Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


28 Junho 2007

É CADA VEZ MAIS ABISMAL os mecanismos disponíveis a criadores para publicarem a respectiva arte sem o recurso a intermediários dispendiosos e avultados investimentos. Basta ter um pouco de imaginação e algum tempo, e conseguem-se resultados minimamente interessantes. O que verão a seguir é uma pequena apresentação interactiva do Futuro À Janela, que, se estiveram minimamente atentos nos últimos dias, se encontra disponível para leitura, na primeira iniciativa conhecida em Portugal. Divulguem à vontade, se fizerem o favor.

* Ajude a divulgar, incluino esta apresentação no seu blog ou página, mediante a inclusão do seguinte código HTML:

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27 Junho 2007

LER É TAMBÉM UMA FORÇA DE VONTADE, particularmente quando desafiado face a outras ocupações do tempo mais pragmáticas e de resultados evidentes (arrumar a casa, ir às compras, jantar nos sogros, coçar a barriga), e por isso o aspirante a profissional da leitura deverá seguir um conjunto de orientações absolutas e irredimíveis para atingir os seus objectivos, entre as quais:
  • Estabelecer um período do dia para leitura - durante a noite precisa de luz, e depois tem de pagar à EDP, o que torna o livro mais caro (aposto que nunca tinha pensado nisto!),
  • Levar sempre consigo um livro para toda a parte - assim aproveita todos aqueles momentos não planeados na casa-de-banho e à espera da Carris, e, por outro lado, se não tiver tempo para o ginásio, quanto mais volumoso melhor,
  • Fazer uma lista do que pretende ler e outra do que não pretende ler, e mostrar ambas ao amigos, com comentários elogiosos relativamente à primeira e extremamente jocosos sobre a segunda (recomenda-se uma lista de não ler muito extensa);
  • Encontre um lugar sossegado - cemitérios, por exemplo, embora se precisar mesmo de paz absoluta, se recomende os escritórios de um qualquer serviço público nacional após as quatro da tarde, uma vez que nem as almas penadas lá ficam depois do expediente;
  • Reduza o tempo da televisão e da internet, ou se não for mesmo possível, reduza o som, e fique com um olho no ecrã e outro no livro;
  • Leia ao seu filho/a - no longo prazo, é mais instrutivo do que espancá-lo (a sério) (sim, acredite!);
  • Mantenha um registo do que já leu - para não ler o mesmo livro inadvertidamente de novo, pois corre o risco de se lembrar do fim da história enquanto lê, e depois é uma chatice;
  • Procure os alfarrabistas, mas não acredite quando dizem que é uma raridade nem compre Argonautas antigos, de capas quebradas, a mais de 2 euros;
  • Escolha um dia para ir à biblioteca, mas não caia no erro de se casar com ninguém que também a frequente, as pessoas das suas fantasias estarão a bronzear-se na praia;
  • Escolha livros divertidos e entusiasmantes, ao invés daqueles chatos, deprimentes clássicos que lhe fazem pensar na vida - têm é de ter o Mourinho na capa, ou então alguém chamado Bruna ou Viviane;
  • Divirta-te, essencialmente - e se não conseguir, vá para uma esplanada e ria-se de tempos a tempos, bem alto, para que as pessoas não o vejam como um falhado/a que queria na verdade estar a tomar café com uma brasa;
  • Faça um blog - sim, diga-nos a cor das meias que veste hoje, o mundo mal pode esperar;
  • Estabeleça um objectivo inatingível - e depois desculpe-se, como bom português, que o patrão não faz ideia das dificuldades envolvidas;
  • Estabeleça uma hora específica para ler - mas não seja fanático, e se houver confilitos, não deixe de perder o imprescindível episódio da novela ou uma partida de futebol da região com a equipa de Abrunhos-de-Cima, afinal pode sempre ler noutra ocasião...

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23 Junho 2007

ESTÁ CADA VEZ MAIS DIFÍCIL descrever com precisão o futuro próximo. Não admira que o romance histórico ganhe terreno. O presente parece um mundo saido de um romance de tecnofanáticos, ao qual não podemos fugir (mas é um futuro brilhante). Perdoem-me a publicidade inevitável à Microsoft.

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«HOW TICKLED YOU ARE BY ALL OF IT». A descrição do século do que é ser-se fã de FC - fã deste mundo e de todos os mundos a que este abre as portas, fã de todas as possibilidades do ser, fã de todos os futuros e respectivos passados. Jon Stewart nailed it muito bem, na conclusão da entrevista a Greg Bear, no Daily Show de quinta-feira. Uma entrevista com conteúdo e evidente respeito pela condição de autor de FC (e nem se tentou sequer esconder atrás da designação de tecno-thriller). Pensamentos enquanto assistia? De como é reconfortante que exista este tipo de pessoas no mundo: lógicas, claras e desligadas da imaturidade emocional de ter de recorrer a bengalas religiosas para aguentar a incerteza da vida. De quanto está a FC afastada da Fantasia, e ainda bem que. De como ambas foram um sub-produto de uma fase de comercialização no mercado norte-americano, logo expandido para a Europa, mas que nunca estiveram verdadeiramente muito relacionadas. De como a FC poderá, talvez num futuro breve, perder esta designação e assumir a postura de especulação sobre cenários alternativos para prevenção de realidades catastróficas, algo muito mais prático e imediato. Mas enquanto houver autores como o Greg Bear, a FC continuará alive & kicking. Editores portugueses, então? Então, meus senhores?

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DE PASSAGEM POR PORTUGAL, no ano passado, por ocasião do lançamento do livro A Transformação de Martin Lake, da Livros de Areia, Jeff VanderMeer inaugura o seu novo site de autor (com um layout belíssimo e invejável) e aproveita a ocasião para publicar o artigo sobre o fandom europeu que surgiu na revista Locus no início do ano. Eis, como destaque, o que tem a dizer sobre nós:

Take, for example, the Portuguese market for genre fiction, which is tiny-a print run of 1,500 would be average. We were, half jokingly, half seriously, introduced to Portugal’s “SF writers” (João Barreiros and Luís Filipe Silva) and “only Horror writer” (the incomparable David Soares, who also creates graphic novels). Half-jokingly in that these writers represented perhaps the majority of successfully published homegrown Portuguese SF and horror writers (many more are struggling to achieve publication).

In Portugal, the terms “Science Fiction” and “Fantasy” are often seen as a detriment to sales, and the most common result is the attempt to disguise SF/F as something else-and then compare it to Borges, who is wildly popular in Portugal. This is certainly the tact taken with my own collection from Livros de Areia, one of the smaller presses (despite having published Eduardo Galeano, Jerzy Kosinski, and other well-known writers).

Problems of publishing genre in Portugal also include the sudden collapse of the SF/F infrastructure in Portugal about a decade ago and, at least according to some writers I talked to, that only three decades have passed since the overthrow of an authoritarian dictatorship in a military coup (not to mention, an educational system that is still in severe disarray).

This sense of history still impinging on the literature of the present became a recurring theme, especially in places like the Czech Republic, Romania, and Germany. Events like the fall of Communism might seem as if they happened long ago, but it has only been a generation or so, and that’s not long enough for the wounds to have healed or some societies to have completely recovered from the harm done to them.

However, there’s a difference between a lack of institutional support and the full-on passion and effort of individuals, and there are many committed people in the current SF/F scene. In addition to the efforts of Joao Seixas and Pedro Marques from Livros, Luís Corte Real’s commitment to his publishing house Saída de Emergência has resulted in several exciting projects, like the translation of Alan Moore’s novel into Portuguese. Another activist in the scene is the translator and editor Luis Rodrigues, the man largely responsible for the dialogue between Portuguese SF/F and the English-speaking world through his Fantastic Metropolis website and corresponding anthology, Breaking Windows.

Rodrigues bemoans what he calls a vicious cycle: “Everything is done on the cheap, due to the flimsiness of the market and also because most publishers don’t take SF/F seriously enough themselves. So they take the cheapest books and translators they can find (usually translation students or people with no training at all), which only keeps readers from investing in Portuguese genre editions. Things are either done for the love and with some sacrifice, or done poorly, and you can’t reach critical mass with bad books or butchered classics….We have a long, long road ahead of us.”

This may be true, but my perception of the Portuguese SF/F scene was rather less jaded: I saw many pragmatic people working very hard for the fiction they love to read and write.

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22 Junho 2007

ESTOU FAMILIARIZADO COM OS ARGUMENTOS do Nuno, e concordo com todos eles (problemas na promoção do livro, problemas na comunicação do conteúdo, graves problemas na colocação nos espaços de venda - em particular porque já tive a honrosa oportunidade de ver como o mercado americano trata o produto do livro, desde livrarias especializadas às grandes superfícies, e asseguro-vos que é uma experiência completamente distinta); no entanto, enquanto escritor e leitor «profissional», tenho consciência que o maior problema está na afirmação do conteúdo. Ou nas palavras do Nuno (destaque meu): «Se, em Inglaterra ou noutro grande mercado, observamos livros pensados até à exaustão – em especial nos seus aspectos editoriais, onde o texto é trabalhado para potenciar a experiência ao seu leitor (...)»

Sofremos, enquanto cultura, do problema da sacralização da arte, em particular da literatura. Não se trata de uma questão de elitismo; trata-se de considerar que o assunto a abordar na página escrita deverá ser supra-terreno, filosófio, poético; personagens que são meros veículos de opiniões ou posturas, retratos de gerações, neutrais; ou se formos para o outro espectro da questão, dos novos escritores que tentam ser mundanos, encontramos uma banalidade dos assuntos que não é compensada pela destreza da linguagem.

Os que se escapam ao marasmo são, estranhamente, os que conseguem fazer retratos de gentes mais precisos, capturando modos, falas ou ditames com alguma fidelidade. Não é à toa que Lobo Antunes e Agustina e Saramago e Torga e Namora e outros conhecidos se destacaram, mesmo considerando a máquina promocional que gira em torno de alguns. O que diziam era relevante para os leitores de então. O que os novos escritores dizem pouco interessa, ou é abafado pela maior relevância do argumento de autores estrangeiros (que, sendo profissionais, dedicam tempo a maturar os assuntos e a encontrar perspectivas distintas - lição número um dos cursos de escrita criativa).

Onde está o romance que questiona o posicionamento da cultura portuguesa neste planeta, agora e nas décadas vindouras? Onde está o romance que se angustia com o desvanescimento gradual da língua e dos costumes no sufoco da globalização? Onde está o romance que encontre um compromisso razoável entre internacionalização e regionalismo, sem entrar nos medíocres argumentos das nossas abismalmente estúpidas classes de dita direita e dita esquerda? Onde está o romance que consiga entender o que é ser-se português em Portugal no início de um século que promete tudo de bom e tudo de mau na capacidade do Homem em dominar a natureza (sua e a que o rodeia)?

Creio que um romance ou uma série de romances assim perfeitamente assumidos, e sem receios de criticar e de louvar onde devido, seriam mais importantes e contribuiriam mais para o crescimento da indústria livreira que muito do material promocional em torno dos livros editados, ou de capas mais coloridas.

O problema é que para isto não bastam escritores - é preciso também editores que saibam orientar o autor, pedir temas, cortar o que está mau, exigir reescrita do que está fraco, e reconhecer as devidas qualidades. Editores que tratem os autores como animais de jaula, oferecendo o chicote numa mão e o naco de carne na outra, e não como divas do cinema.

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13 Junho 2007

É O FIM DO MUNDO! (English readers, please proceed over here. They're all over the place!)

Este é o primeiro dos meus relatos deste dia terrível. Muito aconteceu desde o início da manhã, e muito irá suceder, estou certo, até ao cair do dia. Estou com cada vez mais dificuldade em aceder à internet e em fazer telefonemas. As comunicações que subsistem estão saturadas. A quem me conhece quero apenas dizer que me encontro bem, por ora. Estou em casa, aqui ainda não chegaram. Novos desenvolvimentos têm sido revelados, a maioria surpreendentes.

Confesso que não relacionei a principio o crescente ruído de buzinadelas e berros com qualquer acontecimento estranho, embora fosse feriado e a cidade estivesse supostamente calma pela manhã. Estava relutante em que qualquer coisa perturbasse o pequeno almoço com os simpáticos alemães, não só por minha causa mas em grande medida pelo meu sócio, que começava a perder noites de sono com a nossa falta de sucesso. Por mim estava quase convencido a abrir o Expresso e voltar à procura de emprego, mas ele deixava-se abalar mais fortemente pelo fracasso, e estava como um homem em mal alto a tentar suster-se à tona a todo o custo, chegando a segurar no braço do alemão mais idoso quando procurou levantar-se da cadeira e perceber o que estavam os restantes clientes do bar a espreitar pela janela. Fiz sinal ao meu sócio para ter calma, mas ele levantou-se, irritado, e foi pedir outro café ao criado. Foi finalmente que me apercebi que há já bastante tempo que o barulho prosseguia, e que inclusive estava a aumentar. E os comentários murmurados de espanto e perplexidade em diversas línguas pelas pessoas que não desgrudavam os olhos da janela impeliu-me finalmente a abrir um espaço junto dos meus potenciais clientes e espreitar para baixo.

O bar panorâmico do Sheraton sempre proporcionou uma perspectiva fabulosa da cidade. Dele consegue ver-se a colina das Amoreiras, o parque Eduardo VII, a rua que vai dar ao Rato, o início da Avenida, o Marquês, e um mar de telhados e estruturas até perder de vista. Poucas são as vias não escondidas pelos edifícios, o que normalmente não interessa porque a vista distrai-se com o nível do horizonte. Não sei se continua aberto, nem qual será a sua nova função na actual conjuntura, visto que se situa em pleno coração do novo bairro, e lhes pertence agora. Foi um sítio, para mim, de distracção, conquista e negócio, e no final, símbolo marcante da transição entre o mundo antigo e o novo. Foi ali que os vi pela primeira vez.

Por sinal, pensei que fossem manifestantes. Ou um golpe publicitário. Ou um evento das Festas da Cidade. Ou apoiantes da Helena Roseta. Ou adeptos do Benfica. Ou tudo junto, produto de agendas mal coordenadas. Mas havia algo de muito estranho. Desciam pelo parque, pelas ruas, de forma incerta e lenta, como se lhes fosse difícil andar. As cabeças pendiam para o lado, a progressão não era a direito. Mas eram muitos, muitos, como um magote de formigas. Viam-se as pessoas a afastarem-se deles, a correr. Entravam pelo asfalto, obrigando os carros a parar, a chocarem uns contra os outros. Vi alguns a serem atropelados. Vi o condutor a sair, de mão na cabeça, e dobrar-se sobre a vítima. Vi então outras destas estranhas aparições cairem sobre o condutor e os braços deste a agitarem-se no ar. Vi pessoas a assistirem à cena petrificados, a gritarem em silêncio na distância. Vi dois jovens a acorrerem de paus nas mãos, batendo nas estranhas aparições, apenas para serem derrubados sob o ataque de mais seres. Apesar de se deslocarem devagar, quando atacavam (porque apenas podia descrever o comportamento como ataque) pareciam ganhar vida e cercavam a vítima. Vi isso acontecer nos dois minutos seguintes a um grupo que subia o parque, a uma rapariga no marquês, aos quiosques de jornais.

A confusão em cada um dos grupos atacantes não deixava ver nada do que estaria a acontecer, embora não indicasse nada de bom. Finalmente, o primeiro grupo desfez-se. Um por um os atacantes iam-se afastando, levando consigo bocados de qualquer coisa que jogavam à boca. Poucos se mantinham ainda junto do condutor caido. Havia manchas no chão e o homem não se movia. Pior, parecia já não estar inteiro.

A incredulidade não me fez relacionar todas as evidências, até que alguém mais expressivo concluiu: Estão a devorá-lo!

Caiu um silêncio na sala.

Isto é a sério?, perguntou o nosso alemão mais novo. O meu sócio, aproveitando a deixa, começou a dizer que devia tratar-se de algum filme ou encenação de rua, e que tínhamos de voltar às negociações. Foi cortado pela chegada do elevador, e de uma senhora britânica extremamente agitada, que correu para os braços de um homem da sua idade.

Vamos sair daqui, depressa! Estão a vir para o hotel!

Foi obviamente a palavra-chave. Os clientes dirigiram-se em uníssono para os elevadores e para as escadas, ante os protestos ligeiros dos criados do hotel e o ataque de frustração do meu sócio. Uma das mulheres mais velhas estava a insistir com os filhos que iam já para o aeroporto e voltar para casa.

O meu telemóvel tocou. Era a Mariana. Estava muito agitada.

- Estás bem? Estás bem? - não conseguia dizer mais nada. - Onde estás?

- Já sabes o que se está a passar?

Queria dizer que sim, mas na verdade não sabia. Não sabia o que era aquilo. Olhei pelas janelas, agora completamente desimpedidas. As ruas estavam pejadas de atacantes, pareciam baratas a emergir de todos os cantos. Não podia ser um mero espectáculo.

- Estamos em guerra?

- Luís, a televisão está a dizer que são mortos. Os mortos regressaram à vida. Estamos a ser atacados por zombies. E é em todo o mundo.

Estão a bater à porta. Espero que seja o meu sócio. Não o voltei a ver desde o êxodo do hotel. Espero voltar em breve com mais detalhes. Entretanto, fiquem a conhecer relatos de outros sobreviventes.

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12 Junho 2007

SOMOS O ESTADO DO KENTUCKY, e o Brasil o de Nova Iorque (parabéns ao Brasil)... Pelo menos não somos o Alabama (embora seja intensamente divertido pensar na Califórnia como sendo substituída pela França...) Confirem aqui.

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11 Junho 2007

A INTERNET DAS COISAS tal como descrita por Bruce Sterling num dos últimos debates nas instalações da Google (uma das vantagens de uma empresa bem cotada na bolsa que trabalha na vanguarda da interacção social por intermédio da tecnologia é que pode dar-se ao luxo de ser cool e convidar - pagando, claro, o processo criativo nos EUA é um negócio, e assim é que deve ser - visionários desta natureza). O conceito da internet das coisas é poder saber, a qualquer momento, onde se encontra fisicamente qualquer objecto, qual a sua situação (integridade física, ambiente, etc) e respectivo ciclo de vida (no caso de fazer parte ou ser um produto) - por intermédio de transmissores inteligentes embutidos que trocam informação com receptores rádio. O que se seguirá? Uma internet de pessoas? Ou será isto um pleonasmo?

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10 Junho 2007

(AINDA UM POUCO DE ARTE, MAS TAMBÉM FC). Mas garanto que se trata de TecnoFantasia: arte que não poderia existir na presente forma sem o recurso à tecnologia, e muito em particular, à informatização globalizada do planeta. Porque só através da tecnologia podemos telefonar para a Islândia, directamente para o coração de um glaciar, e escutar a agonia do seu derretimento. Essa instalação fez-me recordar outra magnífica (porque o edifício em si é magnífico e imponente e feito de metal e ferrugem como a Central Tejo de Lisboa) situada em Montreal, num silo de armazenamento de trigo para descarga de navios, no qual um conjunto de altifalantes e microfones permitem reproduzir no espaço oco sons gravados no computador pessoal e enviados pela internet (ou escutar os milhares de sons enviados pelos curiosos ao longo dos últimos anos): o Silophone - pode escutar o seu eco a 5000 km de distância, e sem sair de sua casa... E para terminar, o link de FC: a entrevista de Roberto de Sousa Causo, eminente autor brasileiro, a Orson Scott Card, pela iniciativa de publicação da saga completa de Ender na Devir Brasil (em Portugal, os dois primeiros volumes encontram-se na editorial Presença).

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ENTENDO QUE SE TRATE de uma questão de definições distintas e de hábitos de leitura diferentes sobre o género. E de certa forma poderei ser alvo de uma sensação semelhante quando finalmente ler o livro. Mas confesso que fiquei algo surpreendido com o comentário do Nuno Galopim (personalidade que tem seguido e acarinhado o género em português desde sempre) sobre A Estrada de McCarthy, no qual afirma categoricamente que o livro "de ficção científica nada tem". McCarthy definitivamente não é reconhecido como fazendo parte do panteão da FC americana, pois à semelhança de Philip Roth trata-se de um autor de mainstream que necessitou de recorrer a instrumentos literários normalmente desenvolvidos no seio do género para passar uma mensagem... (ao contrário de Michael Chambon e David Mitchell, bastante mais próximos e conhecedores da FC, mesmo apesar da sua principal condição de fabulistas de mainstream). Contudo, mais adiante o Nuno refere-se refere ao livro «(...) cuja escrita, simples, mas precisa e eficaz, transpira imagens expressivas, através das quais imaginamos uma caminhada para o fim de tudo. Visões de melancolia cinzenta que convocam memórias de, por exemplo, um Stalker, de Tarkovsky.» Não se trata aqui de demarcar um território em torno da obra, no sentido de ter de apropriar tudo o que pareça ser minimamente especulativo como FC. Mas o mero tema de uma América desolada pela qual pai e filho encetam viagem e na qual a memória perdida do passado deu lugar a um novo, desconhecido e angustiante mapa mitológico sugere-me de imediato imagens fortes de FC, semelhantes a cenas e retratos do filme Os Filhos do Homem (embora não no livro original), do qual também muito se afirmou não conter nada de ficção científica. Creio que é algures entre a certeza daquela afirmação inesperada e o seu respectivo não desenvolvimento que reside a minha curiosidade - a curiosidade de entender o que haverá na obra (e o que poderá haver em obras semelhantes), por um lado, e o que se entende como FC na mente inconsciente, por outro, que efectivamente as separam...

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UMA CAÇADA COM FINAL INESPERADO. As turvas águas do capitalismo num mundo em mudança. Os humildes poderão herdar o reino dos céus mas os resistentes terão hipótese de começar já nesta vida. Um vídeo que muito possivelmente seria censurado pela mentalidade branco-cristã dos estúdios Disney (talvez não nos tempos actuais, porque os não caucasianos detêm finalmente um efectivo e significativo poder de compra nas américas). E sim, os próximos posts voltarão a ser sobre ficção científica...

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VENEZA AFUNDADA. Bem, na verdade é mais para o lado de Grenada, Índias Ocidentais, mas fica a ideia, preconizada por Kim Stanley Robinson na colectânea O Planeta Sobre a Mesa, mais uma das edições relativamente despercebidas do nosso mercado (a história de Veneza finalmente conquistada pelas águas, ao lado da fabulosa hipótese que o Enola Gaye poderia ter lançado o Little Boy ao lado de Hiroshima apenas como aviso e mesmo assim conquistado uma vitória militar). Um conjunto de esculturas subaquáticas do artista Jason Taylor. O mais perturbante é talvez o slideshow da decomposição da estátua deitada, retrato da vida enquanto morte.

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09 Junho 2007

HOOKED ON CLASSICS. Um percurso pelo feminino na arte. Atentem em particular na transição dos olhares.

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06 Junho 2007

UMA EXPLICAÇÃO MUITO RACIONAL para as questões do trans-humanismo (que por vezes transpiram atitudes pseudo-religiosas). E uma resposta saudável ao espanto de perdermos tempo e energias da nossa economia e sociedade a desenvolver melhores cosméticos, embalagens, sitcoms... esta espécie parece merecer a extinção...

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A MINHA CRÓNICA FALTA DE TEMPO para dedicar-me como devia às matérias que interessam na vida (ficção científica, descansar, cinema, descansar, viajar, descansar, etc, descansar) e o prazer de escutar a leitura de textos literários impelem-me a considerar indispensável a existência de audiolivros e de podcasts de índole ficcional (que vou ouvindo no carro ou no emprego ou em casa enquanto desempenho outras tarefas). Ora, na internet a qualidade é substancialmente variada no que toca a criações artísticas, e é mais frequente encontrarem-se obras deficientes ou mesmo más que os autores, por falta de incentivos por parte de editores com bom gosto, disponibilizam no intuito de conquistar uma audiência e provar que o livro em questão, se publicado de forma «oficial», teria um número substancial de vendas - atitude perfeitamente legítima do ponto de vista democrático, mas perturbadora no sentido de provar que a internet pode conter tanta ou mais qualidade, de graça, que os meios tradicionais. Já devem ter adivinhado que vos vou apresentar uma das excepções: Escape Pod, um podcast de emissão regular editado por Steve Eley desde Maio de 2005, cuja qualidade tem melhorado de forma sustentada e que se propôs, recentemente, a divulgar os nomeados em ficção curta para os prémios Hugo deste ano. Um dos mais interessantes, e para o qual vos direcciono desde já, é «Eight Episodes» de Robert Reed, uma noveleta em forma de artigo (podem também lê-la aqui) que nos apresenta o caso particular de uma série televisiva cujo conteúdo aborda a hipótese de chegada de extra-terrestres ao nosso planeta em épocas remotas sem sencionalismos; a construção do texto é particularmente interessante, e Reed tem imenso cuidado em tornar o artigo credível, embora, para mim, tenha sido difícil aceitar a hipótese que explicaria a autoria desconhecida da série (teria sido mais apetecível deixar o mistério intocado, ou apresentar outras hipóteses igualmente válidas como "explicação subtil" do fenómeno, instigando a dúvida no leitor). De qualquer forma, uma pequena obra bem escrita, divertida, especulativa, e possivelmente a primeira vez que consigo chegar ao fim de um texto do Robert Reed - um autor louvado por muitos críticos mas que contém, algures no estilo, uma qualidade que me impede o apreço e dificulta a leitura. Os livros têm destas coisas...

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26 Maio 2007

ONTEM FOI Dia da Toalha e aniversário da estreia da Guerra das Estrelas. Os eventos cruciais para a humanidade que os nossos meios de comunicação ignoram...

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