Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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29 Setembro 2024

Muito se fala sobre o contar de histórias. Que é uma arte. Que só alguns conseguem. Que foi assim que a literatura começou, a contar histórias à noite, em redor da fogueira. O que é estranho, porque não é depois o que se vangloria na dita alta literatura. Os nobeis não são page-turners. O Saramago não era famoso pelos episódios de suspense. Borges não tem uma merecida fama pelos enredos surpreendentes. Estes fazem reflexões, retratos de época. Coisas que nunca se dirão do Martin, por muito que este convide à reflexão e seja obrigado a descrever um mundo e uma época inventados. Nele, a história prevalece, e ofusca tudo o resto. Dizemos isto à boca cheia, sem pensar muito no assunto. Não faz tudo parte afinal da história? O que distingue uma coisa da outra? A história usa verbos, a reflexão advérbios? Uma tem mais diálogos, a outra mais parágrafos? O passar do tempo vai contra o momento de pausa? Uma vende, a outra nem por isso? Uma coisa é certa: há um truque. É preciso saber fazer. Pessoa nunca contou uma história decente. As livrarias e o youtube estão cheios de ensinamentos sobre estruturas e abordagens. A jornada do herói, os 7 passos, os 11 passos. Protagonista, antagonista, avançar, recuar. Boy gets the girl. Girl get the job (at Prada). Dito assim, convida ao bocejo. E contudo, as histórias movimentam multidões e estas milhões. Procuramos ainda hoje as fogueiras. E - pasme-se! - nem sempre é para assistir ao próximo auto-de-fé virtual.

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01 Setembro 2024

Temos esta mania de marcar recorrências no calendário, pois não há maior angústia que a de não se poder regressar ao onde por onde passámos, não obstante o facto de existirmos num universo que isso nos nega categoricamente (pois avançamos em torno do sol que avança em torno do centro galáctico que avança por esse vácuo fora, e até o próprio vácuo se expande - e daqui, a constatação de que aquele local, aquela coordenada, nos escorre pelos dedos como todos os segundos de todas as horas). Mas é desta mania que se aviva a memória e se criam (artificiais) linhas narrativas entre o que fomos (e deixámos de ser) e o que (um dia) seremos. O último dia de Agosto assinala aparentemente esta espécie em extinção que se chama weblog, que em portuga se pode verter em ruminações verborreicas, talvez não tão nutritivas quanto outras ruminações mas sem dúvida mais sadias do que as chispalhadas das redes sociais. E como há que saudar estas discretas celebrações, segue aqui o nosso erguer de champanhe, de um blogue (termo aportugamentacizado) que entretanto se tornou (suspeitamos) um serviço de inutilidade social, a quem ainda por aqui resiste:

Um viva a outros que teimam ainda, e um aguardar pelas prometidas novidades.

Outro viva a quem fazia falta e discretamente regressou, com a sua visão indispensável.

Um terceiro brinde a quem não desanimou, demonstrando a potencialidade desta plataforma para perpetuar o formato crónica, outrora imprescindível nos jornais (e tanto que estes perderam).

Um quarto louvor às notícias além-Atlântico, outro dos blogues imprescindíveis do nosso burgo.

Entrámos em passo de corrida acelerado no decair de mais um verão, que será em breve o final de mais um ano. Ao envelhecermos, o tempo acelera, ora bem. Os presentes ventos frescos não querem obedecer aos ditames do aquecimento global (estará avariado? Ou será pela falta de garantia que nos livraremos de um infernal destino?). No Porto, apregoam-se livros, ide comprá-los. Por aqui, uma chamada ao filme Furiosa, que muitos detestaram (sinal de que levam demasiado a sério o que, já na sua época, tinha ar de adaptação de banda desenhada pós-apocalíptica, sem paradoxalmente esta existir). Porque ia à cautela (e ir à cautela não é a mais saudável saudação a uma obra de arte), entranhou-se-me à força, e porque se me entranhou à força, criou respeito. Foi um regressar ao Mad Max 3, no sentido em que a história está muito consciente da sua própria mitologia, a que anteriormente criara (cada filme tem uma abordagem narrativa distinta, o que torna esta saga muito apelativa para a análise crítica), e portanto, permite-se exagerar, simplificar, distorcer, contradizer, escudar-se da perfeição - e sendo uma história-de-origem, evitar um final em absoluto. Afinal, nunca se entendeu porque é a gasolina mais procurada do que a água, em paisagem ermas.

E por falar nestas, fiquemo-nos com visões de outras, que possivelmente jamais habitaremos, embora a FC continue a crer que sim (esta iludida Humanidade!), não esquecendo que também aqui é domingo, quinze minutos no passado.

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