Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


20 Agosto 2009

O Passado Vestido de Futuro. Passou discreta esta convocatória de escrita em território nacional por um motivo de ordem logística, que seria concentrar as participações em autores que, de uma forma ou outra, tenham contribuído ou estejam a contribuir para o debate sobre história alternativa e steampunk. Desta forma, poder-se-ia obter como resultado, não só ficções de peso, como contribuições para um debate literário sobre a relevância da revisão histórica em duas culturas com posturas tão distintas perante o futuro - no sentido em que o Brasil é um país novo com fogo na vista e Portugal, pelas evidências comprovadas, anda a sofrer de um problema de rugas e artrite emocional.

Passou discreta mas não devia ter passado - porque se esse debate é possível a nível do Brasil apenas com autores nomeados, por cá não existe massa crítica, e nem por vezes disponibilidade. Assim, e enquanto emissário da antologia deste lado do Atlântico, venho dar-lhe novo alento e divulgar por mais meios.

Segue o texto da convocatória, com o prazo alargado para os autores portugueses:

 

Antologia VAPORPUNK - Guidelines

A antologia Vaporpunk pretende reunir noveletas de história alternativa do subgênero steampunk escritas por autores brasileiros e portugueses, com fins de publicação em mercados de ambos os lados do Atlântico, em meios de comunicação convencionais e/ou e-book.

Por considerarmos que a dimensão ideal precípua para expressar um enredo de história alternativa é a noveleta e não o conto, como no caso da ficção científica, gostaríamos de fixar os limites dos trabalhos que aceitaremos entre 8.000 e 18.000 palavras. Isto não quer dizer, em absoluto, que trabalhos fora deste padrão serão sumariamente rejeitados. Se vossos escritos forem realmente bons, a qualidade decerto pesará, ainda que eles sejam menores ou maiores do que o limite proposto. No entanto, convém deixar claro que olharemos com mais simpatia trabalhos dentro do intervalo citado.

Analogamente, gostaríamos de receber trabalhos steampunks cujos enredos dissessem respeito, direta ou indiretamente, às culturas brasileira e/ou portuguesa, mostrando o impacto social do avanço tecnológico precoce na história dessa(s) cultura(s).

Vaporpunks, por assim dizer.

Não se trata de uma exigência estrita. Trabalhos steampunks que nada tenham a ver com o Brasil ou com Portugal serão apreciados com a atenção devida e também poderão ser eventualmente aceitos. Porém é honesto frisar aqui nossa predileção por vaporpunks que sejam lusófonos não só de corpo (ou seja, escritos por autores portugueses e brasileiros), como também em espírito (enredo, personagens, ambientação lusófonos).

O prazo proposto é 18 de Outubro de 2009, para autores de nacionalidade portuguesa.

O mais importante é que não nos prendemos à definição castiça de steampunk / vaporpunk.

Isto quer dizer que a ação de vossas noveletas não precisa necessariamente transcorrer na Londres Vitoriana da segunda metade do século XIX. Afinal, As Loucas Aventuras de James West é considerado steampunk e se passa no Velho Oeste, certo?

Da mesma forma, consideramos vaporpunk o romance de Paul McAuley, Pasquale’s Angel (publicado em português sob o título de A Invenção de Leonardo, Saída de Emergência, 2005), onde os inventos de Da Vinci são concretizados e a Revolução Industrial começa com três séculos de antecedência.

Não se faz necessário que o vapor seja a única tecnologia precoce presente em vossos enredos.

Em resumo, estamos interessados em enredos que mostrem o impacto social do emprego amplo e precoce de avanços tecnológicos nas culturas portuguesa e/ou brasileira. Tais enredos podem se constituir em passados alternativos ou em presentes alternativos.

Nos passados alternativos, a ação transcorre numa época bastante anterior ao presente, como por exemplo, na noveleta «Custer’s Last Jump», de Steven Utley & Howard Waldrop, em que o advento da aviação em meados do século XIX modifica a história da Guerra de Secessão e das Guerras Índias que se seguiram.

Nos presentes alternativos, a ação se passa mais ou menos em nossa época, só que numa linha histórica alternativa, modificada pelo advento precoce de uma tecnologia.

Quando principiamos a cogitar essas guidelines, pensamos em conceituar steampunk aqui.

Contudo, descobrimos uma definição castiça adequada na Wikipedia. Os conceitos ali expressos são mais restritivos do que aqueles que lhes estamos propondo, mas já dá para ter uma idéia geral. Portanto, usem e abusem: http://en.wikipedia.org/wiki/Steampunk

Se possível, dêem preferência ao verbete da Wikipedia em inglês, visto que sua tradução na Wikipedia em português encontra-se incompleta e, em alguns trechos, errada.

Se quiserem, sintam-se à vontade para consultar o ensaio «Steampunks!» constante na coletânea em e-book Ensaios de História Alternativa, cujo download é gratuito no site: http://www.scarium.com.br/e-books/sebook3_06_03.html

No que se pese que se trata de um texto escrito em 1998, é mais atualizado do que o verbete da Encyclopedia of Science Fiction, escrito pelo Peter Nicholls.

Contamos com a submissão da sua noveleta.

A submissão deve ser mandada somente em versão eletrônica, formato universal de texto (.txt) ou rich text file (.rtf), para os emails glodir@centroin.com.br e antologia@tecnofantasia.com (enviem para ambos de forma a que não se perca nenhuma submissão. Por favor, solicitem confirmação de recepção). Indicando na folha de rosto o nome de nascimento do autor, o nome literário (se diferir deste), o título da obra, a dimensão (número de palavras) e um meio de contacto (endereço, email). Se tiver de enviar mapas ou gráficos, por favor envie em ficheiro separado e faça a devida nota no corpo do texto.

Mãos à obra!

Gerson Lodi-Ribeiro & Luís Filipe Silva

 

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14 Agosto 2009

De Regresso da WorldCon, Ana Cristina Rodrigues fala-nos sobre a sua experiência em terras norte-americanas.

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13 Agosto 2009

Conheceremos Esta Ficção Científica depois de - muito possivelmente - ter sido adoptada pelo Ocidente, traduzida numa língua próxima, apresentada sem o contexto em que foi escrita (a nível de cultura do país e, muito importante, da reacção do autor à sua própria visão da FC- não esquecer que diferentes países têm diferentes historiais a nível do fantástico e logo as referências não são comuns nem imediatas) e de forma isolada, sem o acompanhamento dos outros autores do país. Depois, e por outro lado, há que sermos honestos e perguntar: se os nigerianos não se interessam pela Ficção Científica por sentirem que não representa os problemas actuais do país, de que modo é que esta pode conseguir vingar no Ocidente? Não será a nossa percepção de África - uma África pobre em eternos conflitos, afastada do progresso - igual, não veremos com algumas reservas a FC dessas terras por pensarmos que não nos pode ensinar nada?

Por sinal, se há alguma esperança numa FC internacional, creio que as maiores contribuições surgirão precisamente das sociedades que são o mais distintas possível da tecnocracia do Ocidente. Diferentes experiências com o progresso, diferentes posicionamentos no mundo, produzem expectativa diferentes sobre o futuro, e logo - espera-se - diferentes Ficções Científicas. Seria assim bastante interessante se a Nigéria, o Congo, o Quénia, o mundo árabe, conseguissem efectivamente, incorporando as lições da FC ocidental sobre as técnicas de especulação e escrita, desenvolver mutações do género literário que, por vezes, parece coxear com alguma falta de originalidade e está constantemente a regressar a temas e modas já percorridos. O desafio, aqui, seria conseguir manter o nível de especulação científica com algum grau de seriedade... sem cair na tentação do misticismo ou do colorido religioso local.

Haverá algum autor angolano ou moçambicano (aparte o Pepetela, que tem feito algumas experiências no fantástico) a lidar com este tema? Infelizmente, desconheço.

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09 Agosto 2009

Em Tempos, Ocorreu-me A Criação de um termo diferente para designar a Ficção Cientifica, ou melhor dizendo, uma particular variante desta, vocacionada para a representação do impacto da tecnologia no ser-se humano, a que chamaria de TecnoFantasia, e lhe daria um manifesto. O propósito inicial, contudo, não encontrou parceria no mundo real, e se me tivesse cingido a explorar esse tema, este blogue estaria repleto de artigos de filosofia e sociologia e não de Ficção Científica. Porquê? Porque a quase inexistente FC publicada em português implicaria uma escassez de referências. Uma década de fantasias escapistas sobre Jovens a Quem a Grandeza é Prometida Sem Esforço que se tornaram sucesso de vendas, ou no mínimo, se traduziram numa garantia de público, não têm ajudado a limpar a reputação da FC e a convencer os editores de que vale a pena apostar neste cavalo.

Em grande medida, é uma questão de marketing e não de preferência, pois a FC, enquanto processo de antecipar um futuro e pensar nas consequências dos nossos actos colectivos, invade-nos todos os dias, desde o planeamento estratégico empresarial às análises básicas de telejornal - e também na literatura, nos romances populares vendidos como thrillers ou espionagem ou outra designação. Qual odor inefável, a classificação de FC enquanto tal não ajuda à colocação nem à promoção do livro, e em muitos casos parece afastar uma fasquia de público ao qual estaria, precisamente, vocacionado.

Este artigo de Kristine Rusch aponta para igual direcção e faz eco de algumas das minhas opiniões, embora não consiga ficar tão igualmente impassível perante o desaparecimento do género enquanto tal. Creio que disseminar o factor futurista pelas restantes ficções sem um núcleo central é desprovi-lo da pureza dos princípios - essencialmente, o que é a especulação e como a apresentar literariamente. Demorámos décadas a chegar à conclusão que os universos da FC se introduzem discretamente, sem explicações directas mas por via das insinuações e da subtileza, e deitar por terra todo este esforço seria uma perda imensurável. Além de que obrigaria o público de FC, o público efectivamente viciado nesta forma literária, a procurar as suas doses de forma diluída - e logo insatisfatória - em romances mais preocupados com os procedimentos judiciais, demandas religiosas, relacionamentos amorosos, mensagens políticas/sociais - em suma, romances menos preocupados com a FC do que com a sua mensagem (de certo modo) umbiguista.

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08 Agosto 2009

Uma Visão Textual da Festa que decorre no outro lado do planeta, e nós cá, no meio da rua, encostados a espreitar à janela e a saudar com latas de cerveja vazias.

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31 Julho 2009

Para Quem Possa Interessar, este blogue entrou de férias e assim irá continuar (espero) nas duas próximas semanas. Estão a decorrer alguns debates interessantes sobre críticas e fantasia lusófona que infelizmente só poderei acompanhar no regresso.

Entretanto, algumas actualizações:

  • Old Man's War do John Scalzi (Gailivro) - tradução entregue, será publicado daqui a poucos meses
  • Pulp Fiction à Portuguesa (Saída de Emergência) - encontramo-nos a preparar o cimento que irá unir as histórias e já em processo de paginação.

Irei, na medida da disponibilidade informática e pessoal, mantendo-vos informados. 

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26 Julho 2009

É Um Período De Grande Actividade no Brasil, no que toca à literatura fantástica. Este fim-de-semana tem estado a decorrer o Fantasticon 2009, um evento brasileiro anual de FC&F, inaugurado há poucos anos (é a terceira ocorrência), em plena São Paulo, cujo programa reune algumas das principais personalidades do género brasileiras e que este ano tem transmissão em directo, supostamente (ainda não consegui confirmar) pela TV Cronópios. Quinze dias depois será a vez de Ana Cristina Rodrigues, actual presidente do Clube de Leitores de FC do Brasil, defender a honra da FC lusófona em plena Worldcon, a convenção mundial de FC&F, num painel que versará sobre o fantástico que se escreve dos Pirinéus à Terra do Fogo. Dado que se realizará em francês, decorrerá às 10h da manhã de sábado, e dada a riqueza deste impressionante programa a nível de ofertas alternativas, tenho as minhas reservas a respeito da quantidade de participantes da sessão, but let's keep our fingers crossed. A Ana contactou a mailing-list mais conhecida da FC nacional para obter detalhes a respeito da nossa literatura, uma vez que a sua experiência versa, naturalmente, sobre o Brasil; por minha parte enviei-lhe a informação que tinha - nomeadamente, links para artigos de discussão recente, e outros mais antigos, que estão públicos e são do acesso de todos.

Fica o aviso que estão ausentes destes artigos aqueles novos e jovens autores da nossa praça cujos seguidores (ou melhor dizendo, um muito pequeno conjunto destes, cujas opiniões quase certamente não representam o colectivo) tanto se crisparam ao não os verem mencionados num artigo internacional recente. Por minha parte, nos meus artigos, como já terão tido oportunidade de ver, apenas me refiro ao fenómeno literário em que estes autores se inserem, mas não os enumero por nome, não por despeito mas por real desconhecimento da obra. Será provas de uma cabala ou talvez sensatez e respeito pelos autores? Outros o dirão. A vertente noticiosa deste espaço (a página principal do TecnoFantasia) sempre procurou divulgar os livros nacionais, como poderão constatar, e se não o faço mais é pela simples razão que os próprios autores/editores não se dão ao trabalho de me enviar um simples e-mail a comunicar a sua existência.

Mas pronto, isso não tem de continuar. O equilíbro pode ser agora mesmo reposto. Eis a vossa grande oportunidade. De ombrear com a velha guarda que vos coloca na sombra. De escrever um artigo definitivo, exaustivo, enumerando estes autores, as virtudes, os defeitos, a contribuição para as letras nacionais. De torná-lo informativo e num verdadeiro guia para a nova, moderna literatura fantástica portuguesa. De enviá-lo à nossa representante lusófona, para devida consideração quando falar de Portugal.

Não há aqui ironia. Vocês lançaram o desafio, passaram as cordas do ringue - agora, mostrem o que valem.

Fico aqui à espera.

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25 Julho 2009

Se A Experiência Resultar continuarei a contribuir com artigos informativos/de opinião para o espaço do Correio do Fantástico, iniciativa de um conjunto de autores e fãs da nova geração (se se pode designar por tal) do género lusófono. Este foi o primeiro. Que por sincronicidade fez eco (inadvertido) com o texto de Nuno Fonseca sobre Isabel Meyrelles (sábias palavras, Nuno), uma das personalidades de destaque da nossa Ficção Científica (além do surrealismo) dos anos 60/70, e que tive o prazer de ouvir numa sessão do Instituto Franco-Portugais na década de 90, acompanhada do Cesariny e outros. Acabaria por confessar, numa breve troca de palavras posteriormente, que já não se dedicava à FC há muito. Sic transit.

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Afinal Ainda Havia Mais Uma. Spot on, Stewart. A ida à Lua tornou-se chata (no sentido figurativo do termo, pois chatas são as tábuas, ou assim ensinou uma professora de Português do meu antigamente). O autor de FC que se tivesse atrevido a sugerir algo parecido teria sido apedrejado sem julgamento prévio. Ainda que, passe a comédia, o programa espacial tenha produzido uma série de efeitos secundários (onde é que já vi este termo?) positivos.

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E Pensar Que Já Tinha Escrito Sobre Isto numa das minhas anteficções. Refiro-me a voltarmos à Lua. Para concluir o tema.

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20 Julho 2009

And Now For Something Completely Similar. Reportagens sobre a Lua dos diferentes senhores e senhoras da Ficção Científica:

Há mais. Vão ver.

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Pai, Que Horas São Na Lua? O relógio recomeça, filho, o relógio recomeça.

Vivemos na presença de uma dezena de homens (infelizmente nenhuma mulher) que colocaram os pés noutro planeta. Ainda que fosse por motivos egoístas de índole política (alguma vez se conseguiu algo sem ser por motivos egoistas? O que julgam que foram os Descobrimentos?). Realizado por um pequeno grupo de pessoas (comparativamente aos milhares de milhões que éramos e agora somos mais). Pessoas munidas de computadores básicos e muito engenho matemático. Enquanto espécie adoramos o espírito de equipa. Fomos, e ainda mais milagroso, voltámos, incólumes (a grande tragédia do programa Apollo aconteceu em Terra). Eis algo que os nossos netos não conhecerão. Somos a geração que não precisa de deuses para rasgar os céus.

Hoje muitos olhos vão estar postos no passado. Vão utilizar a tecnologia para reviver, passo a passo, os minutos daquele acontecimento extraordinário. Vão aguardar pela EVA de Neil Armstrong, vão pedir-lhe que pouse fisicamente no terreno. Duvido que os astronautas conseguissem resistir a sair da cápsula. É patente a emoção que os domina na singela frase «Tranquility Base here, the Eagle has landed». Aldrin descreveria a Lua com outra tirada de mestre, a Desolação Magnífica. Quando a ocasião assim inspira, todos nos tornamos em poetas.

O sempre inovador João Seixas lançou um desafio para contribuições relativas ao tema, que se encontra a publicar no blogue, a um ritmo moderado. Leiam a do António de Macedo e as do próprio João, sendo que daqui a pouco o João Barreiros entrará em cena com outro conto de mestre. Enquanto não chega, e se estiverem interessados, podem ficar a conhecer a minha modesta participação, escrita durante este fim-de-semana. Não sei que outros textos nos aguardam, neste formato que consiste, em si mesmo, num canal muito particular, muito pessoal, uma janela sobre o passado. Não estivemos lá, mas a verdade é que ainda lá estamos.

Ninguém melhor para exprimir a Desolação Magnífica do que os Pink Floyd, nesta gravação que capta a desgarrada emitida em directo pela BBC, na noite do evento. Que possa trazer alguma paz a (mais) uma celeuma que assolou a comunidade portuguesa de fantástico nos últimos dias, potenciada pelo imediatismo da internet como o restolho seco potencia os incêndios florestais. Apesar de tudo o que foi dito, é o silêncio que irá revelar onde se situam os interesses, como sempre tem revelado. Neste caso, e de forma muito explícita, o silêncio sobre o presente feito, sobre o aniversário, sobre um sonho ao mesmo tempo realizado e impedido. Nenhum verdadeiro apreciador de Ficção Científica lhe fica indiferente - não é um dogma mas uma constatação quase genética. Do outro lado, nenhum verdadeiro apreciador de Fantasia lhe confere igual fascínio - não é um juízo de valor, mas um assumir de postura. Somos água e azeite, semelhantes na nossa forma líquida mas de difícil convívio. Eis a nossa natureza. Isso nos cria. Isso nos destroi.

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18 Julho 2009

40 Anos Depois Dos 40 Anos da ida à Lua foi o desafio do SAPO. Foi-me impossível responder ao convite presencial de gravar umas palavras sobre o assunto, mas contribui com um pequeno texto, caso a reportagem vídeo fosse acompanhada de um artigo. Fica aqui o destaque ao trabalho dos jornalistas (no qual surge o nosso «enviado a Marte», José Saraiva), bem como a minha contribuição.

A espécie humana é lenta e acomodada por natureza e só nos movemos pela força da necessidade ou do incómodo. Não há nada de moralmente errado, trata-se do mais básico imperativo genético: chegados à fértil pastagem ou à pradaria recheada de caça, há que parar e reproduzirmo-nos. O esforço termina quando o objectivo é alcançado e se assegura o futuro.

Isto, infelizmente, é a postura pragmática da mentalidade adulta, anti-heróica, desprovida de ideais, contrária à perspectiva romântica de quem ainda é jovem. Sabemo-lo bem, já o fomos ou estamos em fase de o ser, e não há quem não passe por esta transformação.

As sociedades humanas não são diferentes neste aspecto, e se jovens e românticos sonhámos com a exploração espacial, a conquista dos outros planetas e elaborámos ficções a esse respeito, quando finalmente lá chegámos deparámo-nos com a pergunta que não soubemos responder antes.

O que fazemos agora com isto?

Perante os riscos (enormes) e o esforço (imensurável) de colocar humanos em condições muito precárias no espaço e noutros planetas, por reduzidos períodos de tempo, o sonho desfez-se, e não se voltou a ouvir falar de exploração espacial a não ser pelos métodos muito mais razoáveis, mas menos idealistas, de sondas não tripuladas. Inclusive a ficção científica virou-se para dentro, para o planeta e para os problemas humanos. Éramos o filho que, tendo-se aventurado para fora de casa, se deparara com um mundo inóspito e agreste.

Voltar ao espaço terá, assim, de ser um empreendimento de adultos, de uma espécie madura. Já não pelo entusiasmo da descoberta mas pelos passos pequenos, progressivos, seguros, da necessidade. O espaço terá de nos dar o que a Terra não é capaz, e alguém irá ganhar dinheiro com isso. Pode não ser uma atitude nobre, mas a conquista espacial é, acima de tudo, uma conquista financeira.

Existem efectivamente condições únicas no espaço, ou mais especificamente, na imponderabilidade. Certas ligas metálicas só conseguem ser produzidas em ambientes de queda livre, ou determinada cristalização de compostos. É possível que os novos computadores quânticos, cuja capacidade de processamento será amplamente superior à dos computadores actuais, necessitem de ligas supercondutoras e que estas só possam ser fabricadas em órbita. É possível que situações de crise energética levem determinados países com escassez de recursos a montar plataformas em órbita para capturar a luz solar e enviá-la para estações espaciais em feixes concentrados de infra-vermelhos (não obstante os riscos inerentes). É possível que a aviação consiga recorrer a trajectórias balísticas sub-orbitais para reduzir os tempos de viagem e os custos de combustível, habituando assim uma geração ao fenómeno da queda livre e promovendo o turismo espacial.

São processos graduais. Todos derivados de uma necessidade concreta. Mas quando acumulados, irão estabelecer as condições para avançarmos para o espaço. As fábricas construídas em órbita necessitarão de uma tripulação permanente, o que conduzirá ao estabelecimento de condições adequadas de vida para período prolongados no espaço. Nascerão crianças longe da superfície terrestre, constituir-se-ão famílias, comunidades, culturas. O fenómeno humano a acontecer, como sempre na nossa história.

Ignoro se isto surgirá nos próximos 40 anos - é possível que sim. Mas em último caso, será necessário darmos este passo fundamental. O sol não durará para sempre, o nosso planeta é extremamente frágil, como temos visto, e para sobrevivermos daqui a uns milhões de anos teremos de começar, um dia, a tornarmo-nos numa espécie capaz de sobreviver à dureza de ambientes não planetários.

Fica esta pequena/grande curiosidade, impossível de satisfazer: como será a Ficção Científica desses magníficos novos seres humanos?

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16 Julho 2009

Falta Menos De Uma Hora para o fim da infância da Humanidade, há quarenta anos. Encontram-se já em posição e a aguardar a contagem final que os lançará, dentro do prazo governamental (e ainda dizem que a função pública não é capaz de grandes feitos...) para o abraço do destino, há quatro décadas. Os espíritos aguardam ansiosos, há quase meio século.

Hoje podemos seguir esse dia que também é hoje, e os dias que se lhe seguiram e que não voltaram a ser. Temos tecnologia e meios para o simular e devemos aproveitá-la. A história, contudo, já se encontra contada. Ainda assim, vale a pena revisitá-la como se a víssemos pela primeira vez, pois possivelmente é pela primeira vez que a vimos.

Não assisti à transmissão original. Embora já não fosse ideia, ainda estava a caminho da minha alunagem pessoal, da minha entrada neste universo maravilhoso. Nasci deste lado da era espacial da Humanidade, mas fui concebido quando ainda era Ficção Científica. Eis, julgo eu, a mais maravilhosa das dicotomias.

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Ficção Científica e Fantasia em Português