Conceito de Luís Filipe Silva

Ficção Científica, Fantástico, Surrealismo, Realismo Mágico, Terror, Horror, Ciberpunk e História Alternativa - e por vezes, se fôr de excelente qualidade, ainda fechamos os olhos a um certo Mainstream...

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O Futuro à Janela: Estudo da Obra e da Ficção Científica Portuguesa Actual

Miguel Valverde Juncal -  Crítica |  23 Mai 2005

5. Aspectos Narrativos na Obra de Luís Filipe Silva

No capítulo anterior destacou-se o experimentalismo em certos aspectos narrativos do livro que vão ser estudados mais detalhadamente neste capítulo.

Há uma série de estruturas narrativas muito diferenciadas entre si. Acha-se uma estrutura dialogada no conto «O Fernando Pessoa Electrónico». É uma conversação entre um estudioso de Pessoa e a representação virtual do poeta. Não há guiões que indicam quem fala, mas o cambio de um tipo normal de letra a itálica quando fala o Pessoa virtual é um recurso utilizado com a intenção de assinalar uma qualidade dessa voz (por exemplo que talvez seja metálica, mas não o podemos saber; é um recurso muito utilizado na ficção científica quando falam computadores e também se usa nas bandas desenhadas).

Em «Os Poetas da Rua» há uma apresentação de 11 homens (não há mulheres). todos eles são seres muito marginais e, a maioria deles, destrutivos psicopatas e assassinos cruéis e desapiedados. Numerados do um ao onze e com o nome de cada personagem como título, o estilo narrativo assemelha-se ao de uma pequena biografia.

Em «La Nausée II», conto passado em Paris nos anos 1999 e 2000, o tratamento do conto como diário é usado com acerto para criar uma atmosfera agonizante em torno do protagonista, o qual sente «saudades» da sua terra (os Estados Unidos).

As estruturas narrativas que precisam mais atenção são as dos contos «Pequenos Prazeres Inconfessáveis» e «Série Convergente». Estes dois contos têm várias similitudes. Primeiro, são as que menos características de ficção científica possuem; segundo, o elemento fantástico surge com força e semelhança nos dois contos (em que aparecem espíritos que tornam à vida e possuem corpos femininos); terceiro e mais importante: a estruturação narrativa. Luís Filipe Silva desmenuça e desordena a estrutura destes dois contos que são os melhores neste sentido

A dificuldade para o leitor reordenar a história torna-se uma tarefa que precisa de muita atenção. Em «Pequenos Prazeres Inconfessáveis» há dois tempos de discurso que convergem finalmente num só discurso final surpreendente. Podemos reordenar estes discursos facilmente neste caso, já que o autor intercala as duas histórias excepto no final. Ademais, numera os dois tempos de discurso de jeito distinto (0a, 0b, 0c... para a narração do passado e 1, 2, 3... para os feitos lineares do outro tempo do discurso). A utilização do «0» para esse outro discurso tem que ver com a agonizante situação de dor e sofrimento por que passa a protagonista.

Em «Série Convergente» a citação que define uma «série» apresenta-nos a estruturação do discurso que pretende seguir o autor. A dificuldade de reorganizar todas as peças de informação sobre a história (que por outro lado não deixa de ser bastante comum excepto no final) é mais complicada que no anterior. Até o princípio do relato é uma descrição da explosão de um edifício em retrocesso, algo muito pouco habitual na narrativa. O final não deixa de ser igualmente surpreendente.

Uma estruturação interessante, esta vez deformada pela localização do personagem é a que se percebe no relato «Criança Entre as Ruínas». Os dois personagens principais são uma criança sobrevivente do ataque nuclear de uma raça alienígena, a qual desconhece o que passou ao seu redor e um soldado português que escapara com outros ao ataque extraterrestre. A limitação de conhecimentos provoca estranheza ao leitor, o qual pode ter dificuldades na compreensão do que relatam.

Nos outros relatos a estruturação narrativa é relativamente normal, excepção feita de «Ala Anima» e também da parte inicial do conto «O Jogo do Gato e do Rato». Neste relato o início descreve uma cena que só mais tarde sabemos que pertence à rodagem de uma película, mas utiliza um estilo de narração próximo ao do suspense. O actor, um detective equino (a raça dominante depois de uma hecatombe nuclear ter destruído a civilização humana) enfrenta um monstro (um homem, ao que eles chamam Su Corro). O autor busca um efeito contundente para introduzir o tema dos mutantes e a comparação e descrição do ser humano mediante o distanciamento.

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(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

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Referências e Textos Relacionados

Autor:
Miguel Valverde Juncal

Textos:
Jorge Candeias fala de O Futuro à Janela, de Luís Filipe Silva
La Nausée II

Na Web:
O Futuro à Janela (Mediabooks)