Conceito de Luís Filipe Silva

Ficção Científica, Fantástico, Surrealismo, Realismo Mágico, Terror, Horror, Ciberpunk e História Alternativa - e por vezes, se fôr de excelente qualidade, ainda fechamos os olhos a um certo Mainstream...

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Lançamentos |  04 Mai 2011
Batalha, de David Soares
É já no sábado, dia 7, que o próximo romance de David Soares, Batalha, ficará disponível aos leitores portugueses. É-nos descrito como «uma história em que os animais são protagonistas. Passado no início do século XV, Batalha é um romance sombrio, filosófico e comovente, que observa o fenómeno religioso do ponto de vista dos animais e especula sobre o que significa ser-se humano. Batalha, a ratazana, procura por sentido, numa viagem arrojada que a levará até ao local de construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, o derradeiro projecto do mestre arquitecto Afonso Domingues. Entre o romance fantástico e a alegoria hermética, Batalha cruza, com sensibilidade e sofisticação, o encantamento das fábulas com o estilo negro do autor.» Soares tem contribuido progressivamente para a efabulação da cidade de Lisboa - e por conseguinte, para a efabulação da nossa memória enquanto povo - com A Conspiração dos Antepassados e Lisboa Triunfante, desenvolvendo um território de Fantasia muito próprio. Quem o leu, diz que este é o seu melhor livro. Cá por casa, aguardamos ansiosamente pelo lançamento na Feira do Livro de Lisboa, sábado, 7, pelas 17h, com a presença do autor e do ilustrador da obra, Daniel Silvestre da Silva. Edição da Saída de Emergência. Fiquem-se com o excerto: «Ocultando-se dos olhares dos indivíduos, foi admirando a disposição das casas e dos objectos e achou que aquele sítio não era diferente da quinta. A multiplicidade de cheiros era estonteante, mas uma azeda fragrância cerealífera, que permeava tudo, era o dominante, secundada por um desagradável odor metálico. (...) Quasi-reptante, e resguardado pelas sombras das paredes de pedra das casas, Batalha também sentiu cheiros felinos, mas não viu gatos nenhuns; então, no centro da aldeia, viu dois homens pendurados pelos pescoços, por gramalheiras, num pelourinho de pedra plutónica. As faces escoriadas pela erosão cadaverina deixavam-lhes os ossos à mostra; e os seus dentes arreganhados e alcalinos, que lhes emprestavam ares de animais granívoros, pareciam feitos do mesmo granito do pilar pendulifloro. Havia um terceiro homem, ao pé deles, mas suspenso pelo tórax e ainda vivo. Era este que meia-dúzia de gente insultava e atirava vegetais apodrecidos, num efusivo avesso de aclamação; os outros balouçavam com boçalidade, só com as moscas como companhia. (...) A somar àquilo que Batalha já aprendera sobre a morte, vinha o conhecimento de que ela era vaidosa e exigia jóias novas a todas as horas: ouropéis ossiculares, pingentes de polpa, medalhões morbíficos, cadáveres cristalóides — peças preciosas para estimular emulação nos espectadores das execuções: o seu público preferido — os seus idólatras impecáveis e incansáveis. E, no entanto, no meio da morte, a vida também vicejava: bebés riam nos colos das mães, os pássaros cantavam nos telhados das casas e os insectos zumbiam, num zunzum bem-humorado, enquanto sugavam os sucos naturais das flores, frutos e falecidos.»

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