04 Novembro 2008
27 Dias de Pulp. O pulp atravessa as eras e assume diversas formas. Muito do que se tornou pulp chamava-se antigamente folclore, folk lore, as crenças das gentes - histórias contadas de geração em geração, disseminadas por viajantes e mercadores, transformadas a cada narração, histórias que evoluiam e se imprimiam no inconsciente colectivo, após tantas vezes escutadas, que se tornavam em conhecimento e por vezes (quase) em facto. O pulp não fugiu a este ditame. Enquanto forma popular e barata, era consumido com a despreocupação de quem efectua uma pausa numa vida séria ou de quem, sendo jovem, procura não dar ouvidos a quem lhe afirma que o mundo não é tão especial quanto ele ainda pensa. Enquanto ficção, utilizava a lupa de aumentar da narrativa para explorar sonhos ou ansiedades básicas da existência humana, fazendo reflectir em monstros as ansiedades da morte e da intolerância, em cowboys implacáveis a necessidade do guerreiro imprimida nos genes de todos os machos, em enigmas criminais que despertavam o analítico nos reclusos e tímidos sociais. Enquanto inovação a nível de ficção massificada, produzida a um ritmo regular e destinado a um consumo repetitivo, também ele formou os seus próprios padrões de história (estilos acelerados, intuitivos, ilógicos, preconceituosos, simplistas, descritivos ou redutores) e também ele, pela força desta massificação repetida que conduzia a histórias com naturezas idênticas nas quais as diferenças autorais se diminuiam, imprimiu uma lógica de contar e um padrão de histórias (de Primeiro Contacto com extraterrestres, do cavaleiro solitário qual Messias contra um Mal inominável, do terror escondido no sótão) que, após reprodução na literatura mais séria e moderna, e difusão pelo cinema, persiste até aos dias actuais.Não havia um momento a perder. A Máquina do Frio estava em pleno uso, e se não conseguissem capturar o quartel, em breve toda a ilha estaria soterrada de gelo, gelo feroz e inóspito que acabaria por consumir toda a vegetação e animais e pessoas - em suma, toda a vida naquele pedaço isolado dos Trópicos.
- Temos de recuperar os mísseis - disse o general Japard, encarando estupefacto os pequenos veleiros que tinham servido de transporte para o 8º Batalhão. Repousavam agora sobre pilares de gelo enormes, do tamanho de um prédio. Como tinham ido lá parar, não havia modo de saber. O Batalhão não respondia à chamada nem havia sinais de nenhum dos homens. Sabia-se contudo, que cada um daqueles barcos transportava dezenas de explosivos e uma dúzia de mísseis de longo alcance terra-terra.
A telemetria indicava que nenhum deles tinha sido usado contra a Máquina do Frio. Não tinha havido um ataque de resposta ao inimigo. Apenas aqueles navios, aquelas estátuas no topo de montanhas de gelo, de velas recolhidas ante o vento gélido, caladas, vazias, inóspitas.
Ia ser praticamente impossível cumprir as ordens do General. Tudo o que poderiam usar como instrumentos - madeira, lianas - estava soterrado debaixo de uma camada de gelo de meio metro de espessura. O tempo que perdessem a escavar era tempo ganho pelo inimigo. Ele assistira já aos efeitos de uma exposição total aos efeitos do raio sobre um ser vivo. O resultado não era nada agradável.
Mas "praticamente impossível" não significava "totalmente impossível"...
Soltou um assobio. Fez rodar a mão no ar.
O Esquadrão Especial saiu dos esconderijos nas tocas de neve e correu para ele sobre patins. Patins que tinham sido ideia do sargento Esperança, e que de facto eram uma forma eficaz de se moverem naquele terreno desconhecido, mau-grado as ocasionais e humilhantes quedas de quem estava mais habituado.
Começou a pensar em quem haveria de destacar para a perigosíssima missão. Iriam ficar à mercê da Máquina, se o inimigo estivesse atento.
Iria precisar dos seus melhores homens. E já sabia quem havia de escolher.