01 Novembro 2022
Manter acesa a paixão pela arte que comanda a nossa existência. Que nos escolheu a nós, mais do que a escolhemos. Contra desânimos e ausência de reconhecimento (ou sequer de comentários!). Eis o dia a dia de quem teve a fortuna (se fortuna tiver sido...) de abrir um livro de banda desenhada e ficar viciado. Viciado a sério - não se limitar a consumir, mas querer contribuir, produzir, criar, participar no jogo.É um estado de alma familiar para certos indivíduos, motivo pelo qual O Fogo Sagrado, o pequeno e discreto álbum a solo que Derradé deu à luz ultimamente, lhes (nos) toca, sem dúvida. Nesse aspecto, é uma celebração contra o silêncio e a passividade de aceitar uma condição imposta: a do «mercado», que traduzindo-se à letra, revela falta de uma dinâmica de procura, por parte das grandes massas, por esta arte, procura que outros países souberam/foram capazes de impor há mais tempo. Aqui (leia-se: país colado à beira da Europa, como se raspado da sola do sapato), avança-se aos poucos, depois recua-se com força, e existimos num ir e vir de ondas. Não sabemos se terá fim, mas, como dizem os livros de auto-ajuda, «de tostão a tostão, passaste ao lado do milhão».
Desânimos à parte, O Fogo Sagrado é um importante testemunho de (uma vida de) perseverança, ou como outros dirão, teimosia saudável, de manter acesa a chama que identificamos como criação ou paixão, aquilo a que dedicamos os momentos da nossa vida - afinal, o que de mais sagrado temos para dar. E fica aqui o grande desejo, que o apelo se cumpra, que a Banda Desenhada exista. A vida é feita de Pequenos Nadas para que não acabe sendo um Grande. E se este foi mais um livro do confinamento... é como se diz, as crises desafiam. Setenta páginas da Escorpião Azul, e que venha o próximo!