Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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08 Agosto 2013

Nas Profundezas do Baú Da FC Em Lusa Terra, descobre-se uma atitude sadia e positiva perante a ciência, o progresso do Homem e a própria Ficção Científica, patente nos números iniciais do Jornal de Letras e Artes, publicação semanal que vingou entre 1961 e 1970. Entre os extensos artigos dedicados a recensear estreias teatrais, falar de movimentos artísticos e cinematográficos, debater questões das artes plásticas e dar voz de opinião a cronistas – em suma, um jornal de verdadeiros conteúdos culturais como hoje não se encontra, como insinuação a quem se pasma pelo desfalecimento anunciado da imprensa -, encontra-se o ocasional anúncio a livros, crítica e artigo sobre temas de um futuro anunciado que, nas breves palavras de introdução à sequência de entrevistas sob o tema «Cientistas e Homens de Letras Pronunciam-se sobre a Prodigiosa Devassa do Espaço Astral», inserida no número de 22 de Novembro de 1961, demonstram um interesse muito activo sobre o compromisso entre capacidade e responsabilidade (humanas) ao qual a FC não é alheia:

A ficção científica transformou-se em realidade no nosso século. Cumpriram-se as profecias de Wells, de Júlio Verne, os espeleólogos expugnam o interior da crosta terrestre, os homens-rãs descem às profundidades submarinas, os aviões a jacto encurtam as distâncias entre remotas cidades, mas onde a maravilha tornada acção vai tão longe que a imaginação do homem comum ainda mal a acompanha é no domínio das explorações do espaço aéreo. Teremos entrado numa era interplanetária, em que todos os problemas, ainda os mais graves, do homem na Terra, hão-de ser revistos à luz de uma nova situação, em que os seus mais agudos conflitos possam encontrar-se, de um dia para o outro, superados?

Lançados ousadamente para a estratosfera os astronautas, em satélites artificiais, em foguetões tripulados, em breve porventura rumo à Lua, numa fabulosa devassa do mundo astral, que é, com toda a sua margem de aventura, o fruto de pacientes e rigorosas investigações, de cálculos de extrema minúcia, levantam-se questões sem fim quanto à projecção de tais viagens, do seu êxito e das suas consequências, na vida do homem - vida moral, social, política, estética. Que será esse homem de amanhã, em todos esses planos? Há duas posições fundamentais ante as grandes transformações da história: as que - como portugueses - podemos chamar de «saudade do futuro» e «saudade do passado».

Seguem-se depoimentos de personalidades da época, entre as quais Rómulo de Carvalho, António Quadros e José Blanc de Portugal, este último fazendo um breve exercício extrapolatório em que reflecte sobre a Terra e a Humanidade a partir da respectiva entrada numa suposta «Enciclopédia Universal».

Nos números seguintes, ocasião para Huxley nos ensinar «A arte de ver o futuro», Jean Hougron apresentar um texto inédito, e encontrar uma chamada de atenção (no n.º de 6 de Dezembro de 1961) para a saída de «Ortog: um romance de ficção científica que vem revelar-nos o homem de hoje no mundo alucinante do futuro» de Kurt Steiner, à venda pela módica quantia de 12$50. Trata-se do n.º 66 da colecção Argonauta em que Mário Henrique-Leiria verte para portuguêsa fantasia heróica Aux Armes d’Ortog de André Ruellan (que assina com pseudónimo) e que representa uma edição muito recente, pois o original saíra na Fleuve Noir no ano anterior. Também lugar nessa mesma semana para o anúncio da Editorial Minotauro do livro de um certo Isaac Asimov, Nove Amanhãs, apresentado como «uma obra fundamental da ficção científica na Colecção Órbita» e que engloba «todo o maravilhoso da ciência do futuro». Nove Amanhãs receberá honras de recensão no n.º de 18 de Abril de 1962 do JLA: «é uma série de histórias, visões fantásticas do futuro do homem, em que Asimov revela todos os seus conhecidos dotes de imaginação, os seus conhecimentos científicos e o seu talento de escritor. As histórias com um ambiente psicológico semelhante, põem o homem perante os problemas suscitados pelas forças materiais que ele próprio libertou, mas que não consegue dominar». A tradução é de Fernando de Castro Ferro (ref.ª), a qual será, presumivelmente reaproveitada na edição posterior da Vega (1979; reed. 1988).

Resta perceber se esta assumida familiaridade com o nome de Asimov se deve à Argonauta, então com oito anos de idade, em que o autor já teria aparecido com o seu próprio nome (para não falar do pseudónimo Paul French) em três romances...

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02 Junho 2013

Antes Que A Feira Se Acabe, e se acabem as feiras de vez, eis onde me encontram num estado mais verdadeiro que a mim próprio: no stand da Saída de Emergência, disseminado por várias publicações (Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, Sombras Sobre Lisboa e algumas traduções); no stand da Gradiva, que guarda timidamente exemplares da antologia Mensageiros das Estrelas atrás do balcão para não se constiparem (convém perguntarem aos senhores da loja); no stand da Europress, onde restam alguns poucas Ficções Científicas e Fantásticas e Brinca Comigo!; no stand da Devir, que é capaz de ainda ter uma Assembleia Estelar vinda do Brasil; e esta pequena surpresa na Leya, os poucos exemplares sobreviventes ao auto-da-fé de há poucos anos de uma certa colecção azul que foi considerada pela presidente da European Science Fiction como invulgarmente representativa da FC europeia (e vá lá perceber-se por que motivos não ganhou prémios nem chegou a ser nomeada...) e onde ainda está o talvez derradeiro Futuro à Janela a pousar pés em terrenos de Feira, já maior de idade mas ainda com bom aspecto. Não percam obviamente tempo a ir pelas minhas parcas tentativas mas vão pela boa FC&F luso-brasileira que anda por aí, enovelada no vento, à procura de quem a colha.

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