Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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18 Julho 2007

PROPOSTA DE FICÇÃO. Considerem um par de sóis presos numa dança gravitacional. Ambos encontram-se na fase decadente do ciclo de vida, um deles praticamente consumido, o outro mantendo uma extensa camada de hidrogénio em permanente fusão que no entanto rodeia um núcleo duro e relativamente mais frio. A órbita mútua mantêm-os próximos, de forma a que periodicamente o sol mais brilhante entra em convulsões, expelindo parte da matéria que o compõe, a qual é então capturada pelo companheiro e consumida, fazendo-o retornar por algum tempo a uma pálida semelhança da luminosa glória de outrora.

Este inconsciente acto de generosa abnegação acontece a cada dez mil anos, um mero batimento cardíaco na duração do universo, e apenas fará com que o sistema termine a sua participação na noite estelar mais rapidamente. O destino do par é evidente e incontornável.

Considere-se agora a existência de um ou mais planetas naquele sistema binário - suficientemente próximos para que a fraca energia emitida dinamize processos químicos conduzentes à vida, e também suficientemente distantes para não se serem perturbados pelas atracções gravitacionais dos astros e acabarem a existência num mergulho de encontro a um dos sóis, ou sendo expelidos para o frio e imenso espaço exterior.

Considere-se que é possível acelerar o desenvolvimento de uma qualquer ecologia ou sistema autónomo para coincidir com o período destes dez mil anos, de forma que, antes da próxima libertação de matéria pelo sol brilhante, esta consiga atingir e manter um nível de maturidade biológica que sirva o propósito dos criadores.

Considere-se igualmente que a próxima convulsão estelar irá cobrir os planetas com fortes níveis de radiação e matéria em brasa, capazes de não só destruir a ecologia respectiva em poucos instantes como eliminar todos os traços de que tivesse existido.

Que melhor sítio encontraria uma civilização avançada para esconder o desenvolvimento de uma nova e secreta arma?

(Estreia em Novembro.)

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17 Julho 2007

E CONTUDO CADA VEZ SE LÊ MAIS, apenas não gostamos do que se lê.

Porque o que se lê é efémero, imediato e abreviado. Ou seja, a internet.

E como diz o Cory Doctorrow, a cada dia se lê mais texto num ecrã e menos em papel, pelo que a transição ocorre naturalmente.

Afinal, as horas do dia são limitadas...

...e ainda temos de ver televisão, ir ao cinema de vez em quando, dormir e trabalhar...

... pelo que não resta muito tempo para ler livros e ler blogs e percorrer o Second Life.

Algo fica para trás.

E porque não deveria ser assim? A leitura na internet é gratuita, enquanto que os livros são caros...

Os miúdos fazem a escolha certa face à capacidade financeira que lhes está disponível.

Além de serem continuamente desafiados com informação nova e viva e tangível...

... e acima de tudo apresentada de forma abreviada...

... em várias formas e formatos: iPod, iPhone, PDAs, telemóveis.

Isto obriga a ficção a adaptar-se?

Obriga a alterações na estrutura do texto, do parágrafo, da frase?

Obriga a edificar formas mais sucintas, enredos menos elaborados, ideias mais sucintas, frases mais objectivas?

Obriga a que se torne atractiva na apresentação de um ecrã de computador?

Obriga a que se torne tão interessante e tenha um estilo tão cativante que consiga competir com os incontáveis milhões de páginas espalhadas pelo mundo virtual fora e impedir que o leitor avance para a próxima?

É bem possível.

Imaginem então que são autores.

Imaginem uma lógica televisiva na escrita da história...

... algo que tente impedir o temido zapping que não existia com os livros mas que existe na internet...

... embora este zapping se encontre intensificado à décima potência, pois não estamos a falar de uma mera centena de canais alternativos.

Que opções como autores vocês escolheriam?

Que compromissos de estilo?

Que nível de simplificação ou estupidificação estariam dispostos a aceitar face a uma versão impressa?

Que deixariam por dizer apenas por pensar que não se aplicaria?

Quantos de vós continuariam a escrever?

Quantos de vós chegaram a esta frase?

Quantos de vós encontraram na estruturação deste post um possível exemplo da nova realidade?

Possivelmente tudo será novamente abalado e voltará a situar-se na direcção do livro manuseado e dos grandes épicos com o advento do papel virtual...

... mas parece-me que o flash fiction (forma na qual o João Ventura se mostra virtuoso dentro do género fantástico) tem todas as probabilidades de ser o tipo de ficção escolhida pelas próximas gerações - as gerações com ainda menos tempo e menor capacidade de concentração.

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