24 Abril 2011
É Impressionante A Importância que o mundo (dentro do género, bem entendido) atribui a esta singela lista anual de nomeações e galardões, como se reflectisse critérios globais e indiscutíveis de qualidade e não, efectivamente, o consenso, de entre os mil e poucos votantes, do que estes consideram ser «ficção científica». Não deixa de ser uma responsabilidade algo excessiva para tão pouca gente, a de falar pelos seguidores de todo o planeta. O argumento contrário é o facto de se terem interessado o suficiente com a situação do género para apresentarem um voto - quem se abstém, não conta... No final, o balanço resulta positivo, pois estabelece padrões, que podem ser seguidos ou contrariados.Após um conjunto de anos com a cabecinha virada para textos de Fantasia, o Hugo tem apresentado, nos últimos anos, uma saudável (na perspectiva cá da casa) preferência pela racionalidade científica. Este ano assiste-se a uma mistura estranha, na qual textos sobre zombies (Feed) concorrem com futuros imediatos sobre terras não ocidentais (The Dervish House - passado na Turquia), viagens no tempo clássicas (Blackout/All Clear), space opera militar com todos os aparatos tradicionais (Cryoburn) e uma fantasia feminista com laivos de Ursula Le Guin (The Hundred Thousand Kingdoms). O conjunto de finalistas parece-se assustadoramente com o formato politicamente correcto dos comunicados empresariais norte-americanos (cujas ilustrações devem incluir mandatoriamente representantes de todas as raças do país, numa atitude que pode ser bem intencionada, mas não deixa de parecer igualmente racista, e por conseguinte hipócrita, do que o anterior predomínio branco): estes são os temas dominantes do actual panorama da FC editada nos Estados Unidos, se exceptuarmos a faixa vampiresca que tem público próprio e inclusive já iniciou o seu processo autofágico.
Perante tal diversidade, é difícil apostar num cavalo vencedor, sendo que tudo irá depender agora dos gostos dos participantes da convenção mundial, os únicos que podem votar no final. Também em possível resposta a queixumes dos anos anteriores, um saudável predomínio de mulheres entre os autores finalistas. A única reacção a ter? Ler todos os romances, contos e ensaios nomeados, pois entre eles estarão alguns dos melhores textos do género publicados em 2010, e depois, informados, decidir por vós mesmos.
P.S. - destaque para a possível atribuição do John W. Campbell Award para novos escritores ao luso-descendente Larry Correia. Existe ficção científica portuguesa, sim, a medrar em terras estrangeiras.