Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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27 Dezembro 2007

QUE PREDOMÍNIO É ESTE, O DA FICÇÃO CURTA? Não só os convites para escrita se têm referido a participações em antologias (e destes já deixei passar um em que realmente queria estar incluido, por várias razões, mas cujo resultado, por mais voltas que lhe desse, e foram muitas as voltas, não me estava a satisfazer, e participar com qualquer coisa acredito ser uma pior falta de respeito a quem lança o convite - interessantemente, creio haver ali possibilidade de romance), como numa recente viagem aos territórios norte-americanos (grande razão pela qual este blog tem estado calado) retornei de mala cheia com antologias de toda a espécie, desde o Best American Fantasy editado pelos VanderMeer, os inevitáveis Best of do ano, uma fabulosa colectânea de M. Rickert chamada Map of Dreams, uma antologia sobre a New Space Opera, a European SF Hall of Fame onde o João Barreiros marca presença e yours truly é mencionado, e outros, sendo que a presença do romance é marcada por um livro do Stross, pelo Crystal Rain do Thomas Bucknell, pelo fabuloso Counting Heads do Marusek (olha eu prá'qui, lançando referências como se toda a gente soubesse a que me refiro), e uma dúzia de livros em segunda mão que encontrei a dois dólares (sim, dois!) nas prateleiras...  ah, grande mercado dos livros usados e dos descontos de final de edição, quando é que aprenderás, ó Terra Tuga? Da panóplia de compras - que nem foi exagerada, desta vez - destaca-se a excelente biografia de Alice Sheldon, que não só é uma referência obrigatória para a compreensão de uma das melhores autoras do género, como é um exemplo a seguir em termos de biopic e de qualidade na escrita de um ensaio, fornecendo uma perspectiva bastante elucidativa e integral sobre o processo de gestação de um autor complexo desde a tenra idade. Uma vez que a autora pouca obra tem publicada entre nós e possivelmente não será reconhecida pela comunidade feminista portuguesa, duvido que vejamos este livro publicado nas próximas décadas...

Double Life of Alice Sheldon cover

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05 Dezembro 2007

O PRESIDENTE DE UMA DAS MAIS IMPORTANTES linhas editoriais de ficção científica e fantástico norte-americanas tece um conjunto de observações interessantes sobre a relação entre o trade paperback (livro de capa cartonada com o formato mais comum que hoje em dia se pode encontrar nas lojas) e o paperback (o saudoso livro de bolso que tem passado por um conjunto de tentativas para reimplantação no mercado). O negrito da citação é meu.

Trade paper has never done better for us. It’s been growing steadily for years and it’s certainly nice to see two of our books on nationally respected trade paperback bestseller lists in any one week, but I am worried about mass market. So much of mass market is impulse and impulse is so important to the creation of new readers. The person buying a book from a wire revolving rack in a drugstore as he waits for a prescription, the person who buys a book from an attractive in-line display in a supermarket, in a shop in the hotel lobby, or at a newsstand in an airport or a train station is not necessarily a committed and regular reader. But numerous surveys have shown that if you please them often enough in impulse situations a meaningful number will be converted. These impulse sales are an important part of our outreach and we need to be sure there is a selection which will tempt that consumer. Nielsen surveys have shown science fiction and fantasy as high as 12.4% of fiction sales. If no science fiction is displayed a significant number of potential customers may not be tempted, the same is true of many other categories and in each case new readers will be lost.

A perspicácia desta abordagem é a compreensão do facto de que as pessoas são atraidas pelo que gostam (não poderia haver falácia mais simples...), mas que esse gosto, se devidamente recompensado, poderá levá-las a fazer uma transição do sentimento para o acto na forma mais lata. Ou seja, a mera presença de ficção científica e fantástico, ao captar aqueles novos leitores que se interessam pelo tema com obras de qualidade, interessantes e bem produzidas, incentiva-lhe o gosto pela leitura, ajudando o crescimento global do mercado. Vender o género não pelo historial dos números e para o mercado existente, mas ao mercado que ainda não descobriu que o é. E para isso precisamos de livros extremamente baratos e de difusão alargada, que os livros de bolso costumavam ser. Precisamos de livros que custem, no máximo, 9.99 euros, para não se ultrapassar a barreira psicológica da nota de 10 euros - e de preferência, menos do que isso, de preferência apresentarem metade do preço normal de um trade paperback. Não sei até que ponto as actuais iniciativas do nosso mercado têm tido sucesso (e de novo, continuo a defender que, por muito sã que seja a decisão de publicar clássicos, não são estes que vão dinamizar o mercado...), mas não lhes encontro o dom da ubiquidade - nem, se a memória não me atraiçoa, o condão do baixo custo. Ter livros de bolso em espaços livreiros do mercado português actual em concorrência directa com iguais títulos no formato maior, os quais dão ao livreiro maior margem e logo maior incentivo para vender, é uma forma muito directa de eutanásia do pequeno formato. Estes livros de bolso têm de estar onde as livrarias não chegam - às bancas de jornais, aos cafés, às repartições de finanças, aos bancos, às salas de espera dos consultórios... a todos os sítios em que possa haver um consumidor aborrecido e a perder tempo a olhar para o vazio. Pequenos expositores transparentes com dizeres apelativos a convidar a passar o tempo numa companhia agradável e de baixo custo. Selecção pensada e limitada, apoiada num processo de venda o mais simplificado possível, pois os funcionários do local não teriam a formação necessária para efectuar operações de tesouraria e por isso teriam de seguir um conjunto de passos explícitos e absolutamente directos. Poderia resultar?

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