Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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03 Fevereiro 2008

PERSONALIDADE DO MUNDO VIRTUAL VÍTIMA DE ATENTADO. Em comunicado oficial da empresa gestora do empreendimento simulado A Verdadeira Vida, foi encontrado assassinado na sua mansão no universo de Chagal o famoso milionário virtual Rasputin Corleone. O comunicado foi efectuado em conferência de imprensa expressamente convocada para o efeito, na qual foram também apresentadas as medidas de segurança pública estabelecidas para a prevenção dos efeitos secundários e detecção dos responsáveis. Esteve presente o director nacional da GNR para universos virtuais, o comandante Josué Simões, que em breves palavras delineou as linhas de acção actualmente em curso pela equipa de emergência constituída para este fim. Segundo o vinculado, o feito decorreu durante a celebração da época de Carnaval no Verdadeira Vida, caracterizada por um habitual incremento de imersão do número de utilizadores do universo virtual, a maioria dos quais o fazem pela primeira vez e que constitui um dos principais modos de angariação de clientes e crescimento da empresa. A solicitação é de tal ordem que, para dar resposta à exigência de novos avatares temporários, universos bizarros de duração limitada, e um ambiente genérico de anarquia conceptual no que é um dos mais conservadores e confiáveis simulacros da vida real, e de acordo com as palavras do porta-voz da empresa, o parque informático chega a estar dedicado a 90% ao evento. Como resultado inevitável, os restantes universos virtuais acabam por sofrer uma perda significativa do nível de desempenho, incluindo a capacidade de monitorização global. O crime ocorreu durante uma das ocasiões de maior acesso de utilizadores, pelo que Chagal – universo proprietário da entidade assassinada – se encontrava com o nível de supervisão mínima e logo não restou um registo definitivo e concreto de como o feito teve lugar. O porta-voz da Verdadeira Vida fez notar que actos de violência extrema contra personalidades do meio virtual são extremamente raros, e que o caso de Rasputin Corleone em particular, enquanto entidade multi-utilizador detentora de imensa riqueza e notoriedade, se tratou da primeira ocorrência registada. Este avatar, que começou como uma brincadeira de dois irmãos de Arruda dos Vinhos e em poucos anos se tornou numa das personalidades mais influentes do empreendimento simulado, detentora de centenas de negócios virtuais, duas dezenas de universos com uma afluência global de duzentos mil utilizadores diários e um património líquido de 50 mil milhões de v-euros (cerca de 3 milhões de euros ao câmbio de hoje), era controlado por cerca de trinta utilizadores-mor em regime de partilha consensual, na sua grande maioria empresários ou multinacionais de elevada importância no mundo real. Entre os negócios conduzidos nos universos virtuais da Verdadeira Vida, contam-se os simulacros de grandes empreitadas de construção para infrastruturas do mundo real (cidades, auto-estradas, aeroportos) que resultaram no ganho de concursos públicos e contratos efectivos, imensamente lucrativos, para os utilizadores em questão. O comandante da GNR indicou que a principal razão deve estar relacionada com um ajuste de contas do mundo real, e que se encontram a investigar sindicatos virtuais e lobbies políticos de extrema-direita. Seja qual for o resultado, o porta-voz da Verdadeira Vida comunicou que, apesar das intensas pressões sentidas em contrário, a empresa não prevê a reactivação da personalidade conhecida como Rasputin Corleone: não só isso iria contra as regras subjacentes à existência do universo, com o risco de subsequente alienação da base de utilizadores, como receavam que aligeirasse o impacto decorrente de um acto criminoso. Segundo o porta-voz, a empresa considerava que o acto era tão danoso como se perpretado no mundo real contra uma vida concreta, e que devia ser investigado pela polícia e julgado com igual seriedade. O desaparecimento de Rasputin Corleone deixou centenas de negócios órfãos de dono, cujos direitos de transmissão, na ausência de legislação apropriada e de um testamento efectivo, irão consumir os recursos legais da Verdadeira Vida durante os próximos meses. [Agência Nacional de Notícias, 03.02.2028]

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02 Fevereiro 2008

A ARGONAUTA ACABOU DE VEZ, de acordo com um comunicado do Nuno Fonseca (recém nomeado co-editor da revista Nova) que só hoje li: «Num passeio pelas livrarias do CCColombo, andava eu à procura por alguns dos últimos números da Argonauta, específicamente por livros de Isidore Haiblum, quando nada encontrando dei em perguntar no balcão da Bertrand por eles, e informaram-me cândidamente que a Livros do Brasil mandara uma circular há dois ou três meses informando que não efectuariam mais a distribuição da Colecção Argonauta. Parece que é desta que a mais antiga colecção de FC do país deu o berro.» Cinquenta anos de história da FC (o primeiro número saiu em meados dos anos 1950) que assim deram o berro, suavemente, sem notícias. As colecções, aparentemente, também morrem no esquecimento, como certas pessoas. Tarde de mais escreveremos a história. Se alguma vez o fizermos... Encontrei-a pela primeira vez nos escaparates de uma mísera loja de praia, aos 12 (?) anos, chamando-me a atenção (imagine-se) o Heinlein («O Número do Monstro», 3 volumes). Grandes momentos passados com Pern e seus dragões, tardes sentadas sob o sol, acreditando intensamente naqueles mundos imaginados com uma entrega sem reservas que não sou mais capaz de recuperar. Aos 15 anos uma queda abrupta de qualidade na tradução e revisão. A separação alguns anos depois, quando o mundo da escrita em inglês invadia e dominava a minha atenção até à quase exclusividade. E depois um lento definhar (idiota, a meu ver) até a colecção morrer de um derradeiro suspiro não anunciado oficialmente. E em todos estes anos (conforme é minha «tese» da introdução à Por Universos Nunca Dantes Imaginados), também uma colecção de exclusão e rejeição da FC portuguesa, por nunca admitir um autor nacional na sua lista de 600 e tal títulos, e só recentemente Márcia Guimarães, uma brasileira, ter conseguido romper o crivo editorial, com infelizmente, uma obra que deixa muito a desejar. Em 50 anos, aquele que poderia ter sido um veículo-mor de incentivo do fantástico nacional excusou-se a esse dever, e tivemos nós de aguardar até ao século XXI para finalmente termos uma horde de autores regulares e mercado em crescimento.

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