26 Agosto 2013
O Caderno Literário InDica auto-define-se como sendo «um espaço para a criação literária»:Um local para a discussão, a reflexão e, principalmente, para a divulgação de livros. Queremos ser uma moldura para a produção literária. Numa época em que qualquer um pode publicar sua opinião na internet e centenas de blogs divulgam resenhas de livros, queremos falar de Literatura em uma plataforma tradicional: o JORNAL IMPRESSO.
Atualmente, os teóricos dizem que a crítica passa por uma inadequação entre o instrumental em que ela trabalha e as novas formas de produzir e compor o texto. Que antes tínhamos um padrão de crítica, onde eram aplicados certos métodos e teorias literárias que hoje estão obsoletos. Antes, a tarefa do crítico exigia que ele encaixasse o seu texto no modelo teórico. Hoje, a forma de crítica está mudando de configuração. Ela não pode mais ignorar os últimos avanços e mudanças em todas as áreas. Já podemos observar modalidades de críticas por que o novo produto exige. Passamos de um mundo no qual a informação era escassa para outro no qual há fartura de informação.
Assim, o Caderno Literário InDica não vai falar de “crise da crítica literária”. Queremos romper com esse discurso retórico. Queremos pensar e discutir a Literatura. Queremos estimular o questionamento da produção literária. Tanto o seu estudo como o fazer prático. Não temos a pretensão de sermos revolucionários ou inovadores. Na verdade, almejamos redescobrir como fazer crítica.
Queremos ir além dos modelos. Ir além da avaliação do objeto, dos pressupostos críticos e teóricos. Queremos entrar por um novo caminho. Não sabemos onde vai dar. Esse espaço do imprevisível nos permitirá a possibilidade de descoberta. Isso implica estar disponível para questionar. A proposta é a crítica com liberdade.
Composto por várias secções (temáticas) e colunas (de opinião e informação), tem um formato tablóide, 16 páginas coloridas, tiragem de 8.000 exemplares e, é importante mencionar, distribuição gratuita em locais estratégicos ligados a cultura literária (por exemplo, em certas livrarias). Mas é também, e principalmente, o mais recente projecto do Sílvio Alexandre, conhecido organizador (entre tantas outras actividades) do Fantasticon, encontro brasileiro de Ficção Científica cuja sétima edição está a um mês de acontecer.
Se refiro este projecto distante é também pelo amável convite do organizador para a contribuição com uma perspectiva portuguesa do que hoje se fala do Brasil nas nossas letras. Escolhi o último romance do jornalista Hugo Gonçalves, Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo, que traça um percurso muito peculiar de um recém-desempregado luso (pela crise, naturalmente) por terras brasileiras em busca de um recomeço de vida (que envolve muito sexo, maconha farta e bastante descontração. A melhor solução para o país até agora proposta, sem dúvida). O texto surge ao lado das importantes contribuições de Andrea del Fuego, Braulio Tavares, Claudio Brites, Luiz Brás, Manuel da Costa Pinto, Marcelino Freire, Milena Cherubim, Sandra Schamas e Waldomiro Vergueiro. O lançamento ocorreu dia 16 de Agosto numa das livrarias Martins Fontes de S. Paulo.
Projectos como este, em particular com distribuição gratuita, são raros e requerem todo o apoio possível. Esperemos que esta iniciativa possa inspirar algum entusiasta em Portugal a criar um caderno semelhante para o mainstream. Felizmente, a nível da FC, já temos uma iniciativa de grande qualidade e ousadia, na FC, através da Bang!