Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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29 Outubro 2010

Se Não Sabiam, ficam a saber.

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16 Outubro 2010

Lembro-me De Notar, Uma Noite, num bar, um casal muito jovem que conversava na mesa ao lado. Era a primeira saída em conjunto, ou uma das primeiras, pela distância respeitável entre os dois e pelo alheamento completo ao que os rodeava. Duas pessoas em busca daquele momento de contacto único que é tão igualmente sólido e efémero. Não me teriam chamado a atenção nem ficado na memória se não fosse a particular situação da conversa. Estavam demasiado longe para perceber o que diziam, mas o rapaz conversava animadamente, e ela ouvia. O rapaz gesticulava e olhava para além dela, imerso nos pensamentos, e ela anuia com um ligeiro movimento da cabeça, bonita e delicada; o cabelo comprido, muito direito, mal se mexia, e assentava a cara na mão direita. Os olhos não o largavam. Não falava, apenas ouvia. O rapaz, por sua vez, mostrava-se convicto, ainda que não mostrasse emoção. Não seriam, assim, palavras de confissão de um episódio da sua vida ou de pensamentos privados, mas um manifestar de opiniões. Opiniões que não pareciam dizer muito à rapariga, pois não reagia a elas, apenas a ele; queria mostrar-se atenta, queria agradar-lhe, queria que ele a visse. Gostava dele. Um homem não precisa de sair muitas vezes com raparigas para ficar a conhecer os sinais de quando se sentem enfadadas, bem como todos os truques com que, mais ou menos respeitosamente, tentam escondê-lo. Aquele rapaz, aparentemente, ainda não tinha percebido isso. Ali estava, despejando o íntimo, que não seria mais original que o íntimo das outras pessoas do bar e do resto do mundo - pensando, talvez, que estava a mostrar-se eloquente ou inteligente ou interessante, e que assim impressionaria a miúda - sem abrir os olhos e descobrir que não precisava de dizer nada, que lhe ficaria melhor dizer banalidades ou fazer comentários sobre a sua beleza ou sobre a magia do momento, talvez tocar-lhe na mão. Sem perceber a oferta que lhe estava a ser dada, por que era uma oferta de silêncio. Ela não sabia, naquele momento, mostrar-lho de outra forma, e ele não era capaz de perceber. Corriam o risco de terminar o encontro em embaraço e desilusão, havendo uma tão grande oportunidade de se encontrarem. Seria tão simples. Bastava apenas, a ele, calar-se, e a ela, dizer o que sentia.

A idade ajuda-nos a perceber que, nestas coisas de paixões, subjacente a qualquer discussão, a qualquer troca animada de opiniões, existe o interesse. Ninguém é abandonado ou fica só, que não venha a perceber que o debate é um sinal de amor. É um sinal de vida. É uma evidência de que há motivos para continuar. No fim o que nos mata é a apatia.

Lembrei-me deste episódio no seguimento deste desabafo. A autora é responsável editorial de uma das editoras que mais tem apostado no género e há muitos anos que ajuda a organizar o Fórum Fantástico - ambas as funções a levam a contactar com o que de bom e de mau há no fandom. Entendo a frustração (por que de frustração se trata) por que entendo o percurso emocional que traçou. Entendo o estado de espírito por que já o senti. Já ali estive, e ocasionalmente ali retorno. Participar neste meio é estar preparado para embater contra dificuldades e posturas adversas. E acima de tudo, salvaguardar expectativas.

Mas, ao contrário de sentir desânimo pelo acontecimento descrito, senti contentamento. Não pelo sucedido, mas pela discussão gerada. A Safaa é uma geração mais nova do que eu, e outros que se manifestaram nos comentários talvez sejam ainda mais novos. Entre indignações e galhardetes e inevitáveis ataques pessoais, todos se sentiram pertencentes ao meio, e por isso atingidos. Só este género literário desperta tais paixões. Só este género continua a despertá-las. O meu género, o género que escolhi, ou que me escolheu. Enquanto isto acontecer, vale a pena defendê-lo, não estará morto. A plateia pode ter estado vazia naquela tarde, mas cá fora os fãs ainda aguardam.

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