Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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02 Maio 2021

Repousa Lyonesse no fundo do mar, ou talvez nele se agite, como a Atlântida escondida debaixo do diáfano manto oceânico, filha renegada ou ambiciosa, que se lançou aos céus mas acabou em terra, exposta e desprotegida como o são as cidades - pois a terra não é mais do que a complacência resignada das águas, que, neste planeta, tudo cobrem e tudo sustêm. Um dia, aquilo que se ergueu além da superfície e tentou fugir submergirá de volta ao eterno sono submarino, esquecerá que o universo existe e ali dormirá até ao último dos dias. O oceano é maior devorador de cidades que o tempo. O oceano destrói as suas ruas e os seus imponentes minaretes, mas o tempo guarda-lhes a memória. O oceano fá-las humildes, o tempo fá-las mitos. Garfos, sinetes, restos de cerâmica, uma estatueta de barro partida, um prato de latão decorado com heróis irreconhecíveis e batalhas que perderam o eco… objecto a objecto, as cidades tentam fugir ao esquecimento com a cumplicidade das marés: pedaços que dão à costa quais palavras sussurradas numa noite ventosa, sugestões de histórias maiores, que ninguém conhece mas todos adivinham. Demonstrando que nenhum autor é imune ao poder dos mitos dos seus, Vance desculpou-se com Lyonesse (ou Léonois noutros berços) para prestar vassalagem ao rei Artur – o seu rei Autor –, e fixou-lhe território, uma época, um povo. Sabendo, contudo, que o fim estava anunciado, que as badaladas já se ouviam ao longe. Perguntais se Lyonesse existiu, se Atlântida foi verdade, e isto vos digo: que importa esta pergunta, se, afinal, elas se encontram, nas nossas frases, ao lado da eternidade?

Pompeias Anunciadas: até 31 de Agosto.

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