Acto II
Chegada de Ford ao porto sul do Enclave Falstaff. O lorde espera-o com toda a pompa e circunstância, rodeando-se de palmeiras em chamas, todas as espécies animais de grande porte do senhorio, e centenas de súbditos a ostentar víveres. O propósito não é só fazer espectáculo, é também humilhar os convidados com a riqueza ostentada. E tem efeito em Ford, que não consegue tirar os olhos da riqueza que conseguiria salvar o seu povo. É uma espada de dois gumes. Falstaff condu-lo para terra e começa logo a urdir a teia: de como os dois enclaves deviam estar unidos, de como seriam mais fortes do que o eram agora. Ford contrapõe, dizendo que pelas evidências, Falstaff estava a safar-se muito bem e não parecia precisar dele para nada - o que lhe pode oferecer um pequeno burgo em decadência? Promessa do futuro, contrapõe Falstaff, que é onde o seu olhar se situa. Explica então que Martinica é rica em recursos, mas Ford, com a limitação actual do seu património genético, precisará de anos antes que a ecologia do enclave se adapte às condições brutais da ilha; Falstaff, pelo contrário, é dono de uma riqueza genética em constante alteração, como ele próprio é exemplo, e pode acelerar o processo - basta para isso uma fusão dos ADN's base e dos respectivos territórios. Ford responde que requer tempo para pensar, sabendo bem que uma fusão como a proposta eliminaria para sempre os traços próprios da ecologia única de Martinica. Falstaff aproveita então para informar que o enclave de Page também se encontra interessado, qual surgira na ilha naquela ocasião de espontânea vontade, quem sabe se para apresentar uma contra-oferta?... É uma mulher forte, comenta Falstaff quase distraidamente, e pela força se controla um senhorio, talvez isso fosse bom para os seus planos; contudo, M Page, na sua opinião, é falsa e dissimulada, aparentando ser um anjo mas revelando-se demónio.
Ford diz que precisa de conferir com a filha.
* * *
Anna foi, entretanto, conduzida para os respectivos aposentos por Pistol, que esvoaça constantemente em torno dela, elogiando a sua beleza e propondo uma união física rápida a ser consumada sem demoras. Anna sente repulsa, mas considerando que pode retirar informações da criatura, começa a brincar com ela, e admite-a no quarto, insinuando que esta obterá o que pretende se voluntariar informação sobre as verdadeiras intenções do mestre. Pistol responde à brincadeira, e deixa entender que apenas as perguntas bem formuladas terão respostas sinceras.
Começa então uma troca de ditos, em que Anna formula pergunta atrás de pergunta («Sta in gran agitazione d'amor per papa?») e Pistol lhe indica que anda longe do fulcro, até que Anna começa a dizer, Não tem a ver com o Pai, e ele diz, «Mais quente», Tem a ver comigo, «Muito mais quente», Esperam que influencie a decisão, «Mais quente ainda», Posso afastá-lo, «Mais frio», Vão convencer-me a mim, «Que gelo!», Vão calar-me, «Será calor que se avizinha?», Vão usar-me como arma, «Que quentinho!», O meu silêncio é a minha arma, «É verão!», Vão afastar-me dele, «Tropical!», Vão matar-me!...
E dito isto Pistol enfuna as asas e pergunta-lhe se a ignorância não é mais bela que o conhecimento. Lança-se sobre ela, rasgando-lhe a carne e violando-a, numa orgia de sangue que mancha todo o quarto.
No fim, saciado, apronta cuidadosamente os indícios que incriminarão Page, admira «Que ardiloso é o mestre!», e sai de cena.
* * *
Falstaff e Ford acabam a volta pelo senhorio. Falstaff diz que no outro dia se reunirá com Page e que Ford será bem-vindo se quiser juntar-se a eles. Este, constantemente preocupado com a filha, não consegue pensar em mais nada. Falstaff envia Bardolf à procura dela enquanto abre o jogo perante o regente: que se Martinica não quiser aceitar, será obrigado a avançar com a proposta de Page, o que não lhe agrada. Ford não sabe o que responder, pois desconfia de todos naquele momento. Eis que a tragédia se abate, quando Bardolf regressa numa grande agitação, portador de notícias funestas. Correm para o quarto, onde Ford descobre o corpo da filha. Chora a sua perda, e Falstaff tenta consolá-lo, dizendo que não descansará enquanto não encontrar o culpado. Ford depara-se então com um objecto caído, ostentando o distico da casa de Page. Falstaff mostra-se indignado e oferece-se para expulsar de imediato o outro grupo de Hispaniola e ajudar Ford na vingança. Ford afirma que não quer tirar conclusões sem mais evidências. Falstaff elogia o raciocínio claro num momento de grande dor e oferece-lhe a sua ajuda, que Ford não vê forma de recusar. Deixam-no a sós com a filha morta, para quem canta a sua mágoa e a sua dúvida sobre o que é verdade ou mentira. Sente que naquele momento já se encontra a perder. Mas o sinal da casa de Page sobre o corpo da rapariga dão-lhe uma ideia.
Page estava a dormir quando Lesta a acorda, dizendo que Ford pretende falar com ela. Ford entra e conta o que ocorreu -Page nega veementemente ter tido mão no sucedido e diz estar a ser incriminada, Falstaff pretende colocá-los um contra o outro. Page pede a Lesta para de imediato ir vasculhar o quarto de Anna com mais cuidado e procurar incriminações contra Falstaff. Com isto, Ford terá legitimidade em erguer um feudo contra o lorde Fanfarrão, podendo contar com o apoio de tantos outros enclaves, que o detestam. Mas que deverão esperar até se fazer manhã e Lesta regressar.
* * *
Na cena seguinte, Falstaff junta-se a Ford no Salão Nobre, mostrando-se preocupado com o estado de saúde do convidado. Ford mostra-se cordial, mas frio e distante. Entra Page, a quem Falstaff se refere discretamente como a falsa. E diz-lhe: minha senhora, lamento informar que terá ocorrido um grave incidente na noite passada. Page revela que já sabe de tudo e responde furiosamente que não vai admitir ser acusada de algo que não cometeu. Para provar, apresenta Lesta, que terá inspeccionado o quarto e descoberto instrumentos espiões e as respectivas memórias. Falstaff não sente necessidade de explicar os instrumentos - pois qualquer um os teria - mas mostra-se desiludido pela atitude de Ford, que se mostrou um fraco ao colocar-se do lado do inimigo, e afirma que quer ver essas evidências, pois punirá quem do seu pessoal tenha agido contra suas ordens.
Os instrumentos mostram o sucedido, e inclusivamente a colocação do objecto incriminador, perante um pai angustiado que chama monstro a Falstaff, mais demoníaco que os seus demónios. Este, de postura fria, pergunta-lhe se sabe de onde vem a espécie dos demónios, e perante a ignorância de Ford, Falstaff pede a Pistol que lhe mostre. Este começa num incantamento profundo, e Lesta começa a tremer. Subitamente, surge os contornos de um demónio, por debaixo da pele dela, da mesma raça que Pistol e em tudo semelhante a este.
Ford berra e diz que começa a enlouquecer. Quem é amigo, quem é inimigo? Afasta-se de Falstaff e de Page e proclama que vai voltar para Martinica, mas que a filha não ficará por vingar.