Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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18 Fevereiro 2008

NUM HOTEL VOCÊ DEIXA MAIS QUE LEMBRANÇAS. Uma reportagem publicada no último número da revista Morgan’s Australia põe a descoberto de forma chocante as ligações estreitas entre a indústria hoteleira e o crime organizado do roubo de identidades. Tratando-se da mais importante natureza criminosa que assola as sociedades desenvolvidas actuais, o roubo de identidades foi responsável, apenas no ano passado, por meio bilião de euros de danos físicos e patrimoniais, e um investimento considerável e crescente nas medidas de segurança e protecção da informação, com efeitos negativos nos orçamentos públicos mundiais. A falsa identidade está na origem de esquemas de fraudes financeiras que atingem, não só as populações de forma massiva, como grandes corporações e entidades bancárias, e inclusivamente atribuições automáticas de compensações governamentais. Desde a simples aquisição de bens de consumo com recurso a meios de pagamento roubados, ao desvio de transacções financeiras internacionais de elevada magnitude, este tipo de criminalidade é já considerado pelos sociólogos como um dos efeitos secundários mais nocivos da globalização, e embora tenha incentivado a criação de protocolos entre as forças de segurança internacionais para a detecção e captura dos criminosos, tem igualmente estado na origem de um debate político aceso a nível da ONU sobre o direito à privacidade e ao estabelecimento de limites na recolha de dados pessoais versus segurança pública – debate que certamente será avivado perante o surgimento deste extraordinário trabalho de investigação. O que os jornalistas da revista australiana relatam com bastante pormenor é um dos métodos mais insuspeitos, eficientes e engenhosos de captura dos dados pessoais, que recorre intensamente a unidades hoteleiras espalhadas por todo o mundo, algumas das quais pertencendo a importantes grupos turísticos. Como todos os grandes métodos ilíticos da História, alia simplicidade com engenho, aproveitando-se do ambiente de confiança que se estabelece naturalmente entre cliente e hotel, bem como da ampla oportunidade, pelo estabelecimento, de recolher detalhes da vida privada dos seus frequentadores. Tendo acompanhado uma equipa de investigação de Sydney, e em seguida efectuado eles mesmos uma experiência, os jornalistas relatam como desde o primeiro momento, uma unidade hoteleira tem acesso a informações sobre o cliente, de forma legítima, justificada pelo negócio, e por vezes obrigatória por lei, que o próprio não facilitaria sequer em muitas outras situações – a começar no registo de chegada, onde é requerida a apresentação integral de documentos de identificação e de meios de pagamento, ambos facil e rapidamente duplicáveis por dispositos preparados para o efeito. Não se contentando com isso, os hoteis têm ainda acesso aos pertences do cliente durante os períodos de ausência deste do quarto, às suas impressões digitais, ao seu código genético por recolha da pele e cabelos libertados pelo corpo; podem gravar a voz e respectiva entoação para reprodução posterior junto do banco, as impressões retinais e até os maneirismos, que poderão ser imitados por um simulacro virtual. Uma estadia de meros dias é suficiente para se obter um padrão psicológico mínimo que lhes permita (entre outros esquemas ditos de impersonalização) reproduzir, de forma rápida, as palavras-chave que a vítima usa para aceder ao património financeiro. Os golpes efectuam-se geralmente em países e culturas onde não tenha estado anteriormente, informação facilmente obtida através do passaporte, ou se encontre em férias ou imersa em situações pessoais que fragilizem a sua atenção – e com bastante recorrência durante o período de viagem de regresso a casa, no qual a vítima não tem acesso aos seus registos financeiros nem pode ser facilmente contactada, deparando-se, ao chegar, subitamente depauperada e impossibilitada de regressar ao local do crime e apresentar uma queixa formal. Daqui se depreende, afirma a reportagem, que a eficiência no combate a estes actos ilegais dependerá cada vez mais da capacidade de colaboração das forças de segurança e da vontade política dos países onde o nível de incidência é maior. O problema não se encontra, ao contrário do que seria de se esperar, apenas nas tradicionais regiões menos desenvolvidas, uma vez que um assustador nível de ocorrências se tem verificado no seio da própria UE, e ao qual nem Portugal se escapa, encontrando-se o número de queixas apresentadas contra o território luso acima da média europeia. O assunto chamou já a atenção do Executivo nacional, que planeia uma campanha de sensibilização global durante o corrente ano. Entretanto, entre os primeiros a reagir encontram-se as companhias seguradoras, as mais afectadas historicamente pelas repercussões deste tipo de criminalidade, emitindo comunicados aos seus clientes a avisar sobre limitações no nível de responsabilização assumido, caso estes não protejam as respectivas identidades, mediante a aquisição e uso de avatares legais e validados. [Agência Nacional de Notícias, 19.02.2015]

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13 Fevereiro 2008

AÇORES TORNAM-SE NAÇÃO INDEPENDENTE? Continuará o arquipélago descoberto por Gonçalo Velho há precisamente seis séculos a fazer parte de Portugal ou estaremos a assistir ao ínicio de uma nova etapa enquanto nação independente? Eis a questão a que hoje os açoreanos são chamados a responder por referendo. Passaram-se quinze anos desde a erupção ao largo do Faial que facilitou o acesso a uma das últimas reservas de petróleo desconhecidas do planeta, e cuja exploração local permitiu o crescimento rápido da região, tornando-a na mais rica do país (as ilhas contribuem com um terço do PIB) e colocando-a inclusive entre as zonas económicas com maior rendimento per capita do mundo. Não admira que exista enorme apreensão em Belém e Bruxelas, pois os estudos efectuados indicam que a possível (e segundo as sondagens, inevitável) independência dos Açores conduzirá a uma queda abrupta na economia portuguesa e ao início de gravíssimo ciclo de crise. Fique atento a este espaço. E se é natural dos Açores, não se esqueça de votar, ligando para o número 45339995006 e seguindo as instruções que lhe forem indicadas (chamada de valor acrescido). [Agência Nacional de Notícias, 13.02.2039]

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