Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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25 Abril 2011

Chegou Aquela Etapa No Ano em que é preciso (realmente preciso) olhar para o ano transacto e definir fronteiras para o território das melhores histórias curtas publicadas durante esse período - falamos de FC e Fantasia, obviamente.

Um dos volumes anuais que compilam opiniões pessoais sobre estas histórias (os quais apresentam uma surpreendente elevada taxa de sobreposição entre si, o que acaba por reduzir as perspectivas sobre o género e sem dúvida empobrecê-lo) e que já se encontra em algumas das livrarias nacionais que contenham livros importados trata-se de The Best Science Fiction and Fantasy of the Year, Volume Five, organizado por Jonathan Strahan (pois, nem a nível dos títulos encontramos grande variedade. Imagine-se que um destes senhores antologias se propunha subtitular a edição do ano como «The Year Hard SF Came Back From the Dead»; tanto medo de se mostrarem parciais, e depois perguntam-se por que os leitores bocejam profundamente). Irei, como já fiz no passado, apresentar algumas opiniões pessoais sobre os contos seleccionados.

A abrir, «Elegy for a Young Elk», do finlandês Hannu Rajaniemi. Não fosse este o autor do divertidissimo The Quantum Thief, que já me encontrava a ler, e duvido que voltasse a dar-lhe uma oportunidade. Anódino, insubstancial e inconsequente, o distanciamento e o descuido da prosa tornam a história tão higiénica que lhe é impossível captar-nos a atenção. Uma sensação de profunda perda de tempo semelhante à que tive com o Tony Daniels, há muitos anos.

«The Truth is a Cave in the Black Mountains» é uma lufada de ar, com a habitual competência de Neil Gaiman. Uma viagem emocional cuja verdadeira natureza - como é, aliás, intuido no início - não é a que aparenta. Este seria o tipo de histórias próprio de um folclore moderno, se tal criatura existisse.

A seguir, «Seven Sexy Cowboy Robots» de Sandra McDonald é simplesmente... estranho. Uma mulher separa-se de um marido rico, criador dos andróides mais famosos e vendáveis da época, e que requer, como cláusula de divórcio, que este lhe entregue seis robôs com forma e pujança (sexual) de cowboys. A história trata do relacionamento desta com os robôs, e como lhe vão fazendo companhia ao longo dos anos, cada qual com a sua personalidade própria. O tratamento do tema é tão vincadamente feminino que me fez sentir que uma mulher seria capaz de apreciar o que, a mim, apenas me aborrecia - é rara a prosa que comporta uma voz tão marcante, e por esse motivo o conto merece destaque.

(Continua...)

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24 Abril 2011

É Impressionante A Importância que o mundo (dentro do género, bem entendido) atribui a esta singela lista anual de nomeações e galardões, como se reflectisse critérios globais e indiscutíveis de qualidade e não, efectivamente, o consenso, de entre os mil e poucos votantes, do que estes consideram ser «ficção científica». Não deixa de ser uma responsabilidade algo excessiva para tão pouca gente, a de falar pelos seguidores de todo o planeta. O argumento contrário é o facto de se terem interessado o suficiente com a situação do género para apresentarem um voto - quem se abstém, não conta... No final, o balanço resulta positivo, pois estabelece padrões, que podem ser seguidos ou contrariados.

Após um conjunto de anos com a cabecinha virada para textos de Fantasia, o Hugo tem apresentado, nos últimos anos, uma saudável (na perspectiva cá da casa) preferência pela racionalidade científica. Este ano assiste-se a uma mistura estranha, na qual textos sobre zombies (Feed) concorrem com futuros imediatos sobre terras não ocidentais (The Dervish House - passado na Turquia), viagens no tempo clássicas (Blackout/All Clear), space opera militar com todos os aparatos tradicionais (Cryoburn) e uma fantasia feminista com laivos de Ursula Le Guin (The Hundred Thousand Kingdoms). O conjunto de finalistas parece-se assustadoramente com o formato politicamente correcto dos comunicados empresariais norte-americanos (cujas ilustrações devem incluir mandatoriamente representantes de todas as raças do país, numa atitude que pode ser bem intencionada, mas não deixa de parecer igualmente racista, e por conseguinte hipócrita, do que o anterior predomínio branco): estes são os temas dominantes do actual panorama da FC editada nos Estados Unidos, se exceptuarmos a faixa vampiresca que tem público próprio e inclusive já iniciou o seu processo autofágico.

Perante tal diversidade, é difícil apostar num cavalo vencedor, sendo que tudo irá depender agora dos gostos dos participantes da convenção mundial, os únicos que podem votar no final. Também em possível resposta a queixumes dos anos anteriores, um saudável predomínio de mulheres entre os autores finalistas. A única reacção a ter? Ler todos os romances, contos e ensaios nomeados, pois entre eles estarão alguns dos melhores textos do género publicados em 2010, e depois, informados, decidir por vós mesmos.

P.S. - destaque para a possível atribuição do John W. Campbell Award para novos escritores ao luso-descendente Larry Correia. Existe ficção científica portuguesa, sim, a medrar em terras estrangeiras.

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