25 Abril 2011
Chegou Aquela Etapa No Ano em que é preciso (realmente preciso) olhar para o ano transacto e definir fronteiras para o território das melhores histórias curtas publicadas durante esse período - falamos de FC e Fantasia, obviamente.Um dos volumes anuais que compilam opiniões pessoais sobre estas histórias (os quais apresentam uma surpreendente elevada taxa de sobreposição entre si, o que acaba por reduzir as perspectivas sobre o género e sem dúvida empobrecê-lo) e que já se encontra em algumas das livrarias nacionais que contenham livros importados trata-se de The Best Science Fiction and Fantasy of the Year, Volume Five, organizado por Jonathan Strahan (pois, nem a nível dos títulos encontramos grande variedade. Imagine-se que um destes senhores antologias se propunha subtitular a edição do ano como «The Year Hard SF Came Back From the Dead»; tanto medo de se mostrarem parciais, e depois perguntam-se por que os leitores bocejam profundamente). Irei, como já fiz no passado, apresentar algumas opiniões pessoais sobre os contos seleccionados.
A abrir, «Elegy for a Young Elk», do finlandês Hannu Rajaniemi. Não fosse este o autor do divertidissimo The Quantum Thief, que já me encontrava a ler, e duvido que voltasse a dar-lhe uma oportunidade. Anódino, insubstancial e inconsequente, o distanciamento e o descuido da prosa tornam a história tão higiénica que lhe é impossível captar-nos a atenção. Uma sensação de profunda perda de tempo semelhante à que tive com o Tony Daniels, há muitos anos.
«The Truth is a Cave in the Black Mountains» é uma lufada de ar, com a habitual competência de Neil Gaiman. Uma viagem emocional cuja verdadeira natureza - como é, aliás, intuido no início - não é a que aparenta. Este seria o tipo de histórias próprio de um folclore moderno, se tal criatura existisse.
A seguir, «Seven Sexy Cowboy Robots» de Sandra McDonald é simplesmente... estranho. Uma mulher separa-se de um marido rico, criador dos andróides mais famosos e vendáveis da época, e que requer, como cláusula de divórcio, que este lhe entregue seis robôs com forma e pujança (sexual) de cowboys. A história trata do relacionamento desta com os robôs, e como lhe vão fazendo companhia ao longo dos anos, cada qual com a sua personalidade própria. O tratamento do tema é tão vincadamente feminino que me fez sentir que uma mulher seria capaz de apreciar o que, a mim, apenas me aborrecia - é rara a prosa que comporta uma voz tão marcante, e por esse motivo o conto merece destaque.
(Continua...)