Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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27 Junho 2021

A Catástrofe Surge À Civilização, ao mundo, como um carro destravado surge ao peão e ao motociclista - na curva da estrada, sem se anunciar, inevitável apesar das precauções e dos esforços, um ponto final súbito que faz da promessa de um romance uma curta novela. Eis um breve relato de um dia de mudança que abalou o planeta. Não fossem dominantes os dinossauros, mas outra espécie mais familiar, qual o futuro que lhe restaria? Aguardamos as vossas respostas, em forma de ficção, aqui.

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06 Junho 2021

Uma das histórias que pensei escrever para uma reedição do Terrarium (muito antes de esta se tornar sequer uma possibilidade) prendia-se com a existência de um transbordo Terra-Anel orbital em frente ao Guincho - uma gigantesca nave que amarava ao largo da costa, em pleno oceano, e ia devorando litros e litros de água para obter o hidrogénio destinado a alimentar a fusão nuclear dos seus motores - enquanto carregava e descarregava passageiros e mercadoria. A impulsão para o espaço literalmente ferveria o Atlântico sob si, criando um microclima tropical, quente e abafado sobre Sintra e Cascais - mais uma forma pela qual a vinda dos Exóticos tinha transformado a nossa existência, e arruinado grande parte da nossa identidade nacional. Vestígios desta ideia subsistem na primeira novela do Terrarium Redux, mas a demanda do protagonista impele-o para longe. Se porventura fez esta viagem, foi durante o seu período de inconsciência, dominado pela vontade de Pandora (cujas últimas cenas escrevi inclusive longe deste mar, no outro lado da península, de frente virada ao Mediterrâneo que não figura sequer no livro). Hoje, passando pelo local em que surgiu a ideia original, recupero a visão do mastodonte negro, visível do cimo do Cabo da Roca, pousado tranquilamente nas ondas possantes, indiferentes às ventanias e chuvadas ferozes. Imagino os visitantes de então que, como agora, agarrados às cercas, sofrendo, não com o frio mas com o bafo quente da humidade, aguardariam a vibração que eriçaria pelos e estremeceria costelas, o prenúncio daquele instante em que lentamente ascenderia aos céus com a leveza de uma folha de papel só permitida pela física avançada (tecnologia de grau 3, inacessível aos humanos). Imagino o assombro misturado com desesperança que ver tal poderio lhes causaria, pois jamais a Humanidade voltaria a ser livre, inocente e dona do seu destino.

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