Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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26 Setembro 2006

A GUERRA DAS ESTRELAS pode constituir um monumental desperdício criativo (em particular a segunda, que é a na verdade a primeira - ou vice-versa-, triologia), mas a verdade é que nesta era de facelifts tudo pode ser melhorado, até mesmo o argumento...

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25 Setembro 2006

CHARLES STROSS NO SEU MELHOR, em entrevista para a Agony Column. Em menos de uma hora, uma entrevista como poucas, em que a densidade de informação transmitida e a força do conhecimento (e respectivas opiniões) é tal que o próprio entrevistador não consegue acompanhar o ritmo. Charles Stross fez-me recordar Sterling (embora sem a arrogância e o irritante sotaque do Texas) na sua capacidade de síntese e sinergia. Ainda não encontrei nenhum escritor de fantasia hard com esta noção vasta da complexidade da História, do universo e da humanidade - e creio que dificilmente encontrarei, visto a energia desses autores se centrar no intimismo, no lírico e essencialmente no não-materialista. Ora, pode não haver nada de errado com esta perspectiva, e até ser positivo ficar-se exposto a ela, mas é muito saudável, é uma verdadeira lufada de ar fresco intelectual, encontrar alguém tão enraizado no mundo real, na vida a sério, conseguindo empalidecer até alguns escritores que por aí se consideram interessantes. E é por estas e por outras que a Ficção Científica a sério bate, de longe e sem esforço, Tolkienismos, o dito new weird, os pseudo-pastiches do grande Borges, e outras idênticas tretas. Longa vida ao racionalismo científico!

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24 Setembro 2006

O INTERIOR DE UM MUNDO-ANEL. (Mais ou menos, se a memória não me falha, no livro de Niven havia serranias de cada lado do horizonte para impedir que a atmosfera escapasse, e conseguia ver-se as estrelas). Inspirador para dúzias de histórias. Cliquem na imagem para ampliar.

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AGÊNCIA DE RECRUTAMENTO PARA PERSONAGENS DE FC. Não há almoços grátis...

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21 Setembro 2006

DESCARAMENTO E RUDE EDUCAÇÃO é o que caracteriza um certo canal televisivo, que no seu jornal da noite acaba de apresentar - à laia de notícia - um anúncio mal disfarçado a um novo serviço de fornecimento de internet de uma empresa de telecomunicações bem conhecida, de consumo supostamente ilimitado, com direito a gráficos, apresentação da imagem de marca (convenientemente desculpada numa sequência que mencionava e filmava websites) e uma argumentação visual do ganho resultante do consumo ilimitado (supostamente há muitos clientes a quererem gravar centenas de dvd's por mês com downloads) mais elaborada que muitos shopping-channels. E isto sem uma única menção a marcas e serviços concorrentes, que desse à peça - ao menos só para fingir - o ar de verdadeiro serviço noticioso. É o fenómeno Tide/Correio da Manhã revisitado...

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19 Setembro 2006

A NOVA REVISTA ONLINE New Ceres (cujo conteúdo do número de lançamento é gratuito, mas aparentemente não os próximos números) assenta numa divertida ideia: vai dedicar-se exclusivamente à exploração, mediante ficção e uma wikipedia, de um mundo ficcional situado a 20 anos-luz da Terra. Se estudarem a história da conturbada colonização, irão encontrar uma luta renhida pela independência do planeta (USA, anyone?). Nada na concepção do mundo indicia ideias originais - ou seja: a estrutura da sociedade daqui a 300 anos e a 20 anos-luz da Terra é praticamente igual à nossa: exércitos, poder concentrado (uns mais democratas, outros menos, como na nossa quintinha planetária), mas em geral idêntico status quo ao que foi idealizado em França no despontar das guilhotinas e conquistado à força pela crescente pressão da classe média em derrubar a nobreza. O que considero interessante é o estilo da sociedade, a mistura de um tempo vitoriano com um certo barroco francófono, patente no conto de Tansy Rayner Roberts, Scandal At The Feast of Saturn, que se pode ler em versão áudio ou texto. Daqui se prova que a pobreza do conceito pode ser salva com a adequada mistura de elementos retrógados e menções tecnológicas, numa desorientação cultural/temporal que funciona muito bem na TecnoFantasia.

(P.S. - também existem lulas... creio que se está a tornar numa moda...)

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UMA ENTREVISTA ESSENCIAL (infelizmente, envolta num grande nível de pessimismo e depressão) com Brian Stableford, sobre a situação da sua carreira, perpectivas sobre a sua obra e comentários gerais sobre o género. Um par de citações que dariam azo a vários dias de debate:

«Stories require things to go wrong in order that they can be put right again, thus providing a basic pattern of challenge and climax and a satisfactory sense of closure. Many writers do, of course, find the prospect of progress innately threatening--it's difficult for anyone ever forty to adopt any attitude to the future except terror or denial--but I'm more concerned with the way that the very nature of fiction favours story-arcs that afford a tacit privilege to the status quo, representing all innovation as evil simply because that's the easy way to make a story gripping. Morally responsible futuristic fiction--which, of course, excludes all cinema and TV "sci-fi" and most printed sf--needs to find a way of steering around that problem.»

e:

«The fraction of sf that belongs to popular culture is essentially mindless--not merely stupid but sociopathic--while the fraction that harbours serious thought is way out on the fringes of unpopular culture. Hopefully, there will always be heroic writers willing to work on that frontier, but as a marketing category, sf will continue to go exactly where it's been headed since the term entered common usage: nowhere.»

A acompanhar a entrevista, uma história inédita: An Oasis of Horror.

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17 Setembro 2006

NÃO SOU FAVORÁVEL DA CRÍTICA NEGATIVA mas se lerem com atenção, verão que esta crítica (que não é negativa mas objectiva) presta um favor aos amantes de literatura fantástica. A par de Universal, Limitada, um dos piores livros jamais escritos da literatura portuguesa, de fantástico ou não, e um completo desapontamento/ desperdício na minha juventude. Não interessa se gostam de FC portuguesa ou não, mas pelo menos não a confundam com isto (e ainda bem que o Jorge o disse...).

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14 Setembro 2006

COELHINHOS SUICIDAS. Em tempos, o João teve a ideia de escrever uma série de tiras que retratasse a Triste Judite do Terrarium... vocês sabem, a deprimida que acabava por inventar uma forma nova de se suicidar a cada tira. Uma ideia semelhante ganha forma com os Bunny Suicides...

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12 Setembro 2006

CHAMEM-ME EXIGENTE mas como é que consigo ficar insensível quando ouço destas barbaridades numa entrevista: «neste futuro as pessoas viajam pela realidade virtual e não fisicamente» - sim, se forem daqueles americanos pategos que até têm medo de conhecer L.A. ou NYC, ou por exemplo, da inclinação do Gonçalo Tavares quando afirma que nunca sai de Lisboa, porque as pessoas normais que não estejam impedidas por um problema físico, familiar ou financeiro grave gostam de viajar e tentam fazê-lo a qualquer momento, contactam com outras culturas e realidades e são transformadas no processo. Ou quando diz que «um primeiro encontro de namoro será feito possivelmente de forma física mas os seguintes serão virtuais» - obviamente, se cheirarem mal dos pés, da boca, não cortarem as unhas ou não tomarem banho, pois será a única forma de manterem uma relação longa... Por muito que o Edelman diga isto a brincar, declarações como esta em lugares públicos são o que impede a FC de ser bem vista. Imagino este senhor numa discussão aberta com o Mário de Carvalho e o João de Melo sobre o papel da literatura a proferir barbaridades semelhantes, e o olhar de incompreensão estarrecida/gozo profundo no conjunto da assistência. Não tendo lido o livro, não posso criticá-lo, apenas ao autor e à postura na entrevista - esperemos que seja melhor escritor que entrevistado. Mas à partida fujo a sete pés da história - afinal não estamos a falar de um Vernor Vinge, que aborda o assunto de uma forma racional, crítica e inteligente, como se pode ouvir aqui. Edelman limita-se a reproduzir na sociedade os padrões de comportamento existentes na internet - ora, por muitos pontos de contacto que existam, são dois mundos diferentes, com regras diferentes, e seria preciso uma tecnologia mais promíscua entre os dois para conseguir produzir alguma forma de real mistura. Como Cory Doctorrow, Edelman parece acreditar no poder redentor das tecnologias de informação, esquecendo-se que apenas os geeks como ele dão alguma importância ao mundo virtual - mais de 90% do mundo continua a existir como sempre existiu, beneficiando marginalmente do uso das novas tecnologias. E porque estarei tão irritado? Porque não passa de literatura pulp com capas digitais: tão errado está vestir os westerns com roupagens de FC, como é fazê-lo com os romances de geeks no mundo dos computadores. O rei é outro, e pode até ter sido eleito, mas passeia as suas vergonhas pudibundas tão nú como o proverbial da estória...

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10 Setembro 2006

E POR VEZES HÁ DESTAS IRONIAS. Se detestei Waiting for the Zephir, em particular pela beleza da narração e da voz da narradora, que merecia melhor texto, agora venho recomendar-vos vivamente o excelente Her, também de Tobias Buckell, um trabalho que mostra perfeitamente como o raciocínio da narrativa em FC enaltece as qualidades de uma ideia de cariz impressionista e sarcástica - aqui apresentado numa leitura áudio. Também gostei da advertência ao início: «recomendado apenas a pessoas maduras de qualquer idade.»

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OBJECTIVO: POESIA e neste caso falada. Arquivo com recolha de poemas lidos pelos autores. Traduções na maioria disponíveis em alemão e francês. E à data estamos representados pela Adília, pelo(s) Pedro(s), e pelo Gonçalo. É interessante como se percebe que se trata de poesia, como se lê com a mesma voz, até nas línguas que desconhecemos...

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08 Setembro 2006

EM DIRECTO, na RTP2 (chamem-lhe a Dois, se quiserem, para quem nasceu no século passado era a única alternativa à RTP1 e bons filmes de ficção científica e terror pulp costumava ter no momento de abertura, às 18.00 - sim, petizes, houve um tempo em que as emissões fechavam e não eram 24x7), o programa Câmara Clara debate, supostamente, o futuro após o 11 de Setembro. Ora, disto não se falou, do futuro muito menos, autores nem pensar (apenas uma reminiscência sobre um autor chamado Michel Houellebecq e que não se encontra no panteão de glória francês - Michel Jeury, Bordage, etc), e apenas de soslaio, por duas vezes, se notou o canto do Terrarium, como os restantes livros naquela mesa totalmente ignorado...

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03 Setembro 2006

DO FEMINISMO NA FC. Há quem lhe chame Chickpunk: heroínas duras e implacáveis cujas aventuras, escritas por autoras, têm lugar num ambiente ciberpunk. Chris Moriarty tem algumas palavras a dizer sobre o assunto, mas o pódio pertence às escritoras, obviamente, e às suas obras. Todas as identificadas na lista, de uma forma ou outra, produzem livros num ambiente mais pragmático, individualista e (se quiserem perpetuar o sexismo dos termos) «masculino»; não é por acaso que não encontramos uma Kelly Link, aqui, embora pessoalmente não creio que classificar os contos desta autora como determinantemente feministas lhe faça justiça.

Pretendendo apenas fazer uma chamada de atenção e não um manifesto ou um argumento coerente, nem pró nem contra a dita classificação das autoras mencionadas no artigo - essencialmente por falta de tempo e por haver fóruns mais apropriados que este -, não queria no entanto ressalvar dois aspectos que me soam demasiado ausentes do argumentos apresentados: primeiro, que uma protagonista principal («heroína») não necessita de ser «dura e implicável» para se mostrar forte - o mundo real e a literatura está cheio de exemplos de mulheres determinadas e fortes que não precisam de adoptar papéis tradicionalmente masculinos para o demonstrarem (apenas para mencionar dois exemplos menos conhecidos: Connie Willis e Karen Joy Fowler), e que poderiam perfeitamente encaixar-se nos mesmos géneros literários ou tipos de histórias; depois, que mais uma vez seja a propaganda da demagogia mais importante na apreciação de uma obra que o mero facto de estar bem escrita - decerto que um mau livro escrito por uma mulher, com protagonistas femininos, deverá ser colocado equiparadamente com um mau livro escrito por um homem e com protagonistas masculinos.

A única vantagem? Que as leitoras percam pruridos face a ler romances de géneros normalmente reservados aos homens (histórias com maior grau de tecnologia, de violência e política) e assim o mercado aumente (embora se a situação fosse a inversa não me imagino a começar a apreciar a Candace Bushnell...).

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