Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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17 Julho 2007

E CONTUDO CADA VEZ SE LÊ MAIS, apenas não gostamos do que se lê.

Porque o que se lê é efémero, imediato e abreviado. Ou seja, a internet.

E como diz o Cory Doctorrow, a cada dia se lê mais texto num ecrã e menos em papel, pelo que a transição ocorre naturalmente.

Afinal, as horas do dia são limitadas...

...e ainda temos de ver televisão, ir ao cinema de vez em quando, dormir e trabalhar...

... pelo que não resta muito tempo para ler livros e ler blogs e percorrer o Second Life.

Algo fica para trás.

E porque não deveria ser assim? A leitura na internet é gratuita, enquanto que os livros são caros...

Os miúdos fazem a escolha certa face à capacidade financeira que lhes está disponível.

Além de serem continuamente desafiados com informação nova e viva e tangível...

... e acima de tudo apresentada de forma abreviada...

... em várias formas e formatos: iPod, iPhone, PDAs, telemóveis.

Isto obriga a ficção a adaptar-se?

Obriga a alterações na estrutura do texto, do parágrafo, da frase?

Obriga a edificar formas mais sucintas, enredos menos elaborados, ideias mais sucintas, frases mais objectivas?

Obriga a que se torne atractiva na apresentação de um ecrã de computador?

Obriga a que se torne tão interessante e tenha um estilo tão cativante que consiga competir com os incontáveis milhões de páginas espalhadas pelo mundo virtual fora e impedir que o leitor avance para a próxima?

É bem possível.

Imaginem então que são autores.

Imaginem uma lógica televisiva na escrita da história...

... algo que tente impedir o temido zapping que não existia com os livros mas que existe na internet...

... embora este zapping se encontre intensificado à décima potência, pois não estamos a falar de uma mera centena de canais alternativos.

Que opções como autores vocês escolheriam?

Que compromissos de estilo?

Que nível de simplificação ou estupidificação estariam dispostos a aceitar face a uma versão impressa?

Que deixariam por dizer apenas por pensar que não se aplicaria?

Quantos de vós continuariam a escrever?

Quantos de vós chegaram a esta frase?

Quantos de vós encontraram na estruturação deste post um possível exemplo da nova realidade?

Possivelmente tudo será novamente abalado e voltará a situar-se na direcção do livro manuseado e dos grandes épicos com o advento do papel virtual...

... mas parece-me que o flash fiction (forma na qual o João Ventura se mostra virtuoso dentro do género fantástico) tem todas as probabilidades de ser o tipo de ficção escolhida pelas próximas gerações - as gerações com ainda menos tempo e menor capacidade de concentração.

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17 Julho 2007

HÁ UMA RESPONSABILIDADE ECOLÓGICA na construção da ficção, de acordo com Lezard: «All that paper, all those trees felled, all those words ... surely Rowling could have chosen some better ones, or put them together in a more exciting way?». E mais afirma no artigo publicado no Guardian que contesta a excitação mundial relativamente ao Harry Potter. O que lhe acontece no último livro e porque tanta gente se interessa deixa-me perplexo - porque não é apenas campanha de marketing, não há publicidade que consiga um comportamento a tão alto nível sem uma genuína resposta e interesse por parte do público. Não me consigo imaginar a ficar entusiasmado sequer por um livro ou autor que verdadeiramente admire. Apenas os Pink Floyd ou Rogers Waters me fariam correr, e mesmo este não conseguiu convencer-me no ano passado a enfrentar o desagrado das míseras condições do terreiro onde decorre o Rock In Rio. Quanto ao jovem aprendiz de feiticeiro, e à história mais que banal, nada posso afirmar, a não ser que cheguei à página 20 do primeiro livro, mais ou menos onde cheguei com o Tolkien antes de pensar que as Páginas Amarelas tinham melhor enredo... E depois espantam-se que a leitura destes livros não conduza à leitura de outros. Esquecem-se de que se trata do mesmo fenómeno que leva muitas senhoras e alguns senhores a comprar revistas de telenovelas para anteciparem o enredo que dali a poucos dias verão na televisão. O fenómeno Rowling é idêntico aos tie-ins mas inversamente, pela filmização do livro ao invés da costumeira novelização da película. Não estão a comprar livros - estão a comprar Harry Potter. Não estão a ler - estão a assistir ao filme desenrolar-se no interior da mente. Apenas isso.

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