Conceito de Luís Filipe Silva

Ficção Científica, Fantástico, Surrealismo, Realismo Mágico, Terror, Horror, Ciberpunk e História Alternativa - e por vezes, se fôr de excelente qualidade, ainda fechamos os olhos a um certo Mainstream...

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Conto

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~ A Ponte dos Dois Corações ~

O dia amanheceu a ameaçar chuva. Ao longe ouviam-se furiosos trovões, prenúncio de que em breve chegaria à aldeia uma tempestade. Encontraram-se no meio da ponte expostos aos olhares de quem a essa hora já andava na rua. Alheios ao que os rodeava, abraçaram-se corajosamente e trocaram um longo beijo revelador. Nesse preciso momento, um raio abate-se sobre a ponte, seguido do ribombar assustador do trovão.

Ninguém se apercebeu de imediato das terríveis consequências daquele fortíssimo raio. Assustados pela violência da tempestade que desabou subitamente sobre os dois lugares, todos ficaram por instantes imobilizados pelo receio de serem surpreendidos pela trovoada.

Passada a surpresa, todos os olhares se viraram para a ponte onde, segundos antes, os dois corajosos namorados se beijavam, enfrentando tudo e todos. Mas não viram ninguém. Apenas uma nuvem de fumo que se soltava da ponte, desaparecendo lentamente no ar.

Das duas margens foram muitos os que acorreram à ponte, tentando descobrir o que sucedera aos dois jovens. Mas nada encontraram. Apenas dois pequenos montes de cinzas que, como por magia, pareciam formar dois corações entrelaçados no empedrado.

O infortúnio dos dois jovens deixou em estado de choque as duas povoações. Num acto de revolta quiseram deitar abaixo a velha e inocente ponte, única cúmplice e eterna testemunha de um amor vivido em segredo. Mas os pais deles não deixaram. Unidos pela tristeza, quiseram deixá-la de pé para lembrar a todos os habitantes daqueles dois lugares o resultado da insensatez dos homens e o elevado preço pago por dois seres inocentes.

Fizeram-se as pazes mas a alegria nunca mais voltou àquele local. Sempre que olhavam para o rio todos se lembravam dos dois jovens fulminados por um raio implacável. Foi sendo cada vez mais difícil viver ali e, com o tempo, os lugares nas duas margens foram ficando desertos.

Hoje já ninguém mora por lá. Das duas aldeias restam escassas ruínas, mantendo-se apenas de pé a velha ponte sobre um ribeiro quase seco. Mas segundo consta, e há quem assegure já ter visto, todos os dias à mesma hora, o sol fura por entre as nuvens, mesmo sob temporal e no lajeado frio da ponte ficam desenhados por breves instantes dois corações de luz, entrelaçados.

Precisamente à hora em que um raio fulminou os dois jovens, unindo as suas existências para toda a eternidade.

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Autor:
Ana Cristina Luz