Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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22 Julho 2007

EIS UM POSSÍVEL MOTIVO DA QUEBRA de sucesso da Ficção Científica? Esqueçam por instantes a arrogância patente na escrita deste artigo, apesar de o autor tentar mais adiante disfarçá-la com sorrisos e um just kidding . Esqueçam que está mais preocupado com as roupas que os autores vestem do que com as ideias que veiculam, tanto que nem se digna a apresentar devidamente uma única destas ideias («And there are several grown men apparently untroubled by the fact that they’re wearing backpacks to a social event, yet troubled to the point of madness and eczema by pretty much everything else», como se o propósito da reunião dos Escritores Americanos de FC&F fosse discutirem as últimas tendências da moda... argumento que o parágrafo seguinte, no qual percebo um grande nível de sarcarmo, não redime: «Not that there’s anything wrong with that. This is, after all, a gathering of fiction writers, and if fiction writers were good at going to parties, well, most of them wouldn’t be fiction writers. Fiction is a job for people with Big Ideas, not a flair for small talk—and with the exception of Tom Wolfe, they’re generally too concerned with topics like the human condition and the fate of the world to worry about their appearance.») Esqueçam por momentos que este senhor só conhece Verne e Wells e Shelley e Crichton, todos eles demasiado antigos ou marginais ao género actual para descrever a complexidade que actualmente o caracteriza. Esqueçam o pressuposto cabotino de que os escritores de FC têm como função obrigatória prever o futuro, como se algum humano nascesse com poderes divinos de antecipação, bem como o facto de ignorar que se trata de um exercício intelectual supostamente para proporcionar prazer e entendimento e não visões do porvir («If your goal is to persuade and be believed about the truth of a particular point, then what would possess you to choose to work in a genre whose very name, fiction, explicitly warns the reader not to believe a word she reads?»). E atentem somente nesta citação:

«The world is speeding up, you may have noticed, and the rate at which it’s speeding up is speeding up, and the natural human curiosity that science fiction was invented to meet is increasingly being met by reality. Why would I spend my money on a book about amazing-but-fake technology when we’re only a few weeks away from Steve Jobs unveiling a cell phone that doubles as a jetpack and a travel iron? As for the poor authors, well, who would actually lock themselves in a shed for years to try to predict the future when, in this age, you can’t even predict the present?

But the science fiction writers—not only of America, but of the world—should not beat themselves up. If, through their talent and imagination, our species has progressed to the point that it no longer requires their services, then that should be a source of pride, not shame, and the rest of us should be honoring these obsolete souls, not making fun of their beards and backpacks in snarky, supposedly humorous commentaries [...]

Let everything but the truth be “Fantasy,” I say, and let the truth—the searing, unmanageable, discombobulating truth of the lives we have invented for ourselves in a world it took artists to imagine—be Science Fiction.»

E desta citação, a pergunta, para ponderar, que já formulei em outras ocasiões: se o grande problema da falta de seguidores do género se traduz na ausência de um futuro inspirado, concreto, consensual? Nos anos 40 e 50 todos queríamos chegar à Lua e aos planetas, colonizá-los, disseminar a estrutura da família-padrão com maior ou menor controlo do Estado consoante a tendência política do autor. Todos nós conhecíamos o futuro, fossemos leitores de FC ou não. Mas que futuro é comum a todos nós, actualmente? Como é possível de facto estabelecer uma meta de sociedade quando não sabemos que forma vai assumir o mundo no mês seguinte? Algum espanto que os leitores se virem para o conforto medieval da fantasia, sempre estática, e que se afastem da FC?

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22 Julho 2007

APROPRIAR-SE DE ACONTECIMENTOS DO QUOTIDIANO para fins literários é uma faca de dois gumes: se por um lado mostra uma cultura capaz de ficcionar a sua própria experiência e guardar dela memória, por outro lado exige um rigor e uma responsabilidade de abordagem acrescido - na apresentação dos factos, na dissecação dos pormenores, e mais importante, na subtil atribuição da culpa inerente a qualquer processos narrativos -, uma vez que se torna difícil a pesquisa, o vencer da relutância de falar sobre os acontecimentos, a completa isenção das testemunhas ante um caso tão recente. Gostaria de ver nesta notícia um sinal de que caminhamos progressivamente, à semelhança da cultura anglo-saxónica, para a fixação em romance da nossa história recente - para quando uma grande, corajosa e assumida história sobre a Guerra Colonial? - e de certa forma um sinal de respeito da sociedade ante o acontecimento, por não deixar que seja esquecido, e contudo, a acreditar no artigo (e na extrema irresponsabilidade de frases-feitas de o «escritor pode permitir-se tudo» quando aplicadas a obras inspiradas em factos verídicos, em particular quando sabemos que este argumento não tem grande validade em tribunal) receio que a abordagem tenha sido afinal outra, que o escalpelo tenha sido aplicado não ao de leve mas à machadada, em suma, resultado de uma breve recolha de frases de jornalistas, uma colagem com pontuações, inícios de capítulo e preposições, juízos de tasca, e pronto, temos livro de ocasião...

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