Conceito de Luís Filipe Silva

Ficção Científica, Fantástico, Surrealismo, Realismo Mágico, Terror, Horror, Ciberpunk e História Alternativa - e por vezes, se fôr de excelente qualidade, ainda fechamos os olhos a um certo Mainstream...

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O Futuro à Janela: Estudo da Obra e da Ficção Científica Portuguesa Actual

Miguel Valverde Juncal -  Crítica |  23 Mai 2005

2. A Ficção Científica: definições

O que é a ficção científica? Existe um comum acordo entre os especialistas sobre a ausência de uma definição satisfatória do que é a ficção científica. Há muitas perspectivas que configuram o género. Vejamos definições tiradas de Barceló (1990):

  • Normad Spinrad disse: «Ficção científica é tudo aquilo que os editores publicam sob a etiqueta de ficção científica». Não deixa de ter razão este autor, mas não pode considerar-se uma definição.
  • Em 1953, o francês Michael Butor reconhece como ficção científica as narrações «em que se fala de viagens interplanetárias», uma definição muito reduccionista.
  • Lester del Rey caracteriza a ficção científica como «um intento de tratar as possibilidades alternativas de forma racional, apresentando-as como entretenimento». Esta definição salienta o carácter lúdico do género.
  • Fora das andanças deste género também houve definições, como a de Kinsley Amis. Para este autor, a ficção científica é «a prosa narrativa que trata uma situação que não pode ocorrer no mundo que conhecemos, mas que se estabelece como uma hipótese baseada nalguma inovação da ciência ou tecnologia [...] de origem terrestre ou extraterrestre». Eu não concordo completamente com esta definição, porque sim pode tratar uma situação no mundo que conhecemos. Só há que recordar a famosa anedota de uma obra de Cleve Cartmill em que as descrições de uma bomba atómica alarmaram o governo dos Estados Unidos pela sua exactitude e precisão.
  • Isaac Asimov: «A ficção científica é o ramo da literatura que trata da resposta humana à mudança ao nível da ciência e a tecnologia». Surge aqui o factor das ciências humanas e as interrelações com os elementos narrativos próprios do género.
  • Outra definição é a de Judith Merril: «Ficção científica é a literatura da imaginação disciplinada». Prescinde da base científica como elemento da definição.

A impossibilidade de definir o género pode ser explicado pelo feito de que este é um género em continuo processo de mudança das bases nas quais se sustenta. Nas narrações de ficção científica tenta-se responder à pergunta que sucederia se...?, isto é, à resolução de uma especulação imaginativa em que se analisam as consequências de uma hipótese extraordinária. Então, os elementos essenciais da ficção científica estão numa mirada de estranheza literária à vez cognoscitiva (com a intenção de apreender) e criadora; essa estranheza é o marco formal do género.

 

3. Breve História da Ficção Científica Portuguesa

A maior parte das obras de ficção científica situam-se sobretudo nos Estados Unidos, Rússia, os antigos países do leste próximos à Rússia, França, Grã Bretanha e Japão. Não vou aprofundar as características sociais, económicas e políticas depois da Segunda Guerra Mundial que tornaram possível a sua criação, mas é certa a afirmação de que este foi um género quase exclusivo nesses países durante muito tempo.

Portugal experimentou recentemente neste género, mas o êxito conseguido foi e continua a ser relativamente escasso. Em 1895 publica-se uma obra que inicia a etapa de proto-ficção científica portuguesa (antes da criação do nome do género em 1926): O Que Há-de Ser o Mundo no ano Três Mil, de Pedro Jose Supicco de Moraes (com a sua visão de uma sociedade futura). Este romance não tem seguidores até finais dos anos 30 em que se publica A.D. 2230, de Amilcar de Mascarenhas. É uma obra comprometida politicamente com o Estado Novo surgido em Portugal e tem características do género.

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(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

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Referências e Textos Relacionados

Autor:
Miguel Valverde Juncal

Textos:
Jorge Candeias fala de O Futuro à Janela, de Luís Filipe Silva
La Nausée II

Na Web:
O Futuro à Janela (Mediabooks)