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Miguel Valverde Juncal - Crítica | 23 Mai 2005
O texto a seguir apresentado foi-me enviado no início da década por um, então, estudante galego de filologia galega que escolhera o meu Futuro à Janela como base de estudo para um trabalho sobre Literatura Portuguesa. Tendo-me encontrado na internet, o autor teve a amabilidade de enviar-me uma cópia e eu a oportunidade de lhe agradecer profusamente. Vicissitudes do mundo virtual (perdas de informação, emails, entre outros) levaram a que perdesse o contacto e, acima de tudo, a possibilidade de lhe pedir permissão para publicar este texto - advirto para a possibilidade de esta não ser a versão que o autor gostasse de ver levada a público (Miguel, se estiver a ler estas palavras, peço que entre em contacto comigo). Considerei no entanto importante partilhar este trabalho que há muito residia nos arquivos do meu computador, numa época em que volta ao debate a necessidade de estudos sobre a ficção científica portuguesa - sendo que são ainda mais raros os efectuados por estrangeiros (e quando o foco da análise é um livro em particular, pode afirmar-se que é quase um caso único) -, e muito particularmente pela coincidência de existir uma análise tão detalhada sobre um autor e livro portugueses feita por uma pessoa da Galiza num momento em que decorrem os preparativos para a primeira IberCon de Ficção Científica, e que justamente decorrerá em Vigo. (Luís Filipe Silva, Maio 2005)
1. Introdução
O objectivo do trabalho sobre O Futuro à Janela é o de caracterizar uma obra actual portuguesa de ficção científica. Mas, tratando-se de um género muito pouco estudado e desenvolvido, o trabalho precisa, não apenas de uma perspectiva tão clássica de estudo de uma obra, mas de uma caracterização geral da ficção científica, sobretudo em Portugal. Essa é a razão que me levou a estruturar e ampliar este estudo noutros aspectos.
O trabalho vai primeiro passar pela polémica da ficção científica como género. Tentarei oferecer uma série de definições que se foram construindo ao longo da história do género, as dificuldades e carências que essas definições apresentam, etc.
Também tratarei a história da ficção científica na literatura portuguesa de maneira sintética. Pretendo mostrar a trajectória deste género para enquadrar a obra sobre a que vou trabalhar. Neste apartado situarei o autor do livro de contos Luís Filipe Silva, já que tem uma importância relativa na construção da ficção científica na literatura portuguesa.
Como se há comprovar no trabalho, a ficção científica, praticamente alheio à literatura portuguesa, é um género muito peculiar. É, sobretudo, uma ânsia do ser humano por despregar a sua imaginação de jeito disciplinado e coerente com as leis que os cientistas vêem descobrindo nos últimos séculos. Uma espécie de realidade factível (não se pode utilizar a palavra futurível, já que a ficção científica desvirtua todos os eixos espaço-temporais neste e noutros universos) resultado de uma criação que mostre a mistura proporcional de estranheza e conhecimento.
A obra de Luís Filipe Silva, O Futuro à Janela, é um conjunto de contos com muitos temas e motivos enquadrados no género da ficção científica, os quais devem ser estudados com atenção. Apesar de não ser esta uma obra representativa da literatura de ficção científica do autor (como comprovaremos no estudo da obra), a multiplicidade de tendências sobre o género vão servir ao trabalho como um marco de delimitação da própria ficção científica.
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Autor:
Miguel Valverde Juncal
Textos:
Jorge Candeias fala de O Futuro à Janela, de Luís Filipe Silva
La Nausée II