and are trying to get publishers to pay a better wage for our hard work.

Estaria correcto? A presença de trabalhos online propencia à não compra por parte dos leitores e por consequência à diminuição dos lucros dos autores? O debate foi acérbico (recomendo a argumentação calma e racional de Bacigalupi), mas o aspecto mais positivo terá sido a declaração do International Pixel-Stained Technopeasant Day (adaptação muito livre: Dia Internacional do Tecno-Parolo Que Faz Umas Coisas na Net) pela Jo Walton, no qual, coincidindo com o dia mundial do livro, se convidava os autores a colocarem ainda mais material disponível nos seus websites com acesso gratuito.

A adesão foi imediata e universal (embora quase exclusivamente por parte de autores praticamente desconhecidos ou que já tivessem uma forte presença na internet; ou seja, a nova geração; verifiquem a nítida ausência de Dan Simmons, Silverberg, Le Guin, Gene Wolfe, entre tantos outros, e a discretíssima ausência de menção formal na revista Locus), e o resultado pode ser apreciado nesta e nesta compilações. O debate entre os principais contribuidores, Stross, Scalzi e Buckell, pode ser escutado aqui.

Para mim, a melhor lista continua a ser a dos Nomeados para o Prémio Hugo, dos quais foi também disponibilizado gratuitamente o romance Eifelheim, de Michael F. Flynn (muito discretamente, a par do também excelente Blindsight de Peter Watts).

Ah, então, e os portugueses? E a minha opinião sobre o assunto? Isso, meus caros, são cenas do próximo episódio...

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19 Abril 2007

UMA VISITA BREVE A UMA EXPOSIÇÃO virtual da Universidade de Delaware. A propósito, alguém adivinha onde se podia encontrar a seguinte revista? Na mão enluvada de quem?... (pista: está aqui no menu da direita.)

An image of Amazing Stories.

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O QUE SE TERIA PERDIDO EM DRAMATISMO se este restaurante tivesse elevador... (aparentemente foi necessário um mês só para fazer esta cena única, sem cortes, e dois operadores de câmara.)

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16 Abril 2007

REVISITANDO UM TEXTO INFORMATIVO sobre as Colecções de FC portuguesas, na antiga Trilha. Desde 2004, eis o que aconteceu:
  • Argonauta - praticamente inexistente, há meses que não sai um número novo. Interrompeu-se assim (definitivamente?) o ritmo mensal da mais antiga colecção de FC em português (faria este ano o seu 50º aniversário)
  • Europa-América - da colecção Nébula saiu num volume pesadão a primeira - e lamentavelmente, de vários comentários e críticas temos fortes razões para crer que a única - parte da saga de Cátia Palha, no que parece ter sido uma tentativa demasiado evidente e mal concebida de ganhar terreno na fantasia juvenil; após o inevitável fracasso (pela experiência do mercado, o livro é demasiado caro e de fraca qualidade e nem sequer apoiado de forma promocional para poder ganhar o necessário terreno que mostrasse à editora a validade de apostar neste tipo de estratégia), aguardamos para ver qual será a estratégia da editora para a colecção, sendo que já experimentou no passado recente a publicação de obras de reputada qualidade (Walter Miller, Connie Willis), sem desta resultar igualmente o sucesso experado (a nossa afirmação deriva do senso-comum: se não fosse assim, teriam continuado nesta senda). Há muito tempo que se aguardava que uma das mais representativas colecções de FC nacionais (englobando os livros de bolso, que cessaram por completo há vários anos), a única que durante quase duas décadas conseguiu ombrear com a Argonauta e ir mantendo-se viva, considerasse válida a inclusão de um autor de língua portuguesa; mas D. Sebastião chegou tarde de mais, quando já não havia prestígio mas apenas oblívio em tal publicação, e surgiu sem armas nem capacidade de lutar.
  • Viajantes no Tempo - Neil Asher foi publicado, Richard Morgan ainda não, embora a respectiva tradução tenha sido entregue há anos (palavras do tradutor).
  • Via Láctea - foi recentemente editado Os Guardiãos da Noite, numa tradução directa do russo, o que indicia que a colecção continua a mexer-se e a saír da extrema identificação com o público adolescente; se foi um caso pontual ou a inauguração de uma tendência, os próximos capítulos dirão.
  • Portal FC - esta já não publica mais.

Entretanto, no meio deste cenário lúgubre, novas esperanças:

  • Gaialivro - tem publicado fantasia juvenil, na maioria por autores nacionais, com algum sucesso comercial; a diminuição do ritmo e a recente tendência para escolher autores estrangeiros indicia que o estratagema se está a esgotar.
  • Bang! - colecção de Fantástico da Saída de Emergência, já publicou Robert Howard, Michael Moorcock, Dan Simmons e autores nacionais; é a colecção mais activa do momento, embora as tendências sigam a fantasia mais do que a FC propriamente dita.
  • Chimpanzé Intelectual - não uma colecção mas uma editora, que se inaugurou quase exclusivamente com propostas no ramo da FC em língua portuguesa, sem dúvida uma aventura inédita e corajosa (já tive oportunidade de dizer isto pessoalmente ao editor).
  • Livros de Areia - outra pequena editora cuja proposta se centra quase exclusivamente na área do fantástico, embora com uma selecção de obras mais eclética e alternativa que o comum anglo-saxónico das editoras acima, que, a continuar, poderá vir a fazer por este género o que a Caminho de Bolso fez pela FC nos anos 80; também já incluiu um autor nacional.

Apenas uma nota de esclarecimento relativamente à minha posição quanto aos jovens autores de fantasia cujas obras foram apressadamente tomadas e levadas a público, com maior ou menor discernimento editorial: a questão não está aqui em discutir a qualidade nem a escolha literária das obras que estes autores decidiram trazer a público; também não será de emitir juízos de opinião sobre o que aparenta ser uma atitude oportunista de mercado das editoras (que têm de sobreviver num mercado pequeno e difícil), embora com estas não consiga encontrar tantos motivos de perdão, pois, por muitas boas intenções que haja nas decisões tomadas, há um natural grau de liberdade e risco que se pode propor a um autor desconhecido e que um autor experiente ou com alguma presença no meio teria imensas reservas em seguir. Não é também uma questão de critérios literários: há um lugar para o Eragon e respectivos derivados, e se frequentemente criticamos a sua presença excessiva no mercado, é por reconhecermos que, a gostos virgens (onde se incluem obviamente os dos jovens leitores, mais propícios a procurar as novidades do que a descobrir clássicos empoeirados), um McDonald's será confundido com haute cuisine, e daí a necessidade de alertar para os possíveis efeitos secundários do produto (ao contrário da maioria dos bens de supermercado, os livros não trazem advertências ao consumo), sendo um dos mais perniciosos o de estragar o paladar e por conseguinte impedir o consumo de boa literatura, daquela que não entope as veias do pensamento e traz algum contributo à vida. Também não seria justo, nem sensato, tecer críticas formais sobre o que constitui o imaginário da juventude actualmente, exposta a um conjunto de influências, se não completamente diferentes da minha experiência passada, pelo menos o suficiente para que a produção literária desta geração seja distinta da geração de há quase duas décadas (não tecer críticas formais não significa que não tenha uma opinião e que não a apresente em outros fóruns; a diferença é que a opinião é formulada com base em gostos pessoais e critérios literários predilectos, enquanto que a crítica formal tenta ser isenta e reconhecer a existência de outros critérios, por muito que choquem com os primeiros). Não: a minha efectiva ressalva é, primeiro, de considerar que as obras produzidas careciam de maior trabalho editorial, de maior experiência do autor, e em certos casos, de uma extensa revisão do estilo e do português utilizado (ao contrário do inglês, a quem isso se perdoa, é comum na nossa língua escritores que, logo em tenra idade, revelam uma riqueza lírica forte e se destacam face aos demais), face ao grau de exposição ao público - que se sabia de antemão que seria elevado, no qual a mínima fragilidade destacar-se-ia negativamente sob a intensidade da ribalta - isto não é só uma desconsideração para com os autores, como para com o público alvo, pois denuncia a típica atitude de que os «putos papam qualquer coisa», o que não podia ser mais insultuoso e errado. E em segundo lugar, de suspeitar que, agora que o filão parece estar a acabar, não exista um plano de salvaguarda destes autores. E então, o que lhes sucederá, depois dos poucos anos de sucesso? Como enfrentarão o desânimo, como farão a transição para temas mais adultos? Sentir-se-ão desapoiados pela falta de crítica, ou incompreendidos pelas reacções demasiado negativas? Continuarão a escrever na área do fantástico, a ler esse tipo de obras? Lembrar-se-ão os autores da Presença e da Gaialivros, daqui a uns anos, que marcaram a sua presença no fantástico nacional? É algo que só o tempo dirá, e onde os próprios terão forte intervenção, se não desistirem da escrita nem da experiência da juventude, o que esperamos que aconteça, pois entre o conjunto havia algumas promessas interessantes. Suspeitamos que, a existir plano de salvaguarda, este terá de ter origem nos próprios, pois decerto que as editoras dificilmente o terão. O trabalho destas está feito, o mercado ordena, há que avançar. Infelizmente, esta é a realidade da vida. Não foi por acaso que o desaparecimento da colecção da Caminho e do prémio bienal fez dispersar os autores que nela publicavam ou podiam ter vindo a publicar. Já basta que sejam os maus rumos da História os que se repetem.

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12 Abril 2007

AND SO IT GOES que Kurt se foi deste mundo, depois de uma vida a batalhar pela ironia da vida e pela desclassificação da sua obra (consideravam-no como escrevendo Ficção Científica, o que supostamente renegava ou considerava limitativo). Em português, temos os excelentes Galápagos, Matadouro Cinco (ambos Caminho) e Barba-Azul (Difel). Em inglês está tudo. Façam a vossa escolha. E se quiserem conhecer melhor o homem, aparte o que encontrem no Google, eis desde já um documentário extenso. O que poucos comentam é que com Vonnegut foi também Kilgore Trout, e essa é outra grande perda para o género... («went into the house farting and tap-dancing to warn the owners the house was on fire, and the head of the house killed him with a golf stick» é talvez a melhor narrativa jamais inventada sobre o problema da comunicação com alienígenas...)

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11 Abril 2007

UM BLOG AO MESMO TEMPO original, divertido, cativante e despretencioso. Tantas coisas que muitos outros blogs (inclusive este?) se esquecem de ser... (E uma óptima forma de promover um livro e um real estilo de escrita.)

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10 Abril 2007

NINGUÉM É VERDADEIRAMENTE ADULTO? Benjamin Rosenbaum conduz a premissa ao extremo neste interessante conto que tem agora uma versão audio. Atentem na perspectiva literária do adulto face ao ponto de vista da criança «incrementada» (neste caso, uma criança que não cresceu fisicamente para lá dos Nove anos):

It reminded me of my own mother, oohing and aahing over brick-hard cookies I'd baked her one winter morning in the slums of Maryland, back when my aetial age was still tied to Nature's clock. My mother holding up the wedding dress she'd planned to give me away in, its lacy waist brushing my chin. One evening in college, when I'd looked up at the dinner table, halfway through a sentence -- I'd been telling her about The Hat On The Cat, my distributed documentary (a firebrand polemic for Under-Five Emancipation; how cybernetics would liberate the Toddlers from lives of dependence) -- and saw in her eyes how long ago she'd stopped listening. Saw that I wasn't Nine to her, but nine. Saw that she wasn't looking at me, but through me, a long way off -- towards another now, another me: a Woman. Big globes of fatty breasts dangling from that other-me's chest; tall as a doorway, man-crazy, marriageable; a great sexualized monster like herself, a walking womb, a proto-Mommy. She was waiting for that Susan, Woman-Susan, who would never show up.

Este ponto de vista é singular mas comum ao género - uma alteração no status quo dos fenómenos que consideramos actualmente naturais e intocáveis (o crescimento das crianças, neste caso) e que graças à tecnologia passam a constar do domínio da nossa vontade e controlo. Em nenhuma outra manifestação literária se conseguiria, com tamanha autoridade, desprendimento e consequente autenticidade, demonstrar a perspectiva proposta. Neste caso, encarar um adulto não como um fim a atingir, mas como um estádio a evitar, longe da pureza e controlado pelas hormonas - uma alteração radical do senso comum, do que acreditamos hoje em dia. E notem que, sem a bengala tecnológica, sem a verosimilhança de um pseudo-rigor científico quase concretizável, este mecanismo literário não funciona, ou perde o impacto, não passaria de uma mera técnica impressionista, distanciada da realidade. Desde que não se incorra no erro de exceder a descrição técnica dos procedimentos subjacentes ao admirável mundo novo, é nesta manifestação do género que a TecnoFantasia se manifesta: a conquista lenta e progressiva de território aos processos da Natureza.

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09 Abril 2007

UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA das noveletas concorrentes ao Hugo deste ano pode encontrar-se aqui, com os respectivos links de acesso às histórias (os autores incentivam a disponibilização online das obras para ajudar à votação, já não há desculpas para não andarmos a par do mundo). The Djinn's Wife, entretanto, foi galardoado na semana passada com o British SF Award (o qual atribuiu para melhor romance o excelente End of the World Blues do Jon Courteney Grimwood, que está a tornar-se melhor a cada livro que escreve...)

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08 Abril 2007

E LÁ MORREU DE VEZ O DN JOVEM, no dia 30 de Março de 2007, mantido a funcionar pela coragem e persistência de ex-colaboradores (olá, Sandra, olá Sónia), escondido em versão online no site do jornal, e apenas com uma referência na edição de fim de semana em papel, assim como quem tem vergonha, aquele epifenómeno a que o Eugénio de Andrade - se a memória não me atraiçoa, que o autor já não é deste mundo - apelidou de «aqueles miudos com borbulhas do jornal», assim descontextualizado numa estranha atitude de autor consagrado perante a malta nova, e no entanto ali, persistente e eterno durante anos, sempre à terça-feira, tema livre a alternar com tema proposto, e uma coluna de rejeição que muito servia o propósito de incentivar à melhoria. Em 1996, o ano da sua primeira morte, chegava eu aos 26 anos, idade limite para colaborar, e propus ao Manuel Dias um texto de despedida, que, vicissitudes dos atrasos e do espaço, ficou na calha para constar da última edição em papel; mas esta acabou por conter uma montra das honrarias que o suplemento granjeou ao longo do tempo, e logo este texto, que agora vos apresento, não chegou a surgir. Existem já movimentações para que a ideia do suplemento se mantenha vivo na internet, mas desligado do jornal, independente, e assim talvez mais solto. Quando tiver mais informações, aviso. Entretanto, aqui fica aquele texto de despedida, um sopro de uma idade menor.

 

REMINISCÊNCIAS

1. Quero falar-vos de um futuro. Um futuro próximo, vinte a trinta anos de distância de hoje. Neste futuro habitará um grupo muito especial de pessoas. Estarão a atravessar a meia-idade, envoltas nos seus problemas e vidas pessoais. É um grupo muito variado; contém todo o tipo de profissões, todo o tipo de interesses. Os seus elementos nasceram e habitam diferentes regiões de Portugal, e até do mundo. A maioria nunca se encontrou, ou raramente, em ocasiões muito específicas. Diferentes idades e gerações estão incluídas nele, podendo haver uma diferença tão grande entre o elemento mais novo e o mais velho como a distância do presente a esse futuro. Não mais terão consciência de fazer parte do grupo, pois o que os unia já se encontra afastado no tempo, na memória.

Mas, por vezes, abrem as velhas e poeirentas pastas de arquivo, e nelas encontram as fotocópias, o papel amarelecido, as folhas escritas a caneta ou marcadas pela impressora - e lembram-se.

Um dia escreveram para o DN Jovem.

Para muitos, será talvez uma recordação fugaz da juventude, pois não chegaram a prosseguir a via da literatura, por falta de incentivo ou de vocação - mais um dos caprichos dessa época, em que o tempo corria a favor da vida e havia liberdade para se preocuparem com as questões mais intimistas dos seus universos pessoais. Para outros, terá sido o início de uma carreira ou de uma vida literária activa; ter-lhes-á aberto portas ou oferecido uma oportunidade, um espaço que os incentivava a escrever, a pensar, a receberem críticas pelo que faziam, a conhecerem o orgulho muito pessoal de encontrarem o nome em letra de imprensa na página de um jornal que chega a todos os cantos do país. Para esses, manteve acesa a chama, acarinhou a comunicação e a troca de ideias; promoveu um local de encontro, pois os escritores pertencem àquelas raças que não conseguem crescer em isolamento.

Nesse futuro, reconhecer-se-á, finalmente (nem que seja nos corações das centenas de colaboradores), a importância que o DN Jovem tem na definição da literatura jovem portuguesa do final do século. A meia dúzia de páginas do Diário de Notícias que se manteve fiel e constante, todas as semanas, durante anos e anos, de espírito aberto a estilos, a experiências, e principalmente à forma de diamante em bruto das promessas, das vozes muito jovens. O único local que não foi elitista; que tinha divulgação ampla e abordagens para todos os gostos; que, no deserto de publicações que é o nosso país, manteve a diferença, mesmo em relação aos outros periódicos, mesmo sabendo que da existência do suplemento não adviriam ganhos suplementares de monta.

E à história do suplemento ficará para sempre ligado o nome do seu coordenador. Daquele que manteve vivo o espaço e a discussão.

Manuel Dias, esta geração de escritores e artistas nunca conseguirá retribuír-te o que te deve.

2. Para terminar, uma perspectiva do passado, do DN Jovem como era há oito anos, quando o conheci. Desde então, passou-se quase uma década, que viu surgir vários estilos, várias tendências e vários autores que se destacaram. Nomes fugazes vêm à memória, alguns que saíram do gueto, como o José Riço Direitinho, outros que tiveram a sua fama dentro daquelas páginas e nunca mais foram ouvidos. Lembro-me em particular dos casos do Eduardo Tomé, que produziu apenas meia dúzia de crónicas mas nelas conseguiu sintetizar um conjunto de pormenores sobre a vida da juventude portuguesa absolutamente perspicazes; da Lara, cujas narrativas eram quase confissões românticas de uma verdadeira paixão pela vida e pelas pessoas, embora tivesse apenas uma história para contar - narrativas estas que me inspiraram a escrever um dos poucos contos que ainda consigo reler, mas que, embora tenha já seis anos de idade, nunca foi publicado. O Alexandre Andrade iria surgir pouco depois com o seu estilo muito próprio mas revelando desde o início uma imensa erudição literária. Foi também antes da época do Pedro Mexia e do José Mário Silva, da Página Sete e da remodelação de formato do jornal. Havia também um maior experimentalismo na ficção. Escreviam-se textos sem maiúsculas, outros quase sem pontuação ou com voz polifónica. As ilustrações não contavam histórias, não havia BD, eram imagens estáticas - depois surgiu o Álvaro e o Nelson, e foi quase impossível regressar à forma pura da ilustração. Imitava-se: o Venda imitava o Saramago, o José Riço imitava o Lobo Antunes - houve até um tema dedicado aos estilos dos outros autores. Havia (como continua a haver) uma falta crónica de humor; os jovens autores são demasiado trágicos, demasiado sérios na sua busca da Verdadeira Literatura: não admitem que o menor vestígio de um sorriso retire a importância das suas Sagradas Palavras (eu sei como é; fui assim e ainda o sou).

A minha dívida ao DN Jovem é tão-somente esta: fez-me polir a escrita; fez-me ter atenção ao texto e não confiar somente nos truques de enredo para seduzir o leitor; fez-me experimentar com as palavras, ser iconoclasta; fez-me querer escrever, continuar a tentar, conseguir ser publicado, pertencer ao grupo; fez-me ser teimoso, pois perante a primeira e dura rejeição (porque, tendo sido já publicado uma ou duas vezes no Diário Popular, estava quase convicto de que Seria Aceite) disse a mim próprio que não iria desistir, não iria parar de enviar textos, que iria fazer aqueles gajos do jornal gostarem do que eu escrevia; fez-me, acima de tudo, aprender que o mais importante é ser-se humilde perante o texto, perante o leitor.

3. Uma última mensagem: não desistam. Um escritor define-se quando escreve, não porque dá conferências ou faz política ou simplesmente afirma que o é.

Lembrem-se.

São as palavras, e somente as palavras, que realmente nos unem.

 

Luís Filipe Silva, 1996

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EM TEMPOS DE PÁSCOA, cuidado com o que encontram no estômago de coelhos...

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06 Abril 2007

UM PEQUENO DIVERTIMENTO de FC ao estilo da Pixar.

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05 Abril 2007

A RAZÃO DE SER DESTE BLOGUE. (Ou: vasculhar pelos arquivos do computador...)

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Composição

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Classificação farmaco-terapêutica

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Indicações terapêuticas

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Contra-indicações

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Posologia e via de administração

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Tratamento

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Efeitos Secundários

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03 Abril 2007

AS FRIAS EQUAÇÕES de Tom Godwin constituem o leitmotif de um dos mais famosos contos de ficção científica de sempre: nele mostra-se o universo como impiedoso e indiferente nas suas leis face ao que seria justo ou correcto em termos éticos e morais (e por conseguinte um final feliz). Normalmente a escolha ou repúdio desta história define um leitor como sendo racionalista ou humanista, e daqui divergem duas escolas de pensamento dentro do género. Michael Flynn apresentaria muitos anos mais tarde uma variação do tema nas páginas da Analog (para salvar todos os ocupantes, sacrificavam-se os membros e assim reduzia-se massa sem ser necessário matar ninguém). Em 1955 George Lefferts produziu um guião radiofónico que teve  duas adaptações, das quais a melhor, na minha opinião, é a da série X-Minus One (via SFFAudio). Compare-se a produção deste drama, bem como a sensibilidade de consideração perante o sexo feminino no que é uma situação extrema, com a abordagem moderna, completamente feroz e impressionista, do conto de fantasia noir «Light Like Knives Dragged Across the Skin» de Paul Jessup (via Pseupod), para uma experiência completamente oposta...

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Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português