29 Abril 2011
O Conto Seguinte Apresenta-nos um Peter Pan activamente envolvido nas andanças políticas do Império Britânico, ao agir como espião ao serviço de Sua Majestade. No entanto, enquanto miúdo traquinas e imberbe que é, o seu comportamento deixa muito a desejar... junte-se a isto a trisneta de Wendy e um rol de gerações de mulheres apaixonadas pelo rapaz voador que não queria crescer, bem como um vilão perfeitamente inesperado mas lógico, e fica-se com algo semelhante a um cadáver esquisito, uma junção de várias peças, atrapalhadas no início (a prosa inclusive alterna, confusa, entre tempos verbais - desconhecendo o texto original, não me foi possível determinar se se trataria de uma homenagem propositada) mas, graças ao predomínio final de uma voz adulta e de uma opinião vincada sobre o personagem de Barrie, acaba por resultar. É a voz de uma criança ambiguamente desiludida por ter crescido mas também convencida que quem recusa crescer acabará por ficar com graves cicatrizes na alma - a voz de Sarah Reese Brennan em «The Spy Who Never Grew Up», e a sua melhor dádiva é lembrar-nos que, nos dias actuais, se quiserem ser aceites em sociedade, os contos de fadas são obrigados a crescer e vestir-se de pós-modernismo.«The Aarne-thompson Classification Revue» de Holly Black é, também, uma abordagem moderna, desta feita sobre o tema do lobisomem, que desta feita é uma jovem mulher, e que, desta feita, procura sobreviver e adaptar-se e ter uma vida apagada, para que não se notem as diferenças. Acaba no cimo de um palco, na noite de estreia, a debater-se contra uma transformação que não controla. Pequeno, ainda que bem construido, tem dificuldade em manter-se na memória do leitor além do encerramento das páginas.
Por seu lado, «Under the Moons of Venus» de Damien Broderick é um texto pseudo-adventista sobre o Dia do Juízo Final, embora esta alusão nunca seja concretizada. Contudo, que outra leitura ter de uma situação em que Vénus é terraformado por uma espécie inteligente não-humana (atenção que não disse «extraterrestre» de propósito), e toda a gente do planeta é deslocada para nele habitar, exceptuando um conjunto de rejeitados? A explicação científica parece deslocada do tema, e, embora apresentando informações pouco conhecidas, não senti que contribuisse para a finalidade da história. Esta revela-se no final, em que se descobre, sem grande surpresa, que a verdadeira intenção do protagonista é de se juntar aos escolhidos.
Com «The Fool Jobs», Joe Abercrombie demonstra-nos, novamente e de forma compacta, o motivo pelo qual é considerado um dos autores de fantasia mais irreverentes e divertidos da nova geração. Um conjunto de mercenários é contratado para um serviço de treta, o «serviço» que só um «tolo» aceitaria: roubar um determinado objecto escondido numa aldeia na região que ninguém quereria percorrer. Que objecto é? Pois, quem os contrata afirma somente que, quando virem o objecto, saberão qual é. Cépticos como quaisquer bons mercenários que prezem a integridade das suas peles, isso não os reconforta. Junte-se a isto uma boa dose de cobardia e loucura, além de um excelente sentido de humor, e o resultado é imperdível.
(Continua...)