Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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26 Agosto 2013

O Caderno Literário InDica auto-define-se como sendo «um espaço para a criação literária»:

Um local para a discussão, a reflexão e, principalmente, para a divulgação de livros. Queremos ser uma moldura para a produção literária. Numa época em que qualquer um pode publicar sua opinião na internet e centenas de blogs divulgam resenhas de livros, queremos falar de Literatura em uma plataforma tradicional: o JORNAL IMPRESSO.

Atualmente, os teóricos dizem que a crítica passa por uma inadequação entre o instrumental em que ela trabalha e as novas formas de produzir e compor o texto. Que antes tínhamos um padrão de crítica, onde eram aplicados certos métodos e teorias literárias que hoje estão obsoletos. Antes, a tarefa do crítico exigia que ele encaixasse o seu texto no modelo teórico. Hoje, a forma de crítica está mudando de configuração. Ela não pode mais ignorar os últimos avanços e mudanças em todas as áreas. Já podemos observar modalidades de críticas por que o novo produto exige. Passamos de um mundo no qual a informação era escassa para outro no qual há fartura de informação.

Assim, o Caderno Literário InDica não vai falar de “crise da crítica literária”. Queremos romper com esse discurso retórico. Queremos pensar e discutir a Literatura. Queremos estimular o questionamento da produção literária. Tanto o seu estudo como o fazer prático. Não temos a pretensão de sermos revolucionários ou inovadores. Na verdade, almejamos redescobrir como fazer crítica.

Queremos ir além dos modelos. Ir além da avaliação do objeto, dos pressupostos críticos e teóricos. Queremos entrar por um novo caminho. Não sabemos onde vai dar. Esse espaço do imprevisível nos permitirá a possibilidade de descoberta. Isso implica estar disponível para questionar. A proposta é a crítica com liberdade.

Composto por várias secções (temáticas) e colunas (de opinião e informação), tem um formato tablóide, 16 páginas coloridas, tiragem de 8.000 exemplares e, é importante mencionar, distribuição gratuita em locais estratégicos ligados a cultura literária (por exemplo, em certas livrarias). Mas é também, e principalmente, o mais recente projecto do Sílvio Alexandre, conhecido organizador (entre tantas outras actividades) do Fantasticon, encontro brasileiro de Ficção Científica cuja sétima edição está a um mês de acontecer.

Se refiro este projecto distante é também pelo amável convite do organizador para a contribuição com uma perspectiva portuguesa do que hoje se fala do Brasil nas nossas letras. Escolhi o último romance do jornalista Hugo Gonçalves, Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo, que traça um percurso muito peculiar de um recém-desempregado luso (pela crise, naturalmente) por terras brasileiras em busca de um recomeço de vida (que envolve muito sexo, maconha farta e bastante descontração. A melhor solução para o país até agora proposta, sem dúvida). O texto surge ao lado das importantes contribuições de Andrea del Fuego, Braulio Tavares, Claudio Brites, Luiz Brás, Manuel da Costa Pinto, Marcelino Freire, Milena Cherubim, Sandra Schamas e Waldomiro Vergueiro. O lançamento ocorreu dia 16 de Agosto numa das livrarias Martins Fontes de S. Paulo.

Projectos como este, em particular com distribuição gratuita, são raros e requerem todo o apoio possível. Esperemos que esta iniciativa possa inspirar algum entusiasta em Portugal a criar um caderno semelhante para o mainstream. Felizmente, a nível da FC, já temos uma iniciativa de grande qualidade e ousadia, na FC, através da Bang!

Sílvio Alexandre e Camila Prietto no lançamento. Foto cortesia de Camila Prietto.

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08 Agosto 2013

Nas Profundezas do Baú Da FC Em Lusa Terra, descobre-se uma atitude sadia e positiva perante a ciência, o progresso do Homem e a própria Ficção Científica, patente nos números iniciais do Jornal de Letras e Artes, publicação semanal que vingou entre 1961 e 1970. Entre os extensos artigos dedicados a recensear estreias teatrais, falar de movimentos artísticos e cinematográficos, debater questões das artes plásticas e dar voz de opinião a cronistas – em suma, um jornal de verdadeiros conteúdos culturais como hoje não se encontra, como insinuação a quem se pasma pelo desfalecimento anunciado da imprensa -, encontra-se o ocasional anúncio a livros, crítica e artigo sobre temas de um futuro anunciado que, nas breves palavras de introdução à sequência de entrevistas sob o tema «Cientistas e Homens de Letras Pronunciam-se sobre a Prodigiosa Devassa do Espaço Astral», inserida no número de 22 de Novembro de 1961, demonstram um interesse muito activo sobre o compromisso entre capacidade e responsabilidade (humanas) ao qual a FC não é alheia:

A ficção científica transformou-se em realidade no nosso século. Cumpriram-se as profecias de Wells, de Júlio Verne, os espeleólogos expugnam o interior da crosta terrestre, os homens-rãs descem às profundidades submarinas, os aviões a jacto encurtam as distâncias entre remotas cidades, mas onde a maravilha tornada acção vai tão longe que a imaginação do homem comum ainda mal a acompanha é no domínio das explorações do espaço aéreo. Teremos entrado numa era interplanetária, em que todos os problemas, ainda os mais graves, do homem na Terra, hão-de ser revistos à luz de uma nova situação, em que os seus mais agudos conflitos possam encontrar-se, de um dia para o outro, superados?

Lançados ousadamente para a estratosfera os astronautas, em satélites artificiais, em foguetões tripulados, em breve porventura rumo à Lua, numa fabulosa devassa do mundo astral, que é, com toda a sua margem de aventura, o fruto de pacientes e rigorosas investigações, de cálculos de extrema minúcia, levantam-se questões sem fim quanto à projecção de tais viagens, do seu êxito e das suas consequências, na vida do homem - vida moral, social, política, estética. Que será esse homem de amanhã, em todos esses planos? Há duas posições fundamentais ante as grandes transformações da história: as que - como portugueses - podemos chamar de «saudade do futuro» e «saudade do passado».

Seguem-se depoimentos de personalidades da época, entre as quais Rómulo de Carvalho, António Quadros e José Blanc de Portugal, este último fazendo um breve exercício extrapolatório em que reflecte sobre a Terra e a Humanidade a partir da respectiva entrada numa suposta «Enciclopédia Universal».

Nos números seguintes, ocasião para Huxley nos ensinar «A arte de ver o futuro», Jean Hougron apresentar um texto inédito, e encontrar uma chamada de atenção (no n.º de 6 de Dezembro de 1961) para a saída de «Ortog: um romance de ficção científica que vem revelar-nos o homem de hoje no mundo alucinante do futuro» de Kurt Steiner, à venda pela módica quantia de 12$50. Trata-se do n.º 66 da colecção Argonauta em que Mário Henrique-Leiria verte para portuguêsa fantasia heróica Aux Armes d’Ortog de André Ruellan (que assina com pseudónimo) e que representa uma edição muito recente, pois o original saíra na Fleuve Noir no ano anterior. Também lugar nessa mesma semana para o anúncio da Editorial Minotauro do livro de um certo Isaac Asimov, Nove Amanhãs, apresentado como «uma obra fundamental da ficção científica na Colecção Órbita» e que engloba «todo o maravilhoso da ciência do futuro». Nove Amanhãs receberá honras de recensão no n.º de 18 de Abril de 1962 do JLA: «é uma série de histórias, visões fantásticas do futuro do homem, em que Asimov revela todos os seus conhecidos dotes de imaginação, os seus conhecimentos científicos e o seu talento de escritor. As histórias com um ambiente psicológico semelhante, põem o homem perante os problemas suscitados pelas forças materiais que ele próprio libertou, mas que não consegue dominar». A tradução é de Fernando de Castro Ferro (ref.ª), a qual será, presumivelmente reaproveitada na edição posterior da Vega (1979; reed. 1988).

Resta perceber se esta assumida familiaridade com o nome de Asimov se deve à Argonauta, então com oito anos de idade, em que o autor já teria aparecido com o seu próprio nome (para não falar do pseudónimo Paul French) em três romances...

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