Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

25 Fevereiro 2007

A LITERATURA EFÉMERA? Numa confissão inesperada, James Harris, autor de um ensaio sobre os clássicos da ficção científica (que como ele próprio informa, transformou num site posteriormente), revela, passados vinte anos, o seu afastamento e desilusão face ao que considerava obras de valor inigualável e que pensava resistirem ao tempo. Encostados à parede, defronte do pelotão, ficaram a trilogia Fundação, as Crónicas Marcianas, e vários livros de Robert Heinlein... O comentário infelizmente ilumina pouco - não está em causa a validade de que se possa mudar de gosto ao longo do tempo, mas que, numa perspectiva crítica, mesmo face à natureza ínfima e vulgar própria do espaço bloguista, pouco se diga sobre os motivos do desencanto: terá sido o estilo, a ingenuidade dos pressupostos de então que perdeu contra a atitude mais cínica do mundo actual, a fraca qualidade do imaginário, as convicções científicas entretanto desactualizadas? Terá sido uma questão de envelhecimento pessoal à mistura, a perda do sense-of-wonder? Terá sido uma maior capacidade de afirmação do gosto pessoal do próprio autor, no sentido em que não teria, então, tido o discernimento suficiente para contrariar a vox populi (como sugerido em: «I had read the original Foundation trilogy back in the 1960s and accepted it then as a classic because everyone said it was so»)? A pobreza do desabafo não retira a validade desta terrível questão, que está no cerne de todas as obras produzidas e no espírito de qualquer autor. É uma questão universal da literatura, não somente deste género em particular, embora pela sua própria natureza (dado a circunstâncias ou discursos vigentes na época em que as obras são escritas - e logo a fenómenos de moda que em poucas décadas se tornam em curiosidades arqueológicas - e cujo foco é sobre os sonhos e aspirações de uma geração e cultura numa determinada época da História - e daqui a cinquenta anos, o que interessará mais ao mundo futuro, conhecer os nossos sonhos ou aquilo que realmente conseguimos colocar em prática?) a ficção científica esteja mais vulnerável. Todos escrevemos na areia, mas apenas alguns conseguem adentrar-se mais na costa onde a maré tarda a chegar. Creio que a conclusão mais pertinente, e com a qual tenho mais pontos de contacto, será a seguinte:

(...) I think hard-core science fiction readers will continue to seek and find the books on The Classics of Science Fiction list. The average science fiction reader will be content with the latest fad in science fiction and fantasy books. I think the desire to read science fiction is mostly based on the urge to find new and novel excitements – so the classic books that come from the 1940s and 1950s pulp magazines will feel old and quaint to them. Eventually, even the New Wave times of the 1960s and 1970s will seem old wave. Books from the 1920s and 1930s seemed quaint to me in the 1960s. I have a feeling that the most sophisticated science fiction written today will feel like a dime novel does to us when read by our grandchildren.

[Link Permanentedel.icio.us  technorati  digg  facebook  reddit  google

24 Fevereiro 2007

DO NORTE DA IRLANDA surge-nos uma delirante interpretação sobre o mistério de Brasil, talvez a nação cuja cultura mais consistentemente tem servido de bandeira para o grande choque entre misticismo e ciência, entre racionalismo e delirante paixão, onde o extremo da riqueza e da pobreza subsistem lado a lado, glaciar contra terra em constante fricção - a contenda eterna de duas correntes ou marés na conquista de território, mares que não se misturam. É notória a obsessão anglo-saxónica com este fervilhar de vida, a terra que, comparada com a cultura de inspiração teutónica, se encontra nos antípodas. Ian McDonald já nos tinha presenteado recentemente com uma absorvente e convincente descrição de uma Índia ao virar da esquina, daqui a quarenta anos, numa narrativa saturada de tecnologia vanguardista e hinduísmo (River of Gods, que dificilmente um editor português traduzirá). Em tempos, contou a história de gigantescas locomotivas inteligentes que percorriam os desertos e as cidades perdidas de Marte num estilo inspirado no realismo mágico sul-americano (Desolation Road e Ares Express), da vida em campos de concentração («Fragments of an Analysis on a Case of Histeria»), de meninas retirada de pais incautos na crença de serem a encarnação seguinte da Taleju Bhawani (Little Godness, disponível online). Centra a sua atenção agora naquele país que fala uma língua tão próxima da nossa, mas que está tão distante da nossa cultura e forma de ser como está um filho que emigrou para além-mar e por lá casou, por lá vive, um estranho que agora raramente visita.

Brasyl

[Link Permanentedel.icio.us  technorati  digg  facebook  reddit  google

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português