18 Julho 2007
PROPOSTA DE FICÇÃO. Considerem um par de sóis presos numa dança gravitacional. Ambos encontram-se na fase decadente do ciclo de vida, um deles praticamente consumido, o outro mantendo uma extensa camada de hidrogénio em permanente fusão que no entanto rodeia um núcleo duro e relativamente mais frio. A órbita mútua mantêm-os próximos, de forma a que periodicamente o sol mais brilhante entra em convulsões, expelindo parte da matéria que o compõe, a qual é então capturada pelo companheiro e consumida, fazendo-o retornar por algum tempo a uma pálida semelhança da luminosa glória de outrora.Este inconsciente acto de generosa abnegação acontece a cada dez mil anos, um mero batimento cardíaco na duração do universo, e apenas fará com que o sistema termine a sua participação na noite estelar mais rapidamente. O destino do par é evidente e incontornável.
Considere-se agora a existência de um ou mais planetas naquele sistema binário - suficientemente próximos para que a fraca energia emitida dinamize processos químicos conduzentes à vida, e também suficientemente distantes para não se serem perturbados pelas atracções gravitacionais dos astros e acabarem a existência num mergulho de encontro a um dos sóis, ou sendo expelidos para o frio e imenso espaço exterior.
Considere-se que é possível acelerar o desenvolvimento de uma qualquer ecologia ou sistema autónomo para coincidir com o período destes dez mil anos, de forma que, antes da próxima libertação de matéria pelo sol brilhante, esta consiga atingir e manter um nível de maturidade biológica que sirva o propósito dos criadores.
Considere-se igualmente que a próxima convulsão estelar irá cobrir os planetas com fortes níveis de radiação e matéria em brasa, capazes de não só destruir a ecologia respectiva em poucos instantes como eliminar todos os traços de que tivesse existido.
Que melhor sítio encontraria uma civilização avançada para esconder o desenvolvimento de uma nova e secreta arma?
(Estreia em Novembro.)