19 Abril 2010
Mais Do Que Todas as políticas de protecção do livro, mais do que uma reviravolta na eficiência da indústria livreira, mais do que fusões e aquisições destinadas a reduzir o custo de produção e obter economias de escala para colocar exemplares em mais pontos de venda a melhor preço, mais do que um aumento brutal da qualidade das traduções, mais do que uma estratégia bem sucedida do livro de bolso, mais do que livrarias com cafés e música para atrair clientes, mais do que capas inovadoras com relevo e prateados, mais do que expositores altos ostentando personagens enigmáticas, mais do que promoções e pacotes de descontos, mais do que reportagens na imprensa e espaço nobre no telejornal, mais do que passar palavra em blogues, mais do que criar booktrailers, mais do que falsear polémicas para chamar a atenção, mais do que inventar dias de festa temática e feiras locais, mais do que andar a vender de porta em porta e à entrada do metro, mais do que qualquer esforço nacional, o Eyjafjallajökull será, com grande probabilidade, o principal contribuidor para o crescimento que este ano se irá verificar na procura de livros de edição portuguesa, pelo simples facto de impedir que as habituais edições estrangeiras, encomendadas por particulares ou pelas distribuidoras, cheguem por via aérea ao nosso país, retidas na origem ou nos hubs europeus de distribuição do correio internacional situados na Holanda e Alemanha. A par do que já contribuiu para a redução das emissões de carbono e do consumo de petróleo graças a todos os vôos não realizados.Há duas formas pelas quais podemos inscrever o nosso nome no grande mecanismo do progresso: sermos excepcionalmente eficientes e criativos para que se desenvolva e cresça de forma inédita, ou sermos abismalmente obtusos e «empatas» quando chega a nossa vez de contribuir de modo que nada avance até que nos venham pedir (e oferecer) favores. A Islândia, sem prever, terá encontrado o seu lugar na História.
Actualização: surgiram dúvidas perfeitamente razoáveis de que os meus comentários poderiam estar a referir-se a um recente debate sobre a natureza da edição da FC em Portugal, agora e no passado. Nada poderia estar mais longe da verdade, inclusive porque, por afazeres pessoais, não dediquei o tempo necessário a ler e ponderar os extensos argumentos apresentados e logo nem sequer o tinha em mente quando escrevi isto. O referido acima aborda o mercado livreiro nacional como um todo de forma generalista, e não a FC ou posturas e opiniões pessoais. Apenas queria deixar aqui este esclarecimento.