Catarina estava pendurada na árvore, com os cabelos louros empoleirados por folhas e restos de carvalho, o sol estava em todo o lado. Água escorria ao fundo, num riacho doce, havia calor e frescura nas ervas. O seu vestido era negro, onde cerejas vermelhas realçavam os folhos brancos. Os últimos desejos utópicos de uma inocência escassa tinham ficado por ali. Havia alguém ao fundo, que a devia ouvir: «Diz à Catiuska que se não for hoje, que nunca mais seja!» - Catarina brincava com os dedos dos pés gostando de sensações campestres. O cheiro da terra voava no desenvolver do espaço. As ranhuras da casca do carvalho forte rolavam nos seus dedinhos belos. Catiuska era pseudo-feiticeira, fazia magia nos dias em que os instrumentos caríssimos comprados em lojas de excêntricos, não falhavam. Harpas escondidas nos dias de Inverno em caves sombrias, pífaros soltos em fins de tardes quentes; por vezes até queria os cabelos de Catarina para provar a suposta existência de gnomos.
Dos campos vinham as sombras, como fantoches alados. Por detrás da negrura nas colinas espreitavam faixas de luz, agora lunar, como fatias de uma tarte obscena aos olhos dos castos.
Domando, o bárbaro das couves galegas, o temerário usurpador das mentes beatas, o deboche materializado no legume por ali se arrastava e eram para ele as palavras em alta voz de Catarina. Estava ao fundo, com um tridente empunhado com esmero.
O dito tridente era de alumínio feito de restos de um escadote, símbolo rudimentar do furar dos céus, com cores diabólicas. O urbano-selvagem calçava uns ténis e corria pela encosta fora. Catarina mantinha o tal vestido escasso, mas segundo consta era da Mango. Catiuska é que tinha a infeliz mania de se achar transcendente na indumentária, usava vestes índias e soutiens de lantejoulas, relembrando Mata-Hari no auge dos seus chiba days.
Domando, o fornicador, surge-nos como um instrumento sexual provinciano, quase com características de tractor a diesel. O terrorista era sobejamente conhecido como objecto de estudo de Catiuska que facilitava as experiências orgânicas.
Catarina possuía uma ingenuidade infantil receitada em doses regulares, complementava a existência com uma ignorância de fachada, sendo o resultado quase escandaloso, dada a promiscuidade latente numa mente encorpada de forma perfeita e sorria quase sempre. Os cabelos estavam moderadamente fartos na alegria de um castanho suave, ondulados como uma grande salada de frutas. O corpo longo em pontos fortes, a confiança ganha pela inocência de ser.
Os três elementos díspares pareciam ainda assim parte de um só quadro.
O exotismo planificado era tão só disfarce rasca de uma orgia. Domando o submisso, Catiuska a dominadora e Catarina o elemento de conexão, fetiche integrante de ambos.
O cenário campestre era o ideal para suprimir as dificuldades de Domando no que diz respeito ás suas performances. Ao sentir-se junto da natureza, o jovem macho perdia a timidez e era um verdadeiro motor em plena combustão. Daí que todos os fins de semana, Catarina a estudante de arquitectura, Catiuska a psicóloga e Domando, mecânico de profissão, se juntassem numa esquina da cidade para rumarem á província, onde os medos de si eram ultrapassados com actuações regulares dos eus libertados dos egos demagógicos. Os corpos despidos e a insanidade sublimada, acompanhados de uma ternura preversa, suprimiam as tensões efervescentes; uma clara vontade de amor, um domínio infímo do redor, o saber que um dia mais tarde se naquele momento não fosse, nunca mais o seria fazia o resto.