Conceito de Luís Filipe Silva

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Dan Simmons: Illium e Olympos

Ricardo Loureiro -  Crítica |  16 Out 2006

A segunda parte do díptico, Olympos, é um romance algo diferente na estrutura. Ao invés de capítulos intercalados que seguem cada uma das três linhas narrativas temos secções longas que acompanham a evolução da situação nos variados cenários.

Olympos inicia-se com o funeral de Páris e uma aliança frágil entre troianos e gregos contra os deuses. Menelaus ainda pensa vingar-se na esposa, Hector está demasiado tolhido pelo sofrimento da morte do irmão para fazer seja o que for e Hockenberry assiste impotente à continuada guerra entre os heróis da Ilíada, aliados aos moravecs contra a morada dos Deuses no Olympos Mons.

Confuso? Acredite que isto é só a ponta do icebergue. As coisas ainda vão piorar quando os silenciosos voynix começam a matar indiscriminadamente todos os humanos na Terra, Setebos, o violento e arbitrário deus de Caliban, instala-se na antiga Paris e começa a espalhar a prole pelos locais de sofrimento e dor e o fluxo quântico provocado pelos Deuses começa a atingir níveis alarmantes sendo uma mera questão de dias até que a instabilidade crie uma ruptura de proporções solares. Como um tabuleiro de xadrez chegado ao meio-jogo vemos as peças dispostas e prontas para o final de jogo. Os acontecimentos vão-se sucedendo em catadupa até que a meio do livro entramos numa verdadeira montanha-russa em que aparentemente tudo se conjuga para um final que poderá não ser muito feliz nos termos convencionais.

As questões acumulam-se. Serão os poucos humanos na Terra capazes de inverter o rumo do massacre das voynix? Será Setebos uma verdadeira ameaça? Como lidar com Caliban e a sua mãe, Circe, que habita o anel polar? Conseguirão os moravecs suster o fluxo quântico desordenado a tempo? Qual será a sorte dos heróis da Ilíada? E porque razão Ada conseguiu, por via dum trapo de Turin, ver-se em Tróia a presenciar os momentos finais de Hockenberry? As respostas vão surgindo a conta-gotas e será necessário esperar pelo quarto final do romance para que tudo comece a encaixar como num gigantesco puzzle.

No meu entender a manutenção do suspense foi demasiadamente prolongada e exagerada. Afinal ao fim de 700 páginas penso que o leitor está no direito de ter algumas respostas e no entanto quando estas surgiam já vinham demasiado tarde. Alturas houve em que eu já me tinha apercebido do que se passava há muito quando finalmente uma personagem faz a necessária revelação. Este constante jogo de adivinha pode tornar-se, e torna-se, saturante ao fim de algum tempo.

A juntar a isso penso que as personagens têm um arco de desenvolvimento muito desequilibrado. Se por um lado a transformação de Daeman de rapazito egoísta em líder não deixa de ser muito bem conseguida, já a queda de Harman de pretenso guru em homem cheio de dúvidas existenciais e mais tarde em Pico della Mirandola para os tempos modernos surge um bocado a martelo e apenas porque me parece ser conveniente à narrativa.

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(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

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Autor:
Ricardo Loureiro